A vítima Erikson Rodrigues Moreira, de 32 anos, era esposo de Fabiana Moreira e deixou um filho de 1 ano e 5 meses - Arquivo Pessoal
A vítima Erikson Rodrigues Moreira, de 32 anos, era esposo de Fabiana Moreira e deixou um filho de 1 ano e 5 mesesArquivo Pessoal
Por O Dia
Rio das Ostras - Viúva de Erikson Rodrigues Moreira, que morreu de Covid-19 no dia 15 de julho, em Niterói, Fabiana Moreira acusa a administração pública de Rio das Ostras de negligência por transferi-lo da cidade numa ambulância sem oxigênio, o que teria resultado no agravamento clínico e no óbito. Erikson era morador de Rio das Ostras e foi levado para a UTI do Hospital Ary Parreiras, em Niterói. Ele tinha 32 anos e deixou um filho de 1 ano e 5 meses.
Fabiana conta que ligou para o resgate quando Erikson passou mal. Como o resgate não chegou, um amigo o levou ao pronto socorro em Rio das Ostras. “É muito doído porque depois que meu marido foi internado [em Rio das Ostras], no dia 8 de julho, foi a última vez que o vi. O meu filho teve contato com ele pela última vez no dia 7 de julho, mesmo assim, quando eu abri a porta para dar o alimento e logo fechei. Depois desse dia, eu nunca mais tive contato com ele”, diz a viúva.
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Ela relata que ao saber que o marido precisaria ser transferido para uma UTI em Niterói, questionou num telefonema se a ambulância estava preparada para o transporte e se ele iria acompanhado para o caso de uma emergência, recebendo resposta positiva. Depois, ela conta, ao falar também por telefone com um médico de Niterói, não foi isso que ouviu sobre as condições do transporte. No áudio do telefonema disponibilizado pela esposa de Erickson, o médico do Hospital Ary Parreiras relata que o paciente chegou sem oxigênio e que foi imediatamente entubado.
Na conversa gravada por telefone, o médico de Niterói diz:
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"Ele teve um grande problema no transporte, não sei se passaram isso para a senhora. Ele chegou aqui com a bala de oxigênio terminada. Ele subiu com uma saturação muito ruim para a gente, a gente admitiu ele aqui com uma saturação de 40 por cento (...) A gente teve que entubá-lo porque ele chegou com um sofrimento de falta de oxigênio muito importante…”
Fabiana responde:
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"Gente, mas falaram que o transporte era apto para levá-lo, eu até perguntei isso, falaram que não tinha nenhum problema, que falta de responsabilidade desse povo”.
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A Prefeitura de Rio das Ostras, enviou uma nota à redação O DIA, afirmando que o paciente recebeu da Administração Pública toda assistência necessária desde que procurou a rede municipal, que convivia com obesidade mórbida e foi transferido com todas as medidas exigidas pelo protocolo médico. Segundo informações do médico Gleison da Silva Costa, que acompanhou a transferência do paciente no dia 11 de julho, Erickson saiu do pronto-socorro de Rio das Ostras estável, com pressão arterial de 11 por 7, frequência cardíaca estável e bom nível de consciência. Com leve esforço respiratório, usou máscara de oxigênio durante todo o trajeto, com reservatório a seis litros por minuto, interagindo com a equipe durante todo o tempo de remoção, mantendo saturação de 90%.
Ainda segundo Dr. Gleison, o único momento em que Erickson não usou balão de oxigênio, foi após a chegada à unidade de Niterói, da saída da ambulância para o leito de CTI do Hospital Ary Parreiras, que durou cerca de 40 segundos. O balão utilizado pelo paciente na ambulância de Rio das Ostras era grande e dificultaria a remoção até o Centro de Tratamento Intensivo.
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Dr Gleison relatou ainda que por causa do tamanho e peso da bala de oxigênio da ambulância, que era grande, em um procedimento que apontou como muito normal, foi até o leito para o qual seria transferido o paciente, pediu ao profissional da unidade uma bala pequena de oxigênio somente para essa remoção da ambulância, porém quando chegou à ambulância e fez a ligação do equipamento, percebeu que ela estava vazia. Numa decisão médica, para que o transporte fosse rápido e o paciente corresse o menor risco possível e não descompensasse pela demora sem o oxigênio, somente neste pequeno período, decidiu transportá-lo sem o auxílio de oxigênio. Mesmo assim Erickson continuou interagindo com a equipe, sem queixas, e deu entrada no CTI rapidamente e logo recuperou sua estabilidade hemodinâmica.
“Em muitos momentos, precisamos tomar decisões rápidas que podem fazer a diferença na vida de um paciente, e assim foi feito, tomei a melhor decisão naquele momento e garanto que o óbito não se deu por conta desses segundos sem o oxigênio e sim por complicações da doença que é devastadora. Todos os procedimentos foram realizados de acordo com todos os protocolos. Além da ambulância ter todo o suporte e em momento nenhum ter faltado oxigênio. Como pedi uma bala pequena somente para facilitar a remoção da ambulância para o CTI, o plantonista deve ter pensado que estávamos sem oxigênio, mas não estávamos, inclusive um dos cilindros retornou com bastante oxigênio para nossa unidade.” Segundo Dr. Gleison, se trata de um infeliz mal entendido.
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Erickson permaneceu internado no hospital de Niterói por quatro dias, vindo a falecer no dia 15 de julho.
Emocionada, a viúva fala que é preciso que os profissionais da saúde e governantes tenham mais amor, pois todo mundo tem direito à vida:
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“Fico me perguntando, se meu marido fosse um deputado, um médico… Será que teriam tirado ele de helicóptero e teriam o levado… Então é amor, mais amor pelas pessoas, mais respeito, acho que o meu marido não teve”, declarou.
Fabiana também diz que a Prefeitura não entrou em contato periodicamente com ela. Mas a administração pública afirma que documentos da vigilância Epidemiológica mostram o contrário, que a família foi monitorada por todo o tempo em relação à contaminação do coronavírus.
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A secretária de Saúde de Rio das Ostras, Dra. Jane Teixeira, afirmou que, a equipe médica sabe da importância do oxigênio para pessoas infectadas pelo coronavírus. “O paciente em questão recebeu atendimento durante todo o período que esteve conosco, mesmo antes de sua internação. Jamais deixaríamos que uma remoção acontecesse sem atender este protocolo importante. Priorizamos a vida de todos os nossos pacientes”, contou Dra. Jane.
A advogada da família Moreira, Dra Kíssyla Andrade Ramos, disse que foi registrada uma ocorrência a fim de iniciar o processo investigatório do caso. “O procedimento será encaminhado para comarca de Niterói, tendo em vista que o óbito ocorreu naquela cidade, que será a responsável pela investigação”, afirmou.
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“O boletim foi autuado como homicídio culposo (aquele que não há intenção de matar), no entanto, tendo em vista que em diversos momentos a Administração Pública de Rio das Ostras assumiu o risco, esperamos que seja oferecida a denúncia por parte do Ministério Público como homicídio doloso, na modalidade eventual (aquele que não tem a intenção de matar, mas assume o risco)”, ressaltou Dra Kíssyla.
A advogada ainda falou que, Erikson era uma pessoa muito querida, e que todos os dias desde quando foi internado Fabiana recebia diversas mensagens questionando o estado de saúde do esposo, e que para não ficar repetindo a mesma história todo o tempo, ela preferiu gravar os áudios da ligação para encaminhar aos familiares e amigos.
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“Não precisamos de investigação, precisamos fazer valer a lei. Mas, como não é assim o processo, e respeitamos, vamos dar aos fatos fundamento e aguardar a Justiça”, finalizou a defensora do caso.

A Secretaria Municipal de Saúde informou que abrirá na próxima segunda feira (24) uma sindicância para apurar os fatos e caso fique provado que houve algum erro, tomará as devidas providências. A Administração pública também se colocou à disposição da família para quaisquer esclarecimentos ou necessidades.

O Jornal O Dia continuará acompanhando os desdobramentos do caso.