Publicado 21/09/2021 05:50
O bonde é o melhor meio de transporte para esse bairro tão singular na nossa cidade que é Santa Teresa. Um patrimônio cultural tombado pelo Iphan e Inepac, por seu formato, trajeto e adequação ao modo de vida do bairro. Há muitos anos vou a Santa Teresa, participando de suas lutas. Este ano completou dez anos do terrível acidente com o bonde 10. Não esquecemos: seis pessoas morreram, entre elas, o nosso herói, o motorneiro Nelson, e 57 pessoas ficaram feridas, por causa do sucateamento e da falta de manutenção dos bondes.
Até hoje o bonde não retomou seu trajeto. Conta com apenas a linha Carioca-Dois Irmãos. O ramal Paula Mattos integra o posto de saúde local ao restante do bairro. Desativado, criou-se uma privação da Saúde pública num momento crítico como a pandemia. Para piorar, o bonde teve o seu horário drasticamente reduzido, das 8h às 15h, nos dias úteis (sábados e domingos, das 10h às 15h), com longos intervalos. Na prática, trabalhadores e estudantes não são atendidos pelo bondinho. A luta é pela grade das 6h às 23h.
Recentemente, na Alerj, uma audiência pública das comissões de Cultura, do Cumpra-se e de Transportes discutiu medidas concretas para a revitalização do sistema de bondes. A reunião contou com a participação da Associação de Moradores e Amigos de Santa Teresa (Amast) e parlamentares da esfera federal, estadual e municipal.
As reivindicações passam pela retomada das obras, ampliação do horário e novas composições, e redução do valor extorsivo de R$ 20 da tarifa, objeto do relatório final da CPI dos Transportes da Alerj, presidida por mim em 2018, que alertava “...Uma tarifa com este valor, na prática, transforma o bonde em uma proposta de atração turística em sentido estrito, tais como o são o teleférico do Pão de Açúcar e o famoso ‘trenzinho do Corcovado’”. E propunha o fim da tarifa turística e sua equiparação à do Sistema de Transporte Público por ônibus do município do Rio.
O texto da CPI recomendava a integração tarifária com os sistemas estadual e municipal de Transportes; a retomada das obras e restauração da oficina e dos bondes; e a reforma das estações da Carioca e Curvelo, entre outras. Não dá mais para esperar. Os bondes precisam voltar a circular de forma eficiente e integral. É urgente que se conclua o trajeto do bonde público e popular.
Os encaminhamentos da audiência pública são contra a privatização do sistema de bondes, anunciada pela Secretaria Sstadual de Transportes (Setrans), e para que se cumpra a decisão judicial que condenou o governo e a Companhia Estadual de Engenharia de Transportes e Logística (Central) a restaurar todo o sistema de bondes de Santa Teresa, pasme, em 2009.
Eliomar Coelho é deputado estadual pelo PSOL-RJ, presidiu os trabalhos da CPI dos Transportes da Alerj, em 2018.
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