Rio - No dia 5, Luiz Carlos Dias Velloso, de 41 anos, foi pela primeira vez ao Hospital Municipal Rocha Faria, em Campo Grande. Sentia falta de ar, uma forte dor no peito e vomitava sangue. Foram mais quatro idas e vindas a unidades da rede de saúde da Zona Oeste, duas delas ao mesmo hospital. “Diziam que não era nada!”, relata o irmão gêmeo Claudio Velloso, 41, revoltado com o que a família acusa de negligência médica. Luiz Carlos morreu na madrugada de domingo, ao dar novamente entrada no Rocha Faria, e a família só conseguiu enterrá-lo ontem pela manhã, no Cemitério de Campo Grande, mais de 48h depois.
Cláudio conta que o irmão chegou com vida ao Rocha Faria às 2h da madrugada de domingo. “Eu entrei com meu irmão gritando de dor, ele chegou vivo”. Segundo relata, a médica que atendeu Luiz Carlos rasurou o laudo médico que dizia que a causa da morte seria uma ‘parada cardiorespiratória’ e retificou para ‘já cadáver’. O hospital não liberou o atestado de óbito para que o corpo fosse retirado do local. Funcionários do Rocha Faria orientaram, então, a família a procurar a delegacia mais próxima para um boletim de ocorrência e que em seguida fosse acionado o rabecão para remoção do corpo no hospital. Assim foi feito. Porém, ao chegar no IML, a família foi informada de que o corpo de Luiz Carlos não havia chegado e nem havia pedido para recebê-lo lá.
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O laudo do IML aponta como causa ‘infarto do miocárdio’. A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou que vai apurar a denúncia junto ao Hospital Municipal Rocha Faria. “A direção da unidade está à disposição da família do paciente para mais esclarecimentos”. Ainda segundo a SMS, “não há registro de solicitação da delegacia da área para a remoção do corpo com o detalhamento informado”.
Agonia foi iniciada na UPA Sepetiba
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A via-crúcis por atendimento começou na UPA de Sepetiba, onde Luiz Carlos fez eletro e exames para saber se estava infartando, mas não acusou nada. “Apenas uma crise de bronquite”, descreveu a esposa Daniele Pereira, 37, replicando a resposta do médico. Uma semana depois, ele teve outra crise respiratória e foi levado de novo para o Rocha Faria. “Os médicos falaram na possibilidade de uma embolia pulmonar, mas como estancou o sangramento, descartaram. Pediram exames, mas levamos dois dias para conseguir uma tomografia, que constatou um enfisema pulmonar leve e que deveria tratar em uma Clínica da Família”, disse.
No sábado, em casa, Luiz teve outra crise, desta vez, fatal. “A gente esperava enterrá-lo com dignidade, mas pela demora não pudemos fazer nem uma oração. O corpo já estava com mau cheiro, inchado, escuro”, conta Cláudio, que teve que recorrer a amigos que trabalham no hospital “para vigiar o corpo” e no IML “para agilizar a remoção”.