Scott Hamilton - Divulgação
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Por Scott Hamilton*
Tenho a sorte de ser cônsul geral dos EUA nessa extraordinária cidade que é o Rio de Janeiro. Já trabalhei no Equador, Colômbia, Cuba, Rússia, África do Sul e Botswana. Essas experiências exigiram de mim uma discrição considerável. Diplomatas são, algumas vezes, observadores e, outras, protagonistas. Mas frequentemente somos restringidos pela natureza da nossa profissão, que raramente busca os holofotes. Assim, na minha carreira, recorri à fotografia para me ajudar a dizer, através de imagens, o que pode ser mais difícil de dizer com palavras. Afinal, uma imagem forte não requer explicação. As melhores imagens, na minha opinião, são aquelas que despertam emoções em quem as vê. Elas devem ser comoventes, desafiadoras ou questionadoras. Elas devem nos forçar a pensar. Então, como podemos, todos nós, fazer declarações usando a fotografia - declarações que durem muito mais do que quem as criou?

Alguns dos maiores fotógrafos da nossa história compartilham suas visões conosco, e nós podemos aprender com eles. Um dos melhores de todos os tempos é, claro, o brasileiro Sebastião Salgado. Ele captura a dignidade essencial dos seres humanos, especialmente daqueles marginalizados por não pertencerem à elite da sociedade. Suas imagens lhes oferecem uma voz que eles não teriam de outra maneira. E essa voz fala alto com aqueles que estão no poder, forçando-os a ver, escutar e, espera-se, a agir.

Outro fotógrafo impressionante com uma visão parecida é o americano Peter Turnley. Adoro o trabalho do Peter, pois ele encontra formas de mostrar que pessoas comuns fazendo coisas comuns são dignas e virtuosas, merecedoras de respeito de seus concidadãos. Seu trabalho mais recente em Nova Iorque e Paris durante a pandemia da Covid-19 é muito comovente: mostra como pessoas comuns são os verdadeiros heróis nesse momento da nossa história.

Tanto Salgado como Turnley tiveram sucesso pois sabem o que querem realizar: permitir que quem não tem poder fale por meio de imagens. Salgado e Turnley são muito mais do que observadores capturando momentos no tempo. Pela forma como posicionam o sujeito, escolhem a luz e se esforçam para ver além da imagem superficial e alcançar o coração e a alma dos sujeitos nas imagens, eles permitem que as pessoas retratadas assumam papeis mais relevantes em suas sociedades do que seria possível de qualquer outra maneira.

Esse é, portanto, meu conselho aos leitores. Quer você tenha um celular ou uma câmera cara, pense no seu objetivo ao tirar fotos. Quem você busca retratar e qual mensagem quer transmitir? Dar voz àqueles que têm menos poder é apenas um dos possíveis propósitos, mas na sociedade atual eu acredito que esse é, talvez, o mais valioso. Feliz Dia Mundial da Fotografia!

*Scott Hamilton é Cônsul Geral dos Estados Unidos no Rio de Janeiro