Publicado 31/08/2021 05:50
Muita gente não sabe, mas o nome Galeão, apelido pelo qual é conhecido o aeroporto Internacional Tom Jobim, assim é chamado porque no bairro da Ilha do Governador onde ele está localizado (bairro Galeão) foi construído, em 1659, o Galeão Padre Eterno, uma embarcação portuguesa considerada, à época, o maior navio do mundo. Ou seja: dois séculos antes de o Barão de Mauá iniciar a construção dos estaleiros da Companhia Ponta d’Areia, em Niterói, marco inaugural da Indústria Naval no Brasil, o Rio já tinha tradição no setor.
Ao longo dos séculos, o Rio montou um parque industrial naval que nenhum outro estado possui. Depois de viver um período de desalento nos anos 1990, essa indústria voltou a florescer na virada do século 21, com o aumento da exploração de petróleo e a exigência, pelos governos de então, de compra de conteúdo local.
Em 2014, o Brasil chegou a ter cerca de 84 mil trabalhadores diretos empregados no setor, sendo que o Rio respondia por 44% desse total. Hoje, eles não chegam a 9 mil. O Rio está para o setor naval tal qual Detroit representa, nos Estados Unidos, para a indústria automobilística: decadência.
O desmonte se reinicia a partir de 2015. Com a crise da Petrobras, pós Lava-Jato, e a mudança na política de compras da estatal, todas as encomendas passaram a ser direcionadas para o exterior. Os principais estaleiros fluminenses estão desativados ou praticamente fechados, como o Estaleiro Mauá, em Niterói; o Estaleiro Eisa, na Ilha do Governador; o Ishibras, no Caju, e até o antigo Verolme, em Angra dos Reis, atualmente com um nível muito pequeno de atuação, fazendo basicamente reparos.
O mesmo ocorre com estaleiros médios que já tiveram grande atividade, como o McLaren, Promar e Aliança. Não fosse o Prosub, programa da Marinha iniciado em 2008 para construir os novos submarinos brasileiros, no Complexo Militar de Itaguaí, o nível de atividade seria ainda menor.
É possível, entretanto, virar o jogo novamente. O novo posicionamento do dólar, o aumento do barril do petróleo e o pré-sal tornam possível a retomada da Indústria Naval Brasileira, com reflexos diretos na Economia fluminense, que responde por mais de 80% do petróleo extraído no Brasil, todo ele em alto mar. Temos aqui as sedes da Petrobras; da Transpetro; da Emgepron e o Arsenal de Marinha do Brasil.
A retomada requer, entretanto, articulação, estruturação, equacionamento de passivos e um esforço extra para solucionar problemas que estão se ampliando pelo tempo, enquanto os estaleiros se degradam. Requer, sobretudo, vontade política e a compreensão da importância de voltarmos a implementar uma política de conteúdo nacional para gerar emprego e renda e desenvolver tecnologias no Brasil, em vez do exterior. O Rio tem vocação histórica nesse setor e a recuperação econômica do estado passa necessariamente pelo mar.
André Ceciliano é deputado estadual (PT) e presidente da Alerj.
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