Por gabriela.mattos

Rio - Morta a facadas na tarde de quarta-feira, dentro de casa no Jardim Carioca, na Ilha do Governador, Débora Bittencourt Chaves, de 32 anos, tentou evitar o crime. O principal suspeito é o seu ex-companheiro, Nílton da Silva, de 27 anos. Horas antes, ele havia sido detido e liberado pela polícia porque a mulher havia registrado queixa contra ele por ameaça. A vítima tinha uma medida protetiva contra o ex-companheiro, que seria ex-presidiário e estaria em liberdade semiaberta há um ano. Ele usava tornozeleira eletrônica, que não estava sendo monitorada.

Nílton da Silva%2C que foi companheiro de Débora%2C é o principal suspeitoÁlbum de família

Ainda segundo a polícia, Débora tinha passagem pelo crime de extorsão em 2013, na região da Barra da Tijuca. “Há o histórico de três registros de ocorrência dela contra ele. Lesão corporal, ameaça de morte e injúria, de abril para cá”, lembrou Cardoso.

Débora chegou a fazer outros dois registros em delegacias do Rio, e mesmo sendo ameaçada por Nilton e tendo a casa destruída na quinta-feira, viu o ex-companheiro ser liberado por um delegado plantonista da Central de Garantias (CG-Norte). Uma hora depois, acabou sendo morta. O delegado tinha informado que não havia situação de flagrante e por isso o liberou.

A Corregedoria Interna da Polícia Civil informou que “foi acionada e irá apurar, com rigor, se houve prática de infração disciplinar pelos servidores das referidas unidades”, inclusive a 37ª DP (Ilha do Governador), onde o caso foi apresentado inicialmente.

“A medida era para ele ficar afastado dela por 100 metros e só soube disso na delegacia. O caso foi passado à Central de Garantias e fizemos o procedimento correto”, frisou a delegada da Ilha, Adriana Belém.

A vítima contou na delegacia que Nilton não aceitava a separação. O suspeito já possui passagens pela polícia pelos crimes de tráfico de drogas e extorsão. “Esse crime foi um falso sequestro. Ele foi preso em 2011 e solto em 2015. A tornozeleira dele não está sendo monitorada. Essa é a dificuldade para prendê-lo. A vítima, levou cinco facadas, sendo quatro no peito”, afirmou o titular da Delegacia de Homicídios da Capital (DH), Fábio Cardoso.

A Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) reconheceu em nota que “no momento está sem o monitoramento através de tornozeleiras.”

O suposto erro da Polícia Civil de não manter Nilton preso, preocupou grupos feministas. “Falta reciclagem aos policiais para saberem lidar com esses tipos de casos, que acham que é uma simples briguinha de casal, ou que a mulher está de frescura. Num caso de recente estupro coletivo no Rio, um delegado fez inúmeras perguntas inconvenientes à vítima, o que gerou desconforto. Ou seja, esse despreparo não é de hoje”, lembrou a líder do Movimento Toplessinrio, Ana Paula Nogueira.

Para a advogada de Direitos Humanos e feminista, Eloísa Samy, o caso pode desestimular outras mulheres a denunciarem casos de agressão. “O que mais ouço de mulheres vítimas de violência é essa falta de atenção do poder público. Policiais alegam que a mulher sempre cede e acaba voltando para o agressor. Em geral, são mulheres dependentes financeiramente dos companheiros, com filhos pequenos, sem apoio familiar”

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