Por gabriela.mattos
Rio - A falta de insumos e medicamentos básicos, como antibióticos, tem provocado um assombroso aumento de mortes por infecção em um dos principais centros cardiológicos do Rio: o Instituto Estadual de Cardiologia Aluizio de Castro (IECAC), no Humaitá. A denúncia é da Federação Nacional dos Médicos (Fenam). “Nos últimos oito meses de 2016, metade dos óbitos registrados no instituto tiveram como causa a infecção hospitalar contraída no pós-operatório”, afirmou o médico Jorge Darze, diretor da Fenam.
Médicos que trabalham no IECAC informaram que dos 59 óbitos ocorridos somente entre julho e novembro do ano passado, 30 tiveram como causa a sépsis. A situação é tão dramática que para chamar a atenção dos órgãos fiscalizadores, profissionais de saúde e parentes de pacientes do instituto darão um abraço na unidade, às 10h de hoje. “Será um protesto contra as péssimas condições da unidade”, afirmou Jorge Darze. 
Profissionais de saúde e parentes de pacientes darão abraço na unidade hoje em protesto. Instituto sempre foi referência em cirurgias de coraçãoAlexandre Brum / Agência O Dia

Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde afirma que as denúncias não são verdadeiras e que em 2016 não foi registrado nenhum óbito por infecção hospitalar na unidade. “Os dados de indicadores do IECAC apontam que a taxa de infecção hospitalar de 2016 diminuiu em relação ao ano passado, reduzindo de 7,1% em 2015, para 6%, enquanto a letalidade por infecção foi de 0%”. No comunicado, a SES diz ainda que “não procedem as informações quanto à falta de insumos e medicamentos no IECAC”. E acrescenta “que o abastecimento da unidade tem sido regularizado com compras recentes”.

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“Ontem (segunda-feira), estávamos com um antibiótico apenas. Hoje, não sei”, revelou uma médica do instituto, esclarecendo que o hospital deveria ter de cinco a 10 tipos diferentes de antibióticos, já que os germes e bactérias são diferentes. “Quando o paciente é infectado, inicia-se uma verdadeira batalha para debelar o micro-organismo.
Com a falta de antibiótico, nem sempre o remédio dado é o mais adequado, isso gera uma deterioração no quadro do paciente que pode evoluir para óbito”, explicou a médica. A falta de luvas, máscaras e até sabão para lavar as mãos contribuem para agravar o problema. “Isso sem contar nos enfartados transferidos das UPAS que já vem contaminados por bactérias”, reclama. É possível que as digitais do governo do estado estejam impressas nos casos de mortes no IECAC.
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Em vez da cura veio o óbito
José Carlos Oliveira, 65 anos, ficou 14 anos esperando por uma cirurgia cardíaca. Porém, cerca de 30 dias depois de operado morreu no IECAC. No atestado de óbito, uma das causas é justamente a sepsis pulmonar. “Ele foi para a cirurgia feliz da vida. Pediu até a filha para tirar foto e postar no Facebook”, lembra a viúva, Lígia. Segundo ela, José, um carreteiro aposentado, que ainda trabalhava como mecânico, foi operado, com sucesso, em 21 de novembro de 2016. “Saiu da cirurgia tranquilo. Estava bem e sorridente”, conta. Entretanto, durante o pós-operatório passou a apresentar complicações.
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“Tosse, cansaço, falta de ar e detectaram água no pulmão. Foi entubado três vezes e passou a receber alimentação pela sonda. Tudo indicava que estava com bactéria”, lamenta a viúva. José morreu em 27 de dezembro, três dias antes de completar 66 anos.
“A lei determina que todo hospital deve ter uma Comissão de Infecção Hospitalar e os dados devem ser disponíveis para dar transparência ao atendimento”, a afirmação é do membro da Câmera Técnica de Segurança do paciente do Conselho Federal de Medicina, Alfredo Guarischi.
Ele diz que não conhece o histórico de infecção do IECAC, mas explica que uma análise dos registros pode dizer se houve aumento ou não, relacionado ao tipo de cirurgia e ao tipo do paciente. “Isso tem que ser averiguado com seriedade”, defende.