Por gabriela.mattos

Rio - O Ministério Público Federal (MPF) determinou nesta quarta-feira que a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em Volta Redonda, entregue, num prazo de 180 dias, ao governo municipal, todos os arquivos que possui referentes ao período da ditadura militar, “ em favor do direito e da verdade”. Segundo a ordem, documentos referentes ao tempo em que a empresa era estatal (de 1941 a 1993) são públicos.

Em nota, a CSN informou que não vai comentar o assunto. De acordo com o MPF, o município deverá estruturar, em 90 dias, o atendimento e análise do acervo por meio de recursos humanos e materiais, e disponibilizar, no prazo de 120 dias, um espaço adequado para recepção e organização dos documentos. Tudo para permitir, em 210 dias, o acesso público ao acervo.

Segundo o procurador da República Julio José Araujo Junior, que assina a determinação, a disponibilização pública do acervo “é relevante para contar a história de Volta Redonda” e as violações ocorridas durante a ditadura. “Houve a cooperação da empresa quando do trabalho de investigação da Comissão da Verdade Dom Waldyr Calheiros e o objetivo agora é assegurar a entrega do acervo ao município”, afirmou Júlio.

Relatório da Comissão da Verdade%2C que resultou na decisão do MPF%2C foi entregue na Câmara de Volta RedondaFrancisco Edson Alves / Agência O Dia

A comissão concluiu que a CSN “contribuiu para a política de repressão na ditadura militar, perseguindo e demitindo funcionários por suas convicções ideológicas”. E ainda espionou moradores que não tinham ligação direta com a empresa. O relatório final, que constatou e analisou documentos mantidos sigilosamente pela CSN, tem 577 páginas e foi entre a representantes do Centro de Memória da Universidade Federal Fluminense (UFF).

O relatório havia sugerido que a empresa tornasse público “milhares de páginas de espionagens de cidadãos”, da antiga Assessoria de Segurança e Informação (ASI) e do Departamento de Segurança da Usina (DSU), órgãos da CSN ligados, segundo evidências, ao SNI (Serviço Nacional de Informações).

“A CSN, além de demitir 77 sindicalistas, que foram presos e torturados, sem que houvesse condenação deles em IPM (Inquérito Policial Militar), também dispensou, por terem participado de manifestações contra o Golpe de 64, outros 113 trabalhadores”, revelou Edgard Bedê, historiador e relator do documento, que se debruçou sobre 14 casos de torturas e mortes no então 1º Batalhão de Infantaria Blindado (BIB), em Barra Mansa. O relatório tem ainda 20 recomendações, entre elas, que William Fernandes Leite, 22 anos, Valmir Freitas Monteiro, 27 , e Carlos Augusto Barroso, 19, assassinados pelo Exército na histórica greve de 1988, sejam incluídos na lista de mortos da ditadura

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