Por gabriela.mattos

Rio - Em menos de 48 horas, seis pessoas foram vítimas de bala perdida no Rio de Janeiro e na Baixada Fluminense. Quatro delas não resistiram e morreram. O caso mais recente de violência aconteceu na manhã desta terça-feira. Um motorista do Uber ficou ferido ao deixar um passageiro no Parque União, em Bonsucesso, na Zona Norte. Fábio do Espírito Santo, de 32 anos, foi atingido na perna esquerda durante tiroteio entre policiais e criminosos na Rua Darci Vargas, nas proximidades da Avenida Brasil. Ele transportava um passageiro adulto e uma criança e foi atingido por um disparo, que atravessou a porta do veículo.

Já na tarde de segunda-feira, na comunidade do Ferroviário, em Japeri, na Baixada, uma mulher de 52 anos foi atingida na cabeça e morreu. A prefeitura decretou luto oficial por três dias. Sônia Maria de Oliveira, que trabalhava vendendo cachorro quente em frente à Praça Olavo Bilac e à Paróquia Senhor do Bonfim, em Engenheiro Pedreira, chegou a ser socorrida na Policlínica Itália Franco, mas não resistiu.

A vítima foi atingida durante confronto entre integrantes de facções criminosos rivais que disputam territórios no município. De acordo com relatos de moradores de Japeri, a morte de Sônia Maria é o resultado dos constantes conflitos entre traficantes do Comando Vermelho (CV) e Amigos dos Amigos (ADA).

Em 2001%2C Selma socorreu o filho Vanderson%2C baleado em tentativa de assalto. Desta vez%2C não teve socorro%3A o rapaz foi morto em baile funkEstefan Radovicz / Agência O Dia

Policiais da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) investigam o crime. O prefeito de Japeri Ivaldo Barbosa dos Santos, o Timor, se disse preocupado com a segurança. “A segurança pública e a proteção do cidadão é um dever do estado”, afirmou. Nas redes sociais, amigos de Sônia criticaram a falta de segurança. “Japeri hoje, resume-se em abandono, insegurança, medo e tristeza”, lamentou uma moradora.

Na manhã de segunda, o pedreiro Jessé Mendes da Silva, 52, foi atingido com um tiro na cabeça na Vila Cruzeiro, na Penha. Jessé esperava o filho chegar em casa. Segundo parentes, ele ainda foi levado para o Hospital Getúlio Vargas, na Penha, mas já chegou morto. A polícia vai tentar descobrir se o disparo que matou o pedreiro partiu da arma de suspeitos ou de policiais. A UPP da Chatuba informou que PMs ouviram o barulho de um tiro vindo do alto do Morro do Caracol e encontraram moradores lavando a calçada porque um homem tinha sido baleado.

Em Bonsucesso, 12 horas antes de o motorista do Uber ser baleado,Marcele dos Santos Gomes, 11, foi atingida por bala perdida na barriga e no braço. A menina atravessava uma passarela na Avenida Brasil, a caminho de sua casa, no Complexo da Maré, quando foi baleada. Ela está internada no Hospital Geral de Bonsucesso, onde o motorista do Uber foi atendido. Os dois casos foram registrados na 21ªDP (Bonsucesso).

Domingo, a diarista Cícera Rodrigues da Silva, 38, levou um tiro de fuzil a caminho da igreja. Naquela madrugada, o cadeirante Vanderson Lessa, 27, foi morto em baile funk na Vila Aliança.

‘Paz e amor’ em velório

Selma Regina de Jesus Lessa da Silva, de 59 anos, viveu duas tragédias com seu filho. Na primeira vez, no dia 23 de abril de 2011, Vanderson foi baleado numa tentativa de assalto e ficou paraplégico. A segunda, na madrugada de segunda-feira, foi novamente atingido por tiros num baile funk em Senador Camará. O jovem cadeirante, de 27 anos, não resistiu.

Ele foi enterrado nesta terça-feira no Cemitério de Campo Grande. Amigos distribuíram cerca de 150 camisas no velório. Na estampa, o jovem, sentado numa cadeira de rodas, fazia um sinal de “paz e amor”. 

Primo da vítima, o motorista Edcarlos Lessa, 32, responsabilizou a PM. “Não entendo como a polícia entra de caveirão (blindado) atirando às 2h em um baile funk. Isso ia acabar acontecendo”. Vanderson estava desempregado, mas a família afirma que ele já havia sido contratado por uma operadora de telefonia e estava só esperando começar. “O sonho dele era comprar um carro adaptado e ter uma vida melhor”, disse a tia Ronersilvia Rosa, 50.

Beltrame: ‘Já tivemos índice maior’

O secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, comentou nesta terça-feira, após reunião na Assembleia Legislativa (Alerj), sobre os casos de bala perdida no estado. “No momento em que se tem uma pessoa baleada já é preocupante, pois é uma vida. Mas historicamente, felizmente, já tivemos índices, indicadores maiores”, atenuou.

Beltrame ainda solicitou aos deputados estaduais a cessão dos 109 PMs que estão cedidos à Alerj, que ainda não confirmou se os mesmos serão destinados para trabalhar nas ruas. Somente o deputado estadual Marcelo Freixo (Psol) possui oito policiais em sua escolta.

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