Duda Quiroga - Divulgação
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Por Duda Quiroga*
Educação em tempos de pandemia é sobressalto. Para nós, educadores, a tarefa é resistir para existir. Podíamos ter feito mais? E a prefeitura, como atuou? Quais as suas responsabilidade? O município responde pela Educação Infantil, Fundamental 1 e 2, Educação Especial, e de jovens e adultos. São 1.541 unidades escolares, 643.053 estudantes, 53.177 profissionais da Educação, sem os terceirizados. A maior rede pública da América Latina!
O ano começou com muitas escolas adiando o início das aulas por conta da crise da água. Isso já sinalizava a precariedade de nossas estruturas. Veio 13 de março, a pandemia e a decisão acertada de suspender as atividades presenciais. Mas, adiante o que se viu foi uma sucessão de erros. A tentativa de abrir refeitórios, por exemplo, serviu apenas para jogar comida fora e expor cozinheiras. O Sepe-RJ conseguiu uma liminar para impedir este ato. Mas isso nos leva a pensar: qual a função social da escola? Educar? Cuidar? Construir conhecimento com troca?
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Em junho, numa audiência pública da Comissão de Educação da Câmara do Vereadores, a secretária de Educação, Talma Romero Suane, afirmou que não haveria retorno antes de meados de agosto. Na mesma semana, o prefeito Marcelo Crivella separou o debate em escolas públicas e privadas, como se não fossem do mesmo território.
Criou-se um grupo de trabalho sobre o retorno às aulas em que enfatizamos a necessidade de conhecer a estrutura das nossas escolas: salas, banheiros, refeitórios… Definiu-se pelo retorno do 9° ano e último ano do PEJA (Jovens e Adultos) com grupos de, no máximo, dez pessoas, em média três grupos por turma. Para surpresa, quando o retorno virou oficial, vimos a divisão em dois grupos.
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Em outubro, a SME publicou circular sobre biênio 20/21, com reflexões pedagógicas acerca deste período, como a avaliação. Parecia um avanço, apesar de pouco escutar os profissionais. Ledo engano. Voltamos ao cabo de guerra. Agora em período eleitoral, para o prefeito dizer que sabe lidar com a covid-19. Abrir escolas era a última fase desta falsa normalidade.
Inicialmente cada unidade decidiria em reunião do Conselho Escola Comunidade. Depois todas as escolas deveriam abrir de imediato, em 17 de novembro, para nono ano e PEJA em último ano. Os demais ainda poderiam agendar horário para reforço. Em meio a este caos, a prefeitura inaugurou uma Escola Cívico Militar.
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Era importante ter promovido o diálogo entre os profissionais da Educação, a SME, e os responsáveis dos nossos estudantes. Podíamos ter construído juntos estratégias para valorizar os extramuros escolares: as histórias orais das famílias, as possibilidades de classificação que existem numa casa… Considerando que a maioria não tinha acesso regular à internet, famílias sem um computador, as aulas remotas não seriam uma realidade. Não houve atenção às singularidades de cada segmento.
Ainda lidamos com pessoas que passaram por experiências traumáticas e, nessa conjuntura, podem precisar apenas que professores exerçam a escuta. Ainda temos a educação especial, que de fato viveu um silencio, um apagão em meio à pandemia.
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Atividades presenciais agora nos faz perguntar novamente: qual a função social da escola? Há tempo de interromper este retorno que já levou quase 300 escolas a terem de fechar por casos de covid-19. Vamos debater estratégias pedagógicas para recompor os currículos escolares e criar opções, como a adoção do ciclo para os anos letivos de 2020/21, até 2022. Nós, profissionais da Educação, neste momento, só podemos defender greve pela vida, e insistir com o governo que escolas fechadas são vidas preservadas.

*Diretora do SinproRio, da coordenação da Capital do Sepe-RJ e vice-presidente da CUT-RJ