Publicado 02/10/2021 06:00
O governo Bolsonaro festeja mil dias, mas não se sabe bem por que...Para começar, a tarefa à frente na área econômica seria desproporcionalmente difícil para a super inexperiente equipe escolhida. Primeiro, pelo limitadíssimo espaço para gastar que o governo anterior havia se imposto, e depois pela necessidade de enfrentar uma pandemia como a do coronavírus. E isso logo na hora em que o mundo estava mudando de posição, passando a aceitar maiores gastos públicos e a praticar juros cada vez mais baixos.
Temer tinha deixado de herança um teto de gastos que ajudou muito na emergência que enfrentou, mas que nascera para sobreviver apenas pouco tempo. Para um orçamento em que a parcela dos incomprimíveis gastos obrigatórios se aproximava de 95% do total, que cresciam, sozinhos, e com amparo legal, no mínimo pela inflação, uma emenda constitucional que estabelecesse que o mesmo gasto total não poderia crescer mais que ela rapidamente viraria letra morta. Ou seja, todo e qualquer ajuste teria de ocorrer na parcela residual (gasto discricionário) que, ali, já alcançara apenas 5%. Moral da história: em pouco tempo estaria zerada, e o governo não investiria mais, nem poderia manter sua máquina funcionando.
Vejam que os mercados financeiros tinham erradamente se convencido de que o teto seria o principal instrumento de contenção fiscal para convencer os detentores de títulos públicos a não deixar de carregá-los em suas carteiras. Naquele contexto, gastar mais virou sinônimo do pior pecado imaginável, e nem mesmo a emergência óbvia decorrente da pandemia mudou isso na cabeça do governo. E agora, quando alguém gritasse: “Pega o ladrão!”, como eles reagiriam? Estamos quase nesse ponto.
Para completar, até hoje o governo não reconheceu a existência da crise como ela de fato é, nem a necessidade de adotar um conjunto de medidas coerentes com a visão apoiada em base científica que ainda predomina no mundo. Além de negacionista, a visão local era de que o problema se resolveria sozinho pela contaminação geral, algo que passou a ser chamado de imunização de rebanho.
Nesse contexto, atrasou-se imensamente o processo de aquisição das vacinas eficazes que foram surgindo, a ponto de hoje o país ter um dos maiores números de mortes decorrentes da pandemia por habitante. Em uma situação dessas, como se sabe, o enfrentamento é muito difícil porque a população, especialmente a parcela mais necessitada, tem de se submeter a um isolamento forçado sem ter como se sustentar minimamente, para evitar uma altíssima contaminação e a decorrente mortalidade.
Paralelamente, o governo colocava todo tipo de dificuldade para sustentar um mínimo de renda para essas pessoas, que, sem isso, teriam de se expor na busca de alguma ocupação e, portanto, remuneração. É só lembrar o ministro da Economia ir à Câmara no início do processo para dizer que o governo resolveria o problema gastando a mixaria de R$ 3 bilhões a 5 bilhões, quando até hoje já se gastaram quase R$ 400 bilhões com o auxílio emergencial. O tema é vasto, continuarei na próxima coluna.
Temer tinha deixado de herança um teto de gastos que ajudou muito na emergência que enfrentou, mas que nascera para sobreviver apenas pouco tempo. Para um orçamento em que a parcela dos incomprimíveis gastos obrigatórios se aproximava de 95% do total, que cresciam, sozinhos, e com amparo legal, no mínimo pela inflação, uma emenda constitucional que estabelecesse que o mesmo gasto total não poderia crescer mais que ela rapidamente viraria letra morta. Ou seja, todo e qualquer ajuste teria de ocorrer na parcela residual (gasto discricionário) que, ali, já alcançara apenas 5%. Moral da história: em pouco tempo estaria zerada, e o governo não investiria mais, nem poderia manter sua máquina funcionando.
Vejam que os mercados financeiros tinham erradamente se convencido de que o teto seria o principal instrumento de contenção fiscal para convencer os detentores de títulos públicos a não deixar de carregá-los em suas carteiras. Naquele contexto, gastar mais virou sinônimo do pior pecado imaginável, e nem mesmo a emergência óbvia decorrente da pandemia mudou isso na cabeça do governo. E agora, quando alguém gritasse: “Pega o ladrão!”, como eles reagiriam? Estamos quase nesse ponto.
Para completar, até hoje o governo não reconheceu a existência da crise como ela de fato é, nem a necessidade de adotar um conjunto de medidas coerentes com a visão apoiada em base científica que ainda predomina no mundo. Além de negacionista, a visão local era de que o problema se resolveria sozinho pela contaminação geral, algo que passou a ser chamado de imunização de rebanho.
Nesse contexto, atrasou-se imensamente o processo de aquisição das vacinas eficazes que foram surgindo, a ponto de hoje o país ter um dos maiores números de mortes decorrentes da pandemia por habitante. Em uma situação dessas, como se sabe, o enfrentamento é muito difícil porque a população, especialmente a parcela mais necessitada, tem de se submeter a um isolamento forçado sem ter como se sustentar minimamente, para evitar uma altíssima contaminação e a decorrente mortalidade.
Paralelamente, o governo colocava todo tipo de dificuldade para sustentar um mínimo de renda para essas pessoas, que, sem isso, teriam de se expor na busca de alguma ocupação e, portanto, remuneração. É só lembrar o ministro da Economia ir à Câmara no início do processo para dizer que o governo resolveria o problema gastando a mixaria de R$ 3 bilhões a 5 bilhões, quando até hoje já se gastaram quase R$ 400 bilhões com o auxílio emergencial. O tema é vasto, continuarei na próxima coluna.
Raul Velloso é consultor econômico
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