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Luís Pimentel: 120 anos da Rainha Quelé, a que foi feita pra vadiar

Começou a cantar só aos 63 anos de idade, depois de ser descoberta pelo poeta e produtor Hermínio Bello de Carvalho. Clementina entoava uns cantos religiosos entre amigos e cervejas na Taberna da Glória, quando Hermínio bateu os ouvidos em sua voz de pedra rachada e viu ali o diamante bruto que poderia e deveria ser lapidado (mas não tanto)

OPINA16JUNARTE O DIA
Por Luís Pimentel*
Publicado 16/02/2021 06:00
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Luís Pimentel: 120 anos da Rainha Quelé, a que foi feita pra vadiar

Começou a cantar só aos 63 anos de idade, depois de ser descoberta pelo poeta e produtor Hermínio Bello de Carvalho. Clementina entoava uns cantos religiosos entre amigos e cervejas na Taberna da Glória, quando Hermínio bateu os ouvidos em sua voz de pedra rachada e viu ali o diamante bruto que poderia e deveria ser lapidado (mas não tanto)

OPINA16JUNARTE O DIA
Por Luís Pimentel*
Publicado 16/02/2021 06:00
“Conheci a Clementina / Graças a esta senhora, que é nossa e da Glória/ (...) C7.402343-1.300781-36.101562-1.601562-105.601562-1.601562s-78.199219.300781-105.5 1.5c-27.199219 1.199219-45.898438 5.601562-62.097657 11.898438-17.203124 6.5-32.601562 16.5-45.402343 29.601562-13 12.800781-23.097657 28.300781-29.5 45.300781-6.300781 16.300781-10.699219 34.898438-11.898438 62.097657-1.300781 27.402343-1.601562 36.101562-1.601562 105.601562s.300781 78.199219 1.5 105.5c1.199219 27.199219 5.601562 45.898438 11.902343 62.101562 6.5 17.199219 16.597657 32.597657 29.597657 45.398438 12.800781 13 28.300781 23.101562 45.300781 29.5 16.300781 6.300781 34.898438 10.699219 62.101562 11.898438 27.296876 1.203124 36 1.5 105.5 1.5s78.199219-.296876 105.5-1.5c27.199219-1.199219 45.898438-5.597657 62.097657-11.898438 34.402343-13.300781 61.601562-40.5 74.902343-74.898438 6.296876-16.300781 10.699219-34.902343 11.898438-62.101562 1.199219-27.300781 1.5-36 1.5-105.5s-.101562-78.199219-1.300781-105.5zm-46.097657 209c-1.101562 25-5.300781 38.5-8.800781 47.5-8.601562 22.300781-26.300781 40-48.601562 48.601562-9 3.5-22.597657 7.699219-47.5 8.796876-27 1.203124-35.097657 1.5-103.398438 1.5s-76.5-.296876-103.402343-1.5c-25-1.097657-38.5-5.296876-47.5-8.796876-11.097657-4.101562-21.199219-10.601562-29.398438-19.101562-8.5-8.300781-15-18.300781-19.101562-29.398438-3.5-9-7.699219-22.601562-8.796876-47.5-1.203124-27-1.5-35.101562-1.5-103.402343s.296876-76.5 1.5-103.398438c1.097657-25 5.296876-38.5 8.796876-47.5 4.101562-11.101562 10.601562-21.199219 19.203124-29.402343 8.296876-8.5 18.296876-15 29.398438-19.097657 9-3.5 22.601562-7.699219 47.5-8.800781 27-1.199219 35.101562-1.5 103.398438-1.5 68.402343 0 76.5.300781 103.402343 1.5 25 1.101562 38.5 5.300781 47.5 8.800781 11.097657 4.097657 21.199219 10.597657 29.398438 19.097657 8.5 8.300781 15 18.300781 19.101562 29.402343 3.5 9 7.699219 22.597657 8.800781 47.5 1.199219 27 1.5 35.097657 1.5 103.398438s-.300781 76.300781-1.5 103.300781zm0 0"/>
lementina no falsete / Lembrava o Catete do grande Irineu / Pela luz do Divino / Ao ouvir Clementina/Jesus era eu.”. O samba é de Wilson Moreira e Nei Lopes, dois a quem a Negra Quelé seguramente abençoou.
Segundo a maioria dos registros, Clementina de Jesus, que morreu em 1987, teria nascido em 1901 (no dia 7 de fevereiro) e estaria fazendo 120 anos agora. Segundo outros, ela poderia ter nascido também em 1900, em 1902 ou até mesmo em 1907. É que os cartórios de Valença (RJ), onde a cantora veio ao mundo, se embaralham seriamente com os registros de início do século passado.
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Quelé sempre foi respeitada por muitos como fonte de eterna inspiração e admiração. Dona da voz rasgada, rachada e espontânea mais impressionante do nosso cancioneiro, foi chamada pelos compositores Moacyr Luz e Aldir Blanc, noutro samba clementino, de “rainha negra da voz/mãe de todos nós”.
“Não vadeia, Clementina! Fui feita pra vadiar”. O refrão, por ela mesma entoado em aberturas de shows, precedia à exaltação do compositor Elton Medeiros: “Clementina, cadê você? Cadê você? Cadê você”? Aos chamados, respondia com o grito de Benguelê, pranto chorado de Pixinguinha, e o resto era festa.
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Começou a cantar só aos 63 anos de idade, depois de ser descoberta pelo poeta e produtor Hermínio Bello de Carvalho. Clementina entoava uns cantos religiosos entre amigos e cervejas na Taberna da Glória, quando Hermínio bateu os ouvidos em sua voz de pedra rachada e viu ali o diamante bruto que poderia e deveria ser lapidado (mas não tanto).
Quelé logo tornou-se amiga do produtor, para quem desfiou um rosário de jongos, emboladas, lundus e incelenças de fazer chorar. Algum tempo depois, Clementina já brilhava ao lado de outros amigos (desta vez, Aracy Cortes, Paulinho da Viola, Elton Medeiros, Jair do Cavaquinho, Nelson Sargento e Anescarzinho do Salgueiro), no espetáculo musical Rosa de Ouro, concebido e dirigido pelo próprio Hermínio.
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Quem não pôde ver o show tomou conhecimento daquela voz particularíssima no ano seguinte, quando foi lançado o disco com o repertório do show. E o amor entre Clementina e a MPB foi sempre igualzinho ao amor que uniu a artista e Hermínio: à primeira vista, ao primeiro som, ao primeiro batuque.
Clementina de Jesus gravou grandes autores, como Pixinguinha (Benguelê), Wilson Batista (Mulato calado), Caetano Veloso (Marinheiro só), Bubu e Jamelão (Esta melodia), Zé Ramos da Mangueira (Nasceste de uma semente), Cartola (Alegria e Ensaboa), Paulo da Portela (Olhar assim), João Bosco e Aldir Blanc (Incompatibilidade de gênios e Honorato) e Dona Ivone Lara (Sonho meu).
Sempre que vejo nos jornais referências a discos mais “vendidos” e cantoras idem, eu me pergunto: Por que será que Clementina nunca frequentou essas paradas? Vendia pouco e era apreciada por poucos e raros. Que falta que faz sua voz de trovão nesses momentos de seca.
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 *É jornalista e escritor
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