Edmarcius Carvalho - Álbum pessoal
Edmarcius CarvalhoÁlbum pessoal
Por Edmarcius Novaes*
No dia 10 de novembro é comemorado o Dia Nacional de Prevenção e Combate à Surdez. Trata-se de uma campanha nacional cujo objetivo é informar a sociedade em geral sobre os cuidados com a audição e as possibilidades de tratamentos realizados por profissionais da área da saúde. Ao se pensar a surdez como um fenômeno, é preciso refletir sobre intervenções preventivas ou de reabilitação auditiva, mas também
reconhecer a existência de uma condição e identidade humana específica.

Em relação aos cuidados preventivos, a campanha focaliza a necessidade de explicar de forma clínica a surdez, suas causas congênitas ou adquiridas e seus tipos neurossensoriais (quando a alteração ocorre na parte interna da orelha) ou condutivas (na parte externa ou média da orelha).

Já em relação ao combate à surdez por meio da reabilitação, dados públicos do Ministério da Saúde apontam o investimento, somente em 2019, maior que 170 milhões de reais com a Política Nacional de Atenção à Saúde Auditiva, com ações em todos os níveis de atenção à saúde, por meio de uma rede de serviços executada pelos estados e municípios. Ainda, mais de 216 mil aparelhos auditivos e implantes cocleares foram distribuídos para pessoas com algum tipo de surdez, além da realização de todo tratamento clínico cirúrgico.

No entanto, outra possibilidade de se pensar a surdez se dá com o reconhecimento de uma identidade diferente, que decorre da aceitação pela pessoa surda de sua condição, com o uso da Língua Brasileira de Sinais para se comunicar. Em diálogo com outros campos do conhecimento e de atuação, percebe-se que surdos usuários da Libras captam o mundo a seu redor e sua própria existência pela visão, e se comunicam em uma modalidade espaço-visual de forma ativa e autônoma. Para estes, a política pública de saúde na perspectiva clínica com foco na reabilitação auditiva é insignificante; a demanda é pela inclusão da Libras no atendimento público de saúde.

É preciso que a gestão pública de saúde também garanta no planejamento recursos para a formação continuada de todos os profissionais de saúde para que estejam habilitados na comunicação com o usuário surdo em Língua de Sinais. Até lá, a exclusão de muitos surdos, com suas diferenças sociais e linguísticas, ainda será uma realidade gritante no contexto da saúde. É preciso avançar nas possibilidades e horizontes quando se trata da relação entre a condição da surdez e o direito à saúde pública com respeito e dignidade
às diferenças.
*Edmarcius Novaes é autor do livro “Surdos. Educação, direito e cidadania”