Ivanir dos Santos - divulgação
Ivanir dos Santosdivulgação
Por Ivanir dos Santos*
Engraçado, né? É só começar o mês de novembro que a gente, educadores negros, recebe um monte de convite para falar na escolas, nas faculdades, abrir aula magna, dar curso de formação etc! Não que isso seja ruim. Mas a questão que circunda tais convites deveriam ser postos e trabalhados para além do 20 de novembro e construído como uma prática pedagógica coletiva.
Ah? Vocês não sabem porque recebemos esses convites? Então, novembro é reconhecido nacionalmente como o “Mês da Consciência Negra” e o dia 20 de novembro é, oficialmente pela Lei 12.519, de 10 de novembro de 2011, Dia Nacional de Zumbi.

A data faz referência à morte de Zumbi, o então líder do Quilombo dos Palmares – situado entre os estados de Alagoas e Pernambuco, na Região Nordeste do Brasil. Para nós, homens e mulheres negras, um símbolo de resistência contra todo o jugo colonial. Mas, será que todos os motivos que circundam tais comemoração só podem acontecer no mês de novembro?

Bom, se você for minimamente uma pessoa engajada na luta pela garantia dos direitos das ditas “minorias representativas” sabe que a resposta é NÃO. Tais comemorações não deveriam ficar circunscritas apenas no mês de novembro. Porém, precisamos salientar e compreender que a sociedade brasileira vive, até os tempos atuais, da glorificação de um passado escravista e não esboça nenhum tipo de “simpatia” pelas transformações, inclusões e reavaliações de modelos de modos de vida.

E é fato que desde a abolição do trabalho escravo, o Brasil tentou, e ainda tenta exaustivamente, apagar de suas narrativas históricas oficiais o seu passado escravocrata! Destarte, em “Memórias da Plantação” Grada Kilomba (2020: 13) pontua que só é “Só quando se reconfiguram as estruturas de poder é que as muitas identidades marginalizadas podem também, finalmente, reconfigurar a noção de conhecimento”, tomando essa ideia como um ponto focal para a compreensão do racismo no Brasil endosso-a e assinalando que para além das reconfigurações das estruturas também precisamos reconfigurar as pessoas que a gestão das estruturas sociais políticas e econômica.
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Pois é, através desses meios que o racismo se fortalece. E não podemos perder de vista que falar e escrever sobre racismo é ressaltar a negação das realidades de violência cotidiana sobre as populações negras. Urge o momento de colocarmos as questões sobre “racismo” como temas centrais nos nossos debates. Urge o momento de transpormos a visibilidades do nossos corpos negros apenas no mês de novembro.
Nós, homens negros e mulheres negras, existimos e resistimos todos os dias. E não queremos e não vamos participar dos cenários sociais apenas por conveniências políticas e sociais.
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*Professor-Doutor e Babalawô