Por luis.araujo

Rio - A assistência às famílias das vítimas do desabamento e a apuração das causas do acidente são as prioridades, neste momento, do Consórcio Contemat/Concrejato, responsável pela obra da ciclovia Tim Maia, na Avenida Niemeyer, zona sul do Rio de Janeiro, de acordo com nota divulgada pela companhia. Parte da pista desabou e causou a morte de duas pessoas, quando uma violenta onda atingiu a estrutura.

GALERIA: Parte de ciclovia desaba em São Conrado

A chegada de um ciclone pode ter favorecido a forte ressaca. A grande pressão sobre as estruturas deveria ser projetada na obra%2C segundo especialistasFernando Frazão / Agência Brasil

“Assistentes sociais da empresa estão em contato com familiares das vítimas, prestando o suporte necessário”, diz a nota. O consórcio informou que profissionais da empresa, envolvendo especialistas em engenharia costeira e estrutura, estão na ciclovia desde as primeiras horas de hoje, à procura de evidências que ajudem a elucidar o caso.

Desde ontem pela manhã, quando desabou o trecho da ciclovia, o consórcio vem colaborando “integralmente” com as autoridades públicas e os órgãos da prefeitura do Rio de Janeiro, “com o objetivo de esclarecer as causas do acidente o mais brevemente possível”, conclui a nota.

O secretário de Governo da prefeitura do Rio de Janeiro, Pedro Paulo Carvalho, anunciou nesta sexta-feira a contratação de perícia independente para apurar as causas do acidente. A perícia será feita pelo Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe/UFRJ) e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Hidroviárias (INPH).

O estudo levará em consideração aspectos estruturais e variáveis marítimas em toda a ciclovia da Avenida Niemeyer para investigar as causas da tragédia e será estendido até a ciclovia do Joá, que está em construção. Segundo a prefeitura, o laudo conclusivo deverá ser entregue em até 30 dias.

Confira o gráfico para entender como aconteceu o desastre fatalAgência O Dia

Empresa trocou engenheiro no final da obra

Dois meses antes da conclusão e inauguração da ciclovia Tim Maia, na Avenida Oscar Niemeyer o responsável técnico pelo projeto foi substituído pela empreiteira contratada para a obra. A mudança foi feita por meio de um aditivo contratual assinado em novembro. Mesmo com a substituição, aprovada pelos órgãos municipais, o nome do engenheiro que deixou o projeto consta na relação de responsáveis pela obra apresentada na tarde desta sexta, 22, pela prefeitura do Rio.

De acordo com o termo aditivo do contrato, o engenheiro Hércules Bruno Neto foi substituído por Danilo Alves Pereira, por "solicitação da contratada". A legislação que fundamenta o aditivo contratual permite a substituição "por profissionais de experiência equivalente ou superior, desde que aprovada pela administração". A alteração é objeto do sétimo termo aditivo no contrato, publicado na edição do dia 13 de novembro do Diário Oficial do município. De acordo com o termo aditivo do contrato, a substituição foi aprovada pela Fundação GeoRio, responsável pela contratação da obra.

Hércules Bruno Neto deixou o emprego na Concremat em outubro, pouco antes da substituição. Ele ocupava o cargo de Coordenador de Projetos na empresa. Segundo seu perfil profissional, ele se formou em engenharia civil pela Universidade Gama Filho (UGF) em 1987, e em Economia pela Universidade de Sorbonne, na França, em 1978. Procurada, a empresa não se posicionou até o momento sobre o afastamento do funcionário.

Força de baixo para cima das ondas gigantes é causa provável da queda de trecho da ciclovia. Mas especialistas apontam erro de cálculo na construção dos pilares da pistaJohnson Parraguez / Parceiro / Agência O DIA

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Questionado sobre a substituição dos funcionários responsáveis pela obra, o secretário Pedro Paulo (PMDB), não soube precisar quais os motivos para a substituição. Segundo ele, a substituição "não foi por motivos de discordância técnica ou executiva no projeto". "A mudança do responsável técnico não foi por uma mudança do projeto ou da execução. O responsável técnico se desligou da empresa por motivos outros", afirmou o secretário

Na relação divulgada nesta tarde, a prefeitura aponta como responsável pelo projeto estrutural da ciclovia, o engenheiro Marcello José Ferreira Carvalho. Além dele, também atuou como responsável pela execução do projeto o engenheiro Ioannis Saliveros Neto.

Relembre a tragédia

Planejada para durar 40 anos, ao custo de R$ 44 milhões, parte da ciclovia Tim Maia na Avenida Niemeyer, em São Conrado, caiu na quinta-feira pela manhã, três meses após a inauguração, matando duas pessoas. Nesta quinta-feira, foram resgatadas duas vítimas, o engenheiro Eduardo Marinho Albuquerque, de 54 anos, e Ronaldo Severino da Silva, de 60 anos. A primeira será cremada no Memorial do Carmo, Região Portuária da cidade, às 11h30 deste sábado. Ainda não há informações oficiais sobre o sepultamento da segunda.

Nesta manhã, a família de Ronaldo, que seria que seria gari comunitário na comunidade da Rocinha, esteve no Instituto Médico Legal (IML) do Centro, mas não quis falar com a imprensa. Segurando uma pasta no colo, para a qual olhava a todo momneto, a esposa da vítima, casada há 12 anos, chorava copiosamente. Ela estava cercada por cerca de cinco pessoas.

Força de baixo para cima das ondas gigantes é causa provável da queda de trecho da ciclovia. Mas especialistas apontam erro de cálculo na construção dos pilares da pistaJohnson Parraguez / Parceiro / Agência O DIA

A Polícia Civil abriu inquérito para apurar as causas do acidente, que segundo especialistas ouvidos pelo DIA teria sido provocado por falhas no projeto ou na estrutura da via. As pistas não estariam preparadas para suportar o choque das ondas do mar, que na quinta amanheceu sob forte ressaca. A ciclovia foi interditada por tempo indeterminado.

Para José Schipper, engenheiro civil e vice-presidente do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea-RJ), provavelmente, o que aconteceu foi um problema na concepção do projeto. “A amarração de ferro que faz a ligação entre os pilares e a parte horizontal da estrutura não foi forte o suficiente para aguentar as ondas”, afirma. Já o engenheiro Raul Rosas, do Departamento de Engenharia Civil da PUC-Rio, concorda.

“Uma onda forte deve ter atingido a estrutura de baixo para cima causando uma força aparentemente superior ao que foi previsto no projeto”, avaliou. Outra hipótese é que no trecho do acidente só havia uma viga. Nos demais trechos, há duas vigas, o que dificulta o tombamento. O professor da PUC e o vice-presidente do Crea-RJ compararam a possível causa do desabamento com a queda de uma passarela na Linha Amarela, em 2014, que foi atingida por um caminhão. Na ocasião, cinco pessoas morreram e quatro ficaram feridas.

Com informações de Estadão Conteúdo e Agência Brasil

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