Rio - Os familiares da jovem Rayanne Christini Costa Ferreira, de 22 anos, morta barbaramente há duas semanas, grávida de um bebê de sete meses, por Thainá Silva Pinto, de 21 anos, e o marido Fabio Luiz Souza Lima, de 27, receberam na manhã desta sexta, os integrantes da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, presidida pelo deputado Marcelo Freixo (Psol).
Participaram da reunião a mãe de Rayanne, Bárbara Filomena, a tia Jupira Costa e a filha de Rayanne, Maria Eduarda, a Duda, de apenas três anos. Os familiares, ainda muito abalados, elogiaram o trabalho da Comissão de Direitos Humanos.
O deputado Marcelo Freixo também mostrou preocupação com a filha de Rayanne, mas considerou a reunião muito positiva e elogiou o trabalho jornalístico feito pelo DIA, que acompanhou o caso desde o início, quando Rayanne estava desaparecida.
"Chegamos à família graças ao DIA. Trabalho com direitos humanos há 30 anos e não me lembro de outro caso assim. O primeiro passo foi acionar a polícia, mas no meu primeiro contato vimos que o trabalho já tinha sido feito, e muito bem feito pela delegada Elen Souto. O segundo é prestar assistência às vítimas. A isso chamamos direitos humanos, muito embora, infelizmente, muita gente fale o contrário. Mas é isso o que fazemos. A reunião foi muito boa. A Duda é uma menina muito bem desenvolvida, muito bem criada. Conseguimos prioridade para o atendimento psicológico para ela em Padre Miguel, e também na Defensoria Pública, para agilizar a definição da guarda da criança para que ele não fique sem matricula na creche no próximo ano. E vamos tratar, agora, de assistir toda a família", disse Freixo.
O deputado também fez questão de elogiar o trabalho da delegada Elen Souto, da Delegacia de Descoberta de Paradeiros.
"Precisamos elogiar quando o trabalho é bem feito. A Elen é uma grande delegada. Quando entrei em contato com ela, após o DIA me informar sobre o caso, já estava tudo elucidado. Ela também fez um excelente trabalho no Caso Amarildo. É preciso lembrar, inclusive, que esta delegacia só foi criada após aquela tragédia. E que ainda há 6 mil desaparecidos, seis mil Amarildos por ano no Rio de Janeiro, mas muito pouca gente se preocupa com isso", destacou Freixo.
Entenda o caso
O bebê, que se chamaria Maria Luísa, nasceria entre janeiro e fevereiro.
Às 16h, Rayanne não apareceu para buscar a filha ma creche como fazia todos os dias. A família achou estranho e ligou para o celular da jovem, que estava desligado.
Desesperados, parentes decidiram registrar o desaparecimento na polícia. Na ocasisão, para ajudar nas buscas, a Polícia Civil disponibilizou um cartaz com o rosto da mulher e telefones para contato.
Quem era Rayanne
Filha de pais separados, a jovem morava com a mãe, a primeira filha de 3 anos e dois irmãos, um de 7 e 13 anos, respectivamente, em Padre Miguel, na Zona Oeste do Rio. Rayanne, que aos 19 anos parou de estudar para dar à luz a primeira filha, passava os dias revezando os cuidados com os da avó, que sofre de Alzheimer.
Cinco dias depois do sumiço, no dia 18 de dezembro, familiares e amigos de Rayanne fizeram uma manifestação em Bangu, na Zona Oeste do Rio. Eles cobravam da polícia mais empenho nas investigações do caso. Com cartazes e faixas eles percorreram várias ruas do bairro. Um dia antes, no dia 17, parentes da moça estiveram na Central do Brasil, no Centro do Rio, procurando pelo paradeiro na jovem.
No mesmo dia, eles estiveram também em Duque de Caxias e Magé, na Baixada Fluminense, para tentar localizar a jovem. À ocasião, uma testemunha contou ter visto Rayanne na rodoviária da cidade.
Na mesma semana, a família de Rayanne encontrou um antigo celular da vítima e conseguiram acessar o seu Facebook, no entanto, nada de estranho teria sido achado. Já entre os dias 17 e 19, um amigo da família conseguiu rastrear o telefone dela até Caxias, onde o aparelho teria perdido o sinal. Parentes foram até à cidade em vão.
Informações falsas e mensagens racistas
Durante a investigação da Polícia Civil, parantes e amigos de Rayanne receberem várias mensagens falsas sobre o paradeiro da jovem. Muitas delas foram de cunho racista. Jupira Costa, uma das tias da moça, contou que tem recebido, todos os dias, ligações, mensagens e comentários do suposto paradeiro da mulher.
No entanto, segundo ela, muitas mensagens eram de cunho racista. "Nesta semana recebemos a seguinte mensagem de uma pessoa: 'Esse bebêzinho não custa mais que R$ 10 mil no mercado negro. Ainda mais prematuro. O valor vai uns 15%, ou seja, vai valer no máximo R$ 8 mil. É melhor destrinchar os órgãos e vende-lós avulso. O lucro triplicaria'", dizia uma mensagem que a tia recebeu. "Isso é um absurdo, estamos sofrendo. Estamos recebendo diversas ligações. Não tenho nem mais a conta que quantas pessoas nos ligaram para informar o suposto paradeiro da Rayanne", diz.
Comissão da Alerj cobrou resposta da polícia
No dia 22, a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) informou, que atuaria no caso junto à Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA) para cobrar mais agilidade a respeito do sumiço de Rayanne. À ocasião, o deputado estadual Marcelo Freixo (Psol) disse que marcaria um encontro com familiares da vítima e que entraria em contato com a delegada Elen Souto, responsável pelas investigações.
Prisão de suspeita
Outras vítimas
Thainá da Silva Pinto, suspeita de sequestrar Rayanne Christini, teria mentido para a família e disse que estava esperando um bebê. Inclusive, parentes chegaram a comprar berço, carrinho e várias roupinhas para a suposta criança da acusada, que se chamaria 'Laura'. Já nas redes sociais, Thainá contava uma outra história. De acordo com depoimento de pessoas que chegaram serem procuradas pela suspeita, ela anunciou roupinhas em um grupo de Facebook e disse que estava fazendo as doações porque os itens não cabiam mais em sua filha, que havia nascido de sete meses.