Publicado 09/09/2020 03:00
A pandemia que tomou conta do mundo e que exigiu de nós o isolamento e afastamento dos corpos me despertou o desejo de falar sobre a solidão. E desta incursão pelo tema nasceu o curta-metragem Revolução dos Afetos.
O filme fala de uma solidão imposta, fruto de uma sociedade onde tudo é visto como mercadoria, inclusive nossos corpos. Um mundo que estimula a individualidade e a competitividade e que por isso estabelece vínculos humanos tão frágeis, vendendo a solidão como um fracasso individual na melhor definição de “cada um com seus problemas”.
Acontece que a solidão virou uma questão de saúde pública e até mesmo a hiperconexão presente nestes novos tempos de relações online não deu conta de amenizar os danos provocados por esta que já é considerada uma grave epidemia. Pelo contrário, estudos recentes, como o do Projeto UnLonely, afirmam que mais de 30% dos adultos são solitários crônicos e 65% das pessoas se sentem solitárias a maior parte do tempo.
Estes dados mostram que a solidão não significa necessariamente ausência de conexão, mas a profundidade com a qual esta conexão se estabelece. Isto significa que, apesar de atualmente nos conectarmos com um um número bem maior de pessoas, isto por si só não nos proporciona o sentimento de pertencimento característico de uma ligação real com o outro.
Com isso, para além de uma questão de saúde pública, a solidão é um problema político e extremamente grave, por sinal. Pois, esta ausência de um senso de que pertencemos a uma coletividade, o sentimento de que estamos “cada um por si” e de que somos invisíveis diante do outro faz do outro invisível diante de nós também. E desta cegueira emocional nasce um processo de desumanização das relações humanas que pode culminar na ascensão de fascismos individualizantes, marcados pelo discurso de ódio e intolerância contra tudo aquilo que é “diferente”.
Quando o outro é visto como um estranho, um adversário e não um igual, o medo torna-se um elemento importante para a garantia da sobrevivência e o ódio é a forma com que este medo é comunicado. Vivemos em uma sociedade que faz com que estejamos em constante estado de alerta diante do perigo que a figura de outro ser humano representa para nós e, enquanto não promovermos uma profunda transformação no campo dos nossos vínculos sociais, dinâmicas como esta continuarão sempre dando a tônica das nossas relações.
Somos o que sentimos, nossos afetos nos moldam, contam a nossa história e nos guiam na vida. Portanto, para que transformações políticas e sociais aconteçam, são necessárias mudanças profundas no campo da afetividade. Por que não falarmos, então, em uma psicopolítica dos afetos, capaz de ressignificar nossa maneira de agir no mundo como sujeitos, nossas relações sociais e, por consequência, nossa existência? É neste sentido que lanço como provocação a todas, todos e todes o desafio de construirmos um movimento coletivo disto que chamo de uma Revolução dos Afetos.
O filme fala de uma solidão imposta, fruto de uma sociedade onde tudo é visto como mercadoria, inclusive nossos corpos. Um mundo que estimula a individualidade e a competitividade e que por isso estabelece vínculos humanos tão frágeis, vendendo a solidão como um fracasso individual na melhor definição de “cada um com seus problemas”.
Acontece que a solidão virou uma questão de saúde pública e até mesmo a hiperconexão presente nestes novos tempos de relações online não deu conta de amenizar os danos provocados por esta que já é considerada uma grave epidemia. Pelo contrário, estudos recentes, como o do Projeto UnLonely, afirmam que mais de 30% dos adultos são solitários crônicos e 65% das pessoas se sentem solitárias a maior parte do tempo.
Estes dados mostram que a solidão não significa necessariamente ausência de conexão, mas a profundidade com a qual esta conexão se estabelece. Isto significa que, apesar de atualmente nos conectarmos com um um número bem maior de pessoas, isto por si só não nos proporciona o sentimento de pertencimento característico de uma ligação real com o outro.
Com isso, para além de uma questão de saúde pública, a solidão é um problema político e extremamente grave, por sinal. Pois, esta ausência de um senso de que pertencemos a uma coletividade, o sentimento de que estamos “cada um por si” e de que somos invisíveis diante do outro faz do outro invisível diante de nós também. E desta cegueira emocional nasce um processo de desumanização das relações humanas que pode culminar na ascensão de fascismos individualizantes, marcados pelo discurso de ódio e intolerância contra tudo aquilo que é “diferente”.
Quando o outro é visto como um estranho, um adversário e não um igual, o medo torna-se um elemento importante para a garantia da sobrevivência e o ódio é a forma com que este medo é comunicado. Vivemos em uma sociedade que faz com que estejamos em constante estado de alerta diante do perigo que a figura de outro ser humano representa para nós e, enquanto não promovermos uma profunda transformação no campo dos nossos vínculos sociais, dinâmicas como esta continuarão sempre dando a tônica das nossas relações.
Somos o que sentimos, nossos afetos nos moldam, contam a nossa história e nos guiam na vida. Portanto, para que transformações políticas e sociais aconteçam, são necessárias mudanças profundas no campo da afetividade. Por que não falarmos, então, em uma psicopolítica dos afetos, capaz de ressignificar nossa maneira de agir no mundo como sujeitos, nossas relações sociais e, por consequência, nossa existência? É neste sentido que lanço como provocação a todas, todos e todes o desafio de construirmos um movimento coletivo disto que chamo de uma Revolução dos Afetos.
*Ingrid Gerolimich é socióloga, membra da Sociedade Psicanalítica Iracy Doyle, documentarista e diretora do filme Revolução dos Afetos
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