Por gabriela.mattos
Rio - Os 153 funcionários das Bibliotecas Parque (BP) começaram a trabalhar ontem sob aviso prévio. A administradora dos equipamentos desde 2014, o Instituto de Desenvolvimento e Gestão (IDG), afirmou que a medida foi tomada diante da indefinição sobre a continuidade, em 2017, do contrato de gestão firmado com o Governo do Estado”. A parceria estava firmada até 2018.
Convênios com as prefeituras do Rio e de Niterói, que garantiam a continuidade do funcionamento, terminam no fim do ano e ainda não se sabe se serão renovados. Só no Rio, com a transição entre prefeitos, as unidades ficaram sem o repasse de dezembro. A partir do dia 1º de janeiro, as unidades do Centro, Niterói, Rocinha e Manguinhos deixam de ser administradas pela IDG e voltam às mãos da Secretaria Estadual de Cultura, em meio à crise financeira do estado.
Projeto das Bibliotecas Parque inclui leitura%2C corais e outras atividades culturais com muitos adeptosMaíra Coelho / Agência O Dia

Ontem, as unidades já passaram a funcionar em horário reduzido, até as 17h. Uma manifestação a favor das bibliotecas está marcada para a próxima terça-feira, às 12h. A parceria entre IDG e Estado implica em repasses trimestrais do governo para a administração. Porém, a relação entre as duas partes tem sido conturbada. Em novembro de 2015, o IDG decidiu por um ‘apagar de luzes’ — faltava o repasse de R$ 9 milhões do governo.

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A pressão social contra o fechamento levou as administrações municipais do Rio e Niterói a oferecerem um convênio de apoio, com término em dezembro. “Estamos tentando trabalhar extramuros, e mobilizar um apoio fora do estado para garantir o funcionamento. Mas não existe um cenário positivo”, admitiu Henrique Oliveira, diretor de finanças e operações do IDG.
Segundo a assessoria do prefeito eleito Marcelo Crivella, “a intenção é manter o apoio às bibliotecas”. A Secretaria Estadual de Cultura comunicou que “está empenhada em obter recursos para que não haja problemas de continuidade” e garantiu que as bibliotecas não vão fechar. Mas, para a administração, ainda fica a incerteza. “Pelo lado da gestão, deixamos a biblioteca no zero a zero, sem passivos. Pelo lado da missão, de maravilhar as pessoas pela cultura, fica um gosto amargo de quero mais”, lamentou Oliveira.
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Um ambiente para todas as pessoas frequentarem
A proposta das Bibliotecas Parque é, desde a inauguração, promover um ambiente para todas as pessoas. “Na Biblioteca Nacional, tem todo um trâmite para entrar. Aqui, tem todas as classes, e nenhuma catraca”, pontuou Herbert Gomes, administrador de 28 anos que frequenta a unidade em frente à Central.
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Um dos grupos de órfãos antecipados da biblioteca é o de moradores de rua. Uma delas é Palmira, 60 anos, que está sempre na unidade para ler e ver filmes. “Nasci no interior da Bahia e nunca tinha visto nada igual. Nunca tinha pegado um livro”, disse.
Ela é integrante do Coral With One Voice, formado por pessoas em situação de rua, que ensaia no espaço. “A biblioteca virou um pólo cultural importante. Vai ser difícil encontrarmos um espaço tão acolhedor. As pessoas de rua se sentem seguras aqui”, refletiu Jan Onoszko, gerente do coral.
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Os arquitetos Núbia Gremion e André Lopes aproveitam a biblioteca para fazer reuniões e estudo. “Viemos aproveitar enquanto der. A arquitetura daqui inspira a gente”, disse Núbia.
Reportagem da estagiária Alessandra Monnerat