Por adriano.araujo, adriano.araujo
Rio - No cômodo de 4 metros quadrados, na comunidade W3, no Recreio dos Bandeirantes, o amor reservado para a pequena Ana Lúcia, que iria nascer no próximo mês, transborda em roupinhas rosas e pacotes de fraldas. Mas, agora, não passam de símbolos de um sonho interrompido de sua mãe, Patrícia Pimenta Rosa, enterrada nesta segunda-feira, no Cemitério do Pechincha. 

Patrícia foi morta com seu marido, irmão e uma vizinha no último sábado. O acusado é o policial reformado da PM Luiz Cláudio Paixão. Ana Lúcia chegou a ser retirada do corpo sem vida de Patrícia, mas não resistiu. O enterro do corpo da bebê ainda será realizado. “Ela tinha três filhos, meninos. A Ana Lúcia seria a princesinha dela”, afirmou José Sales Pimenta,de 62 anos, pai de Patrícia, com parte do enxoval. Muitas roupinhas foram doadas. Outras, compradas com vendas de frango assado que Patrícia fazia, mesmo com a barriga já grande de oito meses.

Desolado com a morte do filho%2C da filha e da neta%2C que chegou a nascer e morreu%2C José mostra o quarto com roupinhas e objetos de bebêLuiz Ackermann / Agência O Dia

Segurando o sapatinho que tinha comprado para a neta, José carregava no olhar a dor de ter enterrado dois filhos — Francisco e Patrícia — no intervalo de apenas uma hora.

“Ano passado perdi outro filho, barbarizado pelo tráfico. Deus reserva a dor que cada homem pode suportar”, disse, buscando na fé o conforto de não ter mais a alegria dos filhos e netos em casa. “A Patrícia vivia comigo aqui, com os filhos de 3, 7 e 12 anos. Agora, cada um vai morar com um parente. Eles não sabem o que aconteceu”, contou. No velório, uma de suas tias, Teresinha Ferreira, 82, contou que naquela noite ela teve um desejo de grávida. “Quis comer quiabo com angu, e eu fiz”.

Patrícia foi enterrada ontem à tarde no Cemitério do PechinchaLuiz Ackermann / Agência O Dia

Durante os enterros dos irmãos, a tristeza das cerca de 70 pessoas presentes se revezava com o coro de uma única palavra: “justiça”.

PM reformado Luiz Cláudio Machado Paixão%2C de 55 anos%2C acusado de matar todos a tiros em um bar após uma brigaDivulgação

Acusado está foragido

A Divisão de Homicídios fez buscas, nesta segunda-feira de manhã, na casa do suspeito da chacina. Os investigadores também estão procurando o atirador em outros pontos do Rio.

O titular da DH, delegado Fábio Cardoso, classificou o suspeito como uma pessoa violenta e covarde. “Um cara desequilibrado, perigoso e violento. Teve um desentendimento bobo, se sentiu ofendido por ter sido contrariado e executou as pessoas de forma covarde e brutal”, disse Cardoso.
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Segundo ele, o suspeito era conhecido na comunidade por ser violento, andar armada e ameaçar moradores. Quando ficava bêbado, arrumava confusão, disse o delegado.

A PM não informou o motivo do afastamento do sargento Paixão. A DH já ouviu testemunhas. Se condenado, o sargento pode pegar até 150 anos de prisão. Quem tiver informações que levem à prisão do suspeito pode entrar em contato com a Central de Atendimento ao Cidadão da Policia Civil através dos telefones (21) 2334-8823 e 2334- 8835 ou pelo chat através do site https://cacpcerj.pcivil.rj.gov.br. O anonimato é garantido.

Reportagem de Bruna Fantti e Jonathan Ferreira