Por gabriela.mattos
Rio - Cerca de 400 policiais, com apoio de 100 carros e dois blindados , fizeram uma megaoperação nesta quarta-feira nas localidades Karatê, Rocinha 2, Favela da 15 e Apês, na Cidade de Deus, em busca de drogas e armas e também para cumprir oito mandados de prisão de gerentes do tráfico local. A polícia estima que 30% das residências da região foram revistadas na ação. Muitas tiveram as portas arrombadas, gerando reclamações de moradores. Foram apreendidos um fuzil, quatro pistolas, uma coronha de fuzil e 5 mil sacolés de cocaína nas casas arrombadas pelos agentes. Em uma delas, suspeitos foram presos.

A ação ocorreu a partir da identificação de criminosos que trocaram tiros com agentes no final de semana, quando um helicóptero da Polícia Militar que atuava na região caiu, matando quatro PMs. Na operação, os alvos da polícia não foram encontrados, mas 14 suspeitos de envolvimento com o tráfico de drogas foram presos. Todos tinham mandados de prisão pendentes. Mais de 6 mil alunos ficaram sem aula por conta da operação.

PM revistaram moradores nas ruas na megaoperação. Muitos reclamaram de ter as portas arrombadasEstefan Radovicz / Agência O Dia

O delegado Felipe Curi, titular da Delegacia de Combate às Drogas, solicitou à Justiça no fim de semana o mandado de busca coletiva para quatro localidades diferentes da comunidade, alegando que muitos traficantes se escondiam em casas de moradores. A juíza Angélica dos Santos Costa autorizou a ação. “Em tempos excepcionais, medidas também excepcionais são exigidas”, justificou em sua decisão.

“O Código Penal nos garante que, com mandado, podemos arrombar as casas. Alguns residentes até elogiaram a ação policial, dizendo que os agentes foram educados. Também tivemos a informação de que traficantes quebraram portas para jogar a população contra a gente”, disse o delegado.
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Os moradores que tiveram as portas danificadas não serão ressarcidos pelo estado, mesmo que a polícia não tenha encontrado material ilícito no interior das residências. “Voltei do trabalho e encontrei minha casa arrombada. Quem vai pagar?”, desabafou uma moradora.
Nas redes sociais, o rapper MV Bill, que mora na comunidade, também criticou os arrombamentos. “A polícia arrombou três apartamentos no mesmo andar que o meu, no bloco onde também moro na Cidade de Deus. São moradores que conheço e sei que saíram para trabalhar”, escreveu o artista, que usou a hashtag #CombataOCrimeMasRespeitemOMorador.
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Curi rebateu as acusações, dizendo que MV Bill poderia ajudar a polícia, fazendo uma denúncia apontando os criminosos. O delegado não descartou a possibilidade de pedir outro mandado de busca coletivo futuramente.
Deco: Perfil violento
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Na operação, a Polícia Civil conseguiu outras informações sobre Edvanderson Gonçalves Leite, o Deco, apontado como o chefe do tráfico da Cidade de Deus, que devem auxiliar na sua captura. A polícia não descarta a possibilidade de ele ter saído da comunidade.
Segundo o delegado Felipe Curi, Deco possui um perfil perigoso. “Ele é um cara extremamente violento, que parte para o confronto com policiais e foi escolhido pela facção para expandir a atuação do tráfico na região”, disse.