Rio - A declaração do secretário do estado de Ambiente, André Correa, de que a despoluição de 80% da Baía de Guanabara até os Jogos foi uma meta “ousada e mal colocada” dividiu especialistas. Nesta quarta-feira, Correa também declarou que seriam necessários pelo menos 25 anos para deixá-la em condições adequadas em termos de esgoto, e que no mínimo R$ 20 bilhões precisariam ser gastos apenas com planos de saneamento de cidades que envolvem a baía.
Para o oceanólogo David Zee, “não dá para engolir” esse tipo de argumentação. Ele não culpa Correa, que assumiu a pasta ano passado, mas critica o total abandono de algumas Unidades de Tratamento de Rio (UTR), como a de Irajá, que, mesmo pronta, não funciona. O Rio Irajá é responsável por cerca de 11% do que entra na baía, enquanto o da Pavuna, cujo funcionamento da UTR também nunca chegou a sair do papel, despeja 22%. “O funcionamento das UTRs seria a única solução factível”, comenta.
Zee opina que o “modo ortodoxo” desenvolvido pela Cedae a partir do Programa de Despoluição da Baía de Guanabara não funcionaria a curto prazo. Isso porque, geograficamente, o Rio apresenta muitos empecilhos – principalmente nas regiões carentes em que não há saneamento decente, segundo ele. De acordo com Carlos Minc, secretário estadual do ambiente quando a UTR de Irajá ficou pronta, houve um “jogo de empurra” entre os governos estadual e municipal, o que impediu o funcionamento da unidade. “As UTRs seriam boa medida paliativa”, defende.
O professor do Departamento de Química da PUC-Rio Renato Carreira é contra as UTRs e as ecobarreiras, como a inaugurada ontem pelo secretário André Correa no Rio Meriti. Carreira classificou como “achismo” as declarações de Correa em relação ao tempo que levaria para despoluir a baía e aponta a melhoria da qualidade de vida no entorno como a solução ideal.
?Reportagem do estagiário Caio Sartori