Por gabriela.mattos

Rio - Uma batalha travada entre policiais militares e traficantes produziu cenas de ação e de terror em Copacabana e Ipanema. O vídeo mais impressionante, compartilhado nas redes sociais, mostrava um corpo despencando da encosta do Morro do Cantagalo para a morte. Imagens feitas de helicópteros das TVs exibiam PMs feridos, traficantes presos, armas e drogas apreendidas e cidadãos, no meio do fogo cruzado, sem saber onde se abrigar.

A trilha sonora era o barulho de tiros e explosões de granadas. Uma cena tipicamente carioca. A diferença era o local da filmagem. Normalmente, “gravações” semelhantes acontecem nas Zonas Norte e Oeste. O filme, dessa vez, rodou em bairros nobres da Zona Sul.

O saldo final do episódio de violência nos morros do Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, comunidades com UPP, foi de três suspeitos mortos e três policiais militares feridos. Oito bandidos foram presos. Seis deles, sendo dois feridos, se entregaram quando se viram encurralados na mata, na parte mais alta da favela.

A rendição foi intermediada pela mulher de um dos bandidos, segundo o major Vinicius Carvalho, do Batalhão de Choque. Entre os presos, um dos chefes do Morro, conhecido como Samuca.

Também foram apreendidos seis fuzis e duas pistolas, além de uma mochila com oito quilos de pasta base de cocaína, que estaria em poder do homem que despencou da encosta, após ser alvo de tiros disparados do helicóptero da PM. A polícia não soube informar se o suspeito foi morto pelos tiros ou devido à queda. Em nota, garantiu que as circunstâncias serão apuradas.

Metrô fechado

Segundo a Polícia Militar, a guerra começou por volta das nove da manhã de ontem, quando traficantes do Morro Pavão-Pavãozinho, em Copacabana, atacaram as bases da UPP local. Houve tiroteio e dois supostos bandidos foram mortos. À tarde, os traficantes voltaram a atacar. No confronto, o comandante da unidade policial, o capitão Vinicius Apolinário de Oliveira, foi ferido por estilhaços.

Levado para o Hospital Central da PM, no Estácio, foi medicado e recebeu alta. Mais de 120 policiais foram deslocados para enfrentar os bandidos do Pavão-Pavãozinho. O intenso tiroteio deixou em pânico moradores e comerciantes dos bairros de Copacabana e Ipanema. Várias lojas baixaram as portas e um acesso da estação General Osório, do Metrô, foi fechado por mais de uma hora.

As ruas do entorno dos morros, em Ipanema, foram bloqueadas pela PM, para evitar que carros fossem atingidos. Homens do Bope ocuparam o Pavão e o Cantagalo no final do dia, por tempo indeterminado.

Nos arredores do morro, medo, espera e curiosidade

Impedidos de voltar para suas casas enquanto os PMs retiravam os criminosos do morro, moradores formaram plateia, na esquina das ruas Sá Ferreira e Saint Roman, para ver quem estava sendo detido.

A população mesclava sentimentos de medo, curiosidade e descontentamento. “Desde cedo não pudemos descer e subir por causa dos tiros. Quando sobe a Tropa de Choque, sempre tem morte”, criticou mulher acompanhada de crianças.

O Túnel Major Vaz, no fim da Rua Tonelero, chegou a ser fechado, e o desvio foi feito pela Santa Clara. A Sá Ferreira foi também interditada entre Raul Pompeia e a Nossa Senhora de Copacabana.


Comércio baixa portas

Comerciantes da Rua Sá Ferreira fecharam as portas mais cedo ontem por causa da confusão. Um lojista que decidiu ir embora às 17h — outros já tinham fechado — expressou a sensação de insegurança.

“Parte do comércio ficou com as portas pela metade durante o dia. Teve tiro aqui ao lado quando retiraram os corpos. Acho que foi para avisar que estavam descendo. Há 30 anos que estou aqui, sempre foi um perigo, mesmo com UPP”, relatou.

“O morro sempre dividiu mandatos. A última vez que vimos situação parecida foi há uns três anos, quando morreu o ex-chefe (do tráfico)”, contou outro. Alguns bares ignoraram o confronto e continuaram funcionando, servindo de refúgio para moradores que não podiam subir para casa. Teve também quem não se importou com o tumulto e parou para tomar cerveja. “Nem sei o que tá acontecendo”, disse um cliente.

Gravações

Em uma gravação de comunicações por rádio de supostos policiais envolvidos na Operação no Pavão-PavãoZinho e Cantagalo, enviada por WhatsApp, os agentes narram o momento em que os bandidos foram encurralados no alto do morro e negociaram a rendição para os PMs:

PM 1: Estão dizendo que eles vão se entregar...
Homem identificado como capitão: Positivo, estou esperando a mulher dele aqui. Ele falou que vai se entregar na presença (ruído). Eu modelei com ele aqui e ele falou que não vai se mexer. Se eles se mexerem pode atirar. O papo foi esse. Eles vão ficar deitados e parados. Se eles se mexerem, pode dar neles.
PM 3: É muita exigência...
PM 4: Eu tenho um policial do Choque baleado, p... Mata esse filho da p...
PM 5: É isso aí. Mariquinha. Agora ele quer a mulherzinha.
PM 6: Cessa a brincadeira no rádio aí que eu estou em troca de tiro. Cessa a brincadeira!

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