Por gabriela.mattos

Rio - A Secretaria de Estado de Educação (Seeduc) sinalizou que aceitará parte das reivindicações dos professores da rede, em greve há 43 dias. Entre as medidas, o órgão se comprometeu em realizar eleições para diretor de escolas e em reformular a grade de ensino. As propostas também fazem parte da lista de exigências dos estudantes que, há três semanas, iniciaram série de ocupações em 32 escolas. A medida pode significar o início do diálogo para por fim às paralisações.

A Seeduc afirmou, em nota, que não abre mão da gestão nas unidades. Depois de ser escolhido pela comunidade, o diretor-geral terá que cumprir um período definido de mandato e poderá ser afastado do cargo caso não cumpra sua função da forma planejada e com apresentação de resultados.

O órgão aceitou ainda o pedido de redução de carga horária dos servidores administrativos de 40 para 30 horas semanais, mas afirmou que a viabilidade dependerá da aprovação de projeto de Lei a ser apresentado à Alerj.

Jovem lê em ‘cama’ improvisada no Colégio Estadual Prefeito Mendes de Moraes%2C na Ilha do GovernadorMaíra Coelho / Agência O Dia

Outro ponto concedido pela secretaria refere-se à diminuição do número de exames do Sistema de Avaliação diagnóstica do Estado. Atualmente, o sistema é composto por três pequenos exames e uma prova maior, durante o ano letivo. A Seeduc afirmou que aceita reduzir uma ou duas avaliações menores, Saerjinhos, mas não abrirá mão de um Saerjinho e do Saerj no final do ano.

“Já percebemos que os avanços estão começando”, admitiu o coordenador do Sindicato dos Profissionais em Educação do Rio (Sepe/RJ), Marcelo Santana. “Prometeram diminuir as avaliações externas, mas queremos o fim”, enfatizou Santana. Segundo ele, a reunião com o governador em exercício Francisco Dornelles, que aconteceria ontem, foi adiada para sexta-feira, junto com a próxima rodada de negociações com a Secretaria de Educação.

As mudanças no órgão chegaram horas após a Defensoria Pública conseguir derrubar a liminar que autorizava a reintegração de posse do Colégio Estadual Mendes de Moraes, na Ilha do Governador, primeira escola ocupada, no dia 21 de março. “Esperamos um parecer definitivo favorável para garantir a permanência dos estudantes de forma pacífica”, crê a defensora Eufrásia Maria, responsável pela Coordenadoria dos Direitos da Criança e do Adolescente.

Clique e veja o infográfico completo das escolas ocupadas no RioArte O Dia

A unidade foi a única que a Seeduc pediu a reintegração de posse. “Acredito que o Estado não tenha refletido tanto antes de propor essa ação”, aponta Eufrásia, que acredita em uma resolução pacífica para o impasse, “Vamos fazer um calendário de visitação e mediação de conflitos nas escolas”, propõe a coordenadora.

Entre aulões e limpeza

Atividades domésticas: uma matéria que não faz parte oficialmente do currículo do Ensino Médio, entrou na rotina dos adolescentes de 15 a 18 anos que ocupam o Colégio Estadual Mendes de Moraes, na Ilha do Governador. Às 6h30, o sinal que marcava o início das aulas, agora anuncia o começo dos trabalhos. Equipes se dividem para preparar as refeições, recolher o lixo, limpar os banheiros e os dormitórios. 

Aluno do primeiro ano, Flávio Mercier, de 17 anos, para e revela que se sentiu humilhado ao descobrir livros didáticos para descarte enquanto a direção apenas lhes dava livros de Biologia e Português para estudar. “Achamos os exemplares lacrados, prontos para descarte”, lamenta.

Após a limpeza e o desabafo, os alunos seguem sua rotina com aulões e discussões sobre política e sociologia, entre outros temas atuais, o que segundo eles, não costumava acontecer no Mendes de Moraes.

“Esse momento está me proporcionando discutir política, gênero e luta por conquistas”, diz Jeniffer Elizabeth, de 15 anos, estudante do 1º ano do Ensino Médio. “No início minha família não entendia, mas agora me apoiam”, conta.

Alunas protestam contra assédio na PUC

Alunas da Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC) ocuparam ontem a instituição para protestar contra o machismo no campus. O evento ganhou força após a criação nas redes sociais da hashtag ‘#NósPrecisamosdoFeminismonaPUC’, em que as mulheres podem relatar casos de assédio sexual dentro da universidade. Durante todo o dia, as estudantes promoveram debates e espalharam cartazes nos pilotis com os dizeres: “O feminismo nunca matou ninguém” e “Mexeu com uma, mexeu com todas”. A PUC informou que o evento foi autorizado pela universidade e que está “aberta para receber as denúncias”.

Colaborou a estagiária Julianna Prado

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