Por gabriela.mattos
Rio - A inspetora Tatiana Mendes, de 55 anos, é pioneira desde que entrou para a Guarda Municipal, há 22 anos. Era uma das 12 mulheres entre os 1,2 mil guardas contratados no primeiro concurso da GM-Rio, em 1993. Hoje, será empossada pelo prefeito Marcelo Crivella para assumir o comando de 7,5 mil homens, a maior guarda desarmada do Brasil. São oito grupamentos especiais, 15 inspetorias, quatro coordenadorias regionais e 11 Unidades de Ordem Pública (UOPs). Um feito duplamente inédito: ela é a primeira mulher e a primeira guarda municipal de carreira a ocupar o posto em quase 24 anos.
Posse da nova comandante da Guarda Municipal do Rio%2C Tatiana Mendes%2C a primeira mulher a comandar a instituiçãoEstefan Radovicz/Agência O DIA

Tatiana acredita que o fato de ser mulher é secundário à função. “A mulher tem a sensibilidade mais apurada, mas a questão é a formação, o conhecimento técnico, presencial. Consegui realizar bons trabalhos na Guarda, nunca tive dificuldade por ser mulher. Mais do que ser mulher, é a atitude da Guarda. Como mulher, me sinto honrada por Deus”, disse.

Mesmo que considere que ambos os sexos precisam ser igualmente respeitados, a comandante rejeita o rótulo de feminista. Ao invés disso, se descreve como “um ser especial”. “Homens e mulheres fazem parte da Humanidade. Faço parte da Humanidade”, resumiu.

Para Tatiana, a mulher desempenha o papel natural do “cuidado” que anuncia o slogan de Crivella. “Sou mãe e avó. Ser mulher tem essa essência família. Valorizar a família é valorizar a sociedade e a Humanidade. Trabalhar isso como uma corporação é bom e desafiante ao mesmo tempo”, disse.

Ela chora ao mencionar os filhos e os netos. Nascida em uma família de nove irmãos no município de Japeri, na Baixada, ela foi criada ‘com privilégio’ por um pai zeloso. “Meu alicerce é a minha família. Deus primeiramente, porque gosto muito dele, e minha família”, resume.
Tatiana Mendes%2C 55 anos%2C evangélica%2C mãe%2C avó e guarda municipal de carreira tem flores e aromatizante entre os objetos de trabalho na mesaSandro Vox / Agência O Dia

Deus é onipresente em todas as falas de Tatiana, que inclui citações bíblicas. Citando o Salmo 128, ela diz que é “feliz o homem que come do suor do seu trabalho”. Desconversa sobre sua congregação. “Sou evangélica. Creio em Deus. Louvo a Deus. Mas respeito, pois a sociedade é laica. Não tenho ligação com a Universal. Nosso Deus indepente disso, não importa a denominação. O Deus é único”, declarou. Tatiana recebe o cargo do coronel PM Luís Cláudio Laviano, último de uma linhagem de policiais militares no comando da GM.

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Operação Verão terá 220 guardas
A nova comandante da Guarda explica que o tripé no qual apoiará sua gestão é a integração, a presença maior na rotina dos cariocas e o cuidado com as pessoas, para a prevenção de crimes. Sua base é a Teoria das Janelas Quebradas, que postula que “a desordem gera a desordem”, e que pequenos delitos contribuem para maiores.
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Desenvolvida na década de 80 pelos criminologistas norte-americanos James Q. Wilson e George Kelling, a teoria justificou a política de “tolerância zero” no combate à criminalidade de Nova York nos anos 1990.
A Guarda atuará principalmente nas chamadas ‘manchas criminais’, onde há reicidência de delitos. Neste sentido, está o recém-criado Plano de Prevenção Contra Pequenos Delitos e Arrastões nas Praias do Rio — a Operação Verão vai empregar 220 agentes na orla a partir deste fim de semana. Terça-feira, Tatiana se reuniu com o secretário da Ordem Pública, Paulo Amendola, e o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, para definir ações de inteligência.
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Reportagem da estagiária Alessandra Monnerat