Presidente da CPI da Covid no Senado, Omar Aziz Waldemir Barreto/Agência Senado
Publicado 30/10/2021 06:00
A Comissão Parlamentar de Inquérito que investigou os erros de gestão na pandemia da Covid-19 não foi uma investigação política qualquer. Ela estava dentro da casa de cada brasileiro. Antes, as CPIs no Congresso pareciam abstratas, as pessoas não entendiam muito os seus complexos processos e engrenagens. Mas essa não. Todos os brasileiros sabem do que se trata, já que a pandemia, como uma guerra, afetou toda a população do país. Mesmo quem não foi vítima direta da doença foi afetado indiretamente, pela perda de parentes e amigos ou por suas consequências econômicas, educacionais, sociais ou psicológicas.
Outra coisa diferente nessa CPI é que, nas anteriores, quando se investigava a corrupção ela normalmente cessava. Nessa comissão, começamos a investigar e o vírus continuou a matar. E isso nos traz a dor de não conseguir fazê-la parar — embora não se possa tirar o mérito que a CPI teve de agilizar a vacinação dos brasileiros.
As lições deixadas pela CPI jamais serão esquecidas. Nenhuma pessoa merece passar os restos de seus dias suportando o vazio da perda de um filho para uma doença. Nenhuma mulher deveria ter de criar seus filhos com a ausência de um companheiro levado por um vírus. Nenhum filho tem que lidar com a dor de ter perdido seus pais sem oxigênio no leito de um hospital porque a vacina não chegou a tempo.
No Brasil, mais de 600 mil indivíduos se foram. Deixando outros milhares de órfãos, viúvas e muitos pais que perderam seus amados filhos — algo tão antinatural que não há substantivo que a defina.
A história cobrará o preço das consequências desses erros e punição a quem falhou. Mas urge, hoje, uma sociedade cobrando justiça às vítimas. A Comissão Parlamentar de Inquérito que tive a honra de presidir buscou isso: Justiça! Nosso trabalho foi investigar os erros na gestão da pandemia. Apontar equívocos. Sugerir soluções. Cobrar resoluções. Acredito que tivemos resultados positivos.
Mas nosso trabalho não terminou. Como senadores, representantes do povo, ainda temos a missão de continuar alerta frente a essa pandemia. Não podemos baixar a guarda ou relaxar nas medidas necessárias para controle da Covid-19. E vai além disso. Ainda há milhões de pessoas que venceram a doença e ficaram com fortes sequelas, neurológicas, pulmonares e cardíacas. Ainda há muito o que se estudar e muitos brasileiros para serem realmente curados.
A CPI, com seu trabalho transparente, fez com que o governo acordasse para a importância da vacinação e corresse atrás do tempo perdido. Se hoje mais de 50% dos brasileiros estão completamente imunizados e as curvas de mortes e casos estão decrescentes, muito se deve aos esforços dos membros da CPI e à consequente pressão da sociedade.
Toda a solidariedade e os melhores sentimentos para os familiares e amigos das vítimas dessa tragédia sem precedente. Que a dor de todos vocês, mesmo irreparável, seja ao menos minimizada com a punição exemplar dos responsáveis. Que esse relatório sirva de base para esse acerto de contas e para superar esse lamentável capítulo de nossa história.
A CPI não acaba com a aprovação desse relatório. Nossa investigação já provocou a abertura de pelo menos oito procedimentos em curso em seis órgãos diferentes de controle. A comissão avançou em diferentes frentes, acumulou um volume expressivo de documentos e conseguiu materializar provas de crimes, omissões e irregularidades no enfrentamento da pandemia. Tudo o que por nós foi produzido estará à disposição para todos que queiram prosseguir com investigações ou apurações sérias e transparentes.
Que os brasileiros de bem saibam que continuaremos todos vigilantes, acompanhando os desdobramentos da pandemia e prontos para cobrar qualquer tipo de omissão ou prevaricação dos responsáveis pela punição dos culpados. As vítimas da pandemia podem ter certeza de que faremos tudo para que tenham justiça.
Omar Aziz é senador pelo (PSD-AM) e presidente da CPI da Covid
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