Publicado 02/06/2021 05:50
NIMBY é uma expressão que vem se popularizando no debate mundial sobre cidades. Ele simplifica um fenômeno que muitos de vocês já devem ter visto: “Not In My Back Yard” - em português, “Não no meu quintal”.
Muitas pessoas, que normalmente seriam a favor de algum novo projeto, ficam contra quando descobrem que será na vizinhança delas. Afinal, muitos não querem morar perto de um bar movimentado, ao lado de uma farmácia (afinal, por que não abriu algo mais “legal” aqui?) ou próximo a uma escola, com todas aquelas vans e gritaria. No entanto, todos nós queremos que existam bares, farmácias e escolas para nós e nossa família, não é? Eis aqui uma contradição.
Isso acontece até com a construção de novos prédios residenciais, pois atraem novos moradores a uma rua que era pacata - e alguns, claro, serão contra isso. No entanto, não era a rua ainda mais pacata antes deles próprios ali residirem também?
Bom, agora vamos trazer isso para a realidade do Rio de Janeiro e do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), uma das instituições mais respeitadas do mundo em sua área e organizadora das Olimpíadas de Matemática.
A instituição recebeu a doação de um terreno ao lado de sua sede. Para fazer um alojamento a seus estudantes bolsistas de Mestrado e Doutorado e ampliar suas atividades, tomou o rumo necessário: fazer o licenciamento urbanístico e ambiental das suas obras. Cumpriu todos os requisitos e conseguiu, após 6 anos (!), a aprovação de ambos.
A área construída usará apenas 3,5% do terreno, terá compensação ambiental 16 vezes maior ao seu impacto e obras de contrapartida de segurança hídrica, além do retorno social natural à própria instituição de ensino. O projeto, vale dizer, recebeu um prêmio mundial por arquitetura responsável.
Curiosamente (ou nem tanto), tem tido certa resistência exatamente dos moradores, sobretudo da própria rua. Há quem diga que o projeto é “excelente e necessário”, mas que haveria outros tantos pontos melhores para isso pela cidade - como se fosse secundário que a sede está ali e o terreno doado também! Há quem argumente que a compensação não é suficiente, o que me faz perguntar o que havia naqueles terrenos antes das casas dos que ali hoje residem...
Bom, o resumo da ópera: podem construir, desde que não seja na minha vizinhança. Por aqui, não basta cumprir a lei - “tem que estar de acordo com o que eu aprovo”.
Parabéns ao IMPA por levar adiante tão importante projeto, seguindo a lei e trabalhando para manter viva a Ciência, tão deixada de lado em nosso país.
Advogado, vereador e presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia, na Câmara Municipal.
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