Chefe da emergência do Hospital Miguel Couto, na Gávea, Bruna Fontes já não sabe o que é aproveitar a noite de Natal em família há quatro anos. Para ela, não é problema. Difícil é convencer a mãe, já que são poucos os momentos em que a família fica unida. E a situação ficou ainda mais delicada neste ano, já que o irmão de Bruna, que mora nos Estados Unidos, está no país.
“A família é pequena. Para a minha mãe, é um momento muito importante”, lamenta Bruna, de 36 anos. Trabalhar em hospital, no entanto, traz uma reflexão positiva em noites como a natalina, diz Bruna. “É melhor do que dar entrada na emergência”, diz.
Um clássico das ‘profissões da noite de Natal’ são os taxistas. Em um ano marcado pela rivalidade com a Uber, eles estão divididos entre não trabalhar e trabalhar em horário prolongado. Mário Alexandrino, de 27 anos, escolheu a segunda opção. Para a família, vai restar apenas o almoço do dia 25. “Foi um ano ruim, tivemos que aumentar a carga horária. A esposa entende, mas os pais reclamam. Dizem que eu poderia ser mais presente, que isso não vale a pena”, conta. O colega Júlio Gos, de 51 anos, é mais pessimista. “Como é que vou trabalhar no Natal com esse Uber aí?”, questiona.
Se o taxista pode escolher, porteiros de prédios não costumam ter opção. Mas nem sempre a solidão é motivo de tristeza. “Trabalho todo Natal. É tranquilo. Ganho mais e ainda tem a caixinha”, conta Elcione Veiga, de 57 anos, funcionário de um prédio na Lagoa. “Trabalhei dez anos em agência de automóveis como motorista. Lá, sim, era muito cansativo”, relembra Veiga, que mora sozinho no Rio e visita o filho em Itaperuna nas férias.
E também sobra para os funcionários do Centro de Operações Rio, que funciona durante as 24 horas do dia. É o caso da assessora Nathalia Sandonato, de 29 anos, que vai passar a madrugada trabalhando. “Quem fica triste é a minha avó. Diz que Natal não é dia de trabalhar e pergunta se eu comi direitinho”, explica Nathalia, que passa o seu segundo Natal seguido trabalhando.