Por tabata.uchoa
Rio - Em entrevista ao DIA, o secretário de Segurança Pública, Roberto Sá, afirmou que busca ajuda na iniciativa privada para aumentar o efetivo de policiais nos ônibus, para combater os assaltos, delito que aumentou em 35% em 2016, e que foi tema da série do DIA “Passageiros da Agonia”. As principais preocupações de Sá são o tráfico de armas e as punições brandas a criminosos. Ele elabora uma carta, que será enviada na próxima semana, ao Ministério da Justiça pedindo penas mais severas. Sá comenta os altos índices criminais e chama os policias de heróis perante à criminalidade crescente. Sobre a prisão do ex-governador Sérgio Cabral, ele diz lamentar.
'Lamento a prisão do ex-governador. Mas%2C vida que segue. Tenho meu papel aqui'%2C diz secretárioSandro Vox / Agência O Dia


A sensação de insegurança está aumentando. O que o senhor tem a dizer à população sobre isso?
Também sinto muito quando percebo que os índices de criminalidade estão em elevação e, por mais que as polícias estejam atuando, mesmo no alto de uma crise, isso não esteja se refletindo no aumento de sensação de segurança, é muito ruim para todos nós. Posso dizer que não vai faltar esforço, tempo, saúde para reverter o quadro.

Como o senhor avalia o trabalho da polícia?
A polícia prende muito criminoso reincidente. Outra prova de que a polícia está trabalhando é que apreende 25 armas de fogo por dia. O policial arriscou sua vida para tirá-las de circulação. Tenho orgulho desses policiais, são meus herois. O brasileiro é um povo violento, no país todo. E a demanda da violência está tão grande que as ações heróicas não estão se convertendo em sensação de segurança. Tem alguém fazendo algo, tem ‘alguéns’ tentando diminuir a criminalidade.
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Em um discurso aos policiais da UPP o senhor citou que o filme Jadotville — em que uma tropa de paz da ONU é colocada em risco por conta de acertos políticos. Qual a mensagem que quis passar?
Não tenho essa visão do filme. O citei como uma reflexão do quanto a gente deve se preocupar com quem está em combate. Mostrar que quem está com a missão operacional precisa do apoio em nível tático-estratégico. O meu recado foi para a PM e para o chefe da Polícia. Eu quis dizer: “Eu quero que o policial da UPP esteja protegido, assim como qualquer outro policial”.
O número de policiais mortos e baleados está aumentando nas áreas com UPP. O que, na prática, a Secretaria de Segurança (Seseg) está fazendo para contornar esse quadro?
Criei um comitê permanente de avaliação e deliberação. Quero criar indicadores que me digam como a UPP está indo e, se for o caso, medidas para voltar a ter um nível bom de patrulhamento, de confiança e de menos confronto. Claro que isso não depende só do policial. Uma vez que o criminoso tiver uma arma e quiser dar tiro, como impedí-lo? Preciso que os policiais estejam protegidos para tentar prender as pessoas que se incomodam tanto com o projeto e que querem desestabilizar o programa. O erro está no crime.
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O senhor cogita a retirada de UPPs?
Tudo é possível. Mas pretendo que essa hipótese nunca seja cogitada, porque é um projeto que deu muito certo e temos que aperfeiçoar. A população residente nas áreas com UPP confiam nas unidades e as querem.
O senhor tem um auto de resistência da década de 1990, quando era PM, em Manguinhos. Em 2012, participou da inauguração de uma UPP nela. Esse ano, um policial morreu em patrulhamento no local. O que tem a falar aos policiais sobre sua experiência?
Os policiais da ponta têm que ser ouvidos pelo planejamento. É algo que falta, principalmente na PM. Meu auto de resistência foi quando era tenente do Bope. Nossa equipe foi resgatar um policial. Me orgulho muito.
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O senhor acha que os criminosos estão mais ousados, voltando a patamares de 2006?
A medida que têm acesso a armas de longo alcance, fartura de munições, explosivos, armas e uma lei benevolente aos crimes que eles praticam isso os torna mais ousados. A ousadia a gente percebe à medida que eles dão tiro em uma base, tentam invadir outra área rival, até porque tem um estado formal que tem que se contrapor a isso. Ainda não tenho dados para comparar com 2006. Estou propondo um endurecimento de penas ao Ministro da Justiça. Vou pedir para dobrar as penas e que o tráfico de armas seja considerado hediondo.
O senhor já declarou que se preocupa mais com o tráfico de armas do que com que o de drogas. Sua primeira medida foi criar a Desarme (Delegacia Especializada em Armas, Munições e Explosivos). Como ela vai atuar?
A ideia é fazer um tratamento do conhecimento que a informação sobre apreensão de armas possa gerar. Há muita arma com quem não deveria estar. Não é compreensível alguém que mata cumprir 10 anos de pena e sair no indulto de Natal. Acredito no homem, na ressocialização, mas temos que tratar de forma diferente os desiguais. Se cometeram crimes que fizeram mães chorarem, não é possível terem indulto no Dia das Mães.
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Em crimes como a morte da menina Sofia e de policiais não vemos mais uma pronta resposta da polícia, com operações para desarticular os criminosos. Há alguma orientação em relação a isso?
As operações devem procurar não apenas uma resposta para dizer que está sendo feito algo. A polícia tem feito operações sistemáticas nesses locais. A polícia civil está fazendo investigações. Em relação a mortes de PMs tenho cobrado resposta imediata e institucional. O policial é o nosso maior patrimônio. Contra todo tipo de covardia o estado vai agir de forma institucional.
O senhor diz que está cansado de entregar bandeira às famílias de policiais mortos. Mas não foi visto em nenhum enterro.
Tenho 33 anos de polícia. Não me refiro aos três meses como secretário de Segurança. Já fui em muitos enterros e enterrei muitos colegas. Fui no velório dos policiais do helicóptero que caiu. Mas sempre há representantes. As mortes de policiais me sensibilizam muito.
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O senhor está na Seseg desde o início do primeiro mandado do ex-governador Cabral. Como se sente em relação à prisão dele?
Sempre fui tratado com muito respeito. Só posso lamentar. Mas vida que segue. Tenho meu papel aqui.
O DIA fez uma série de reportagens sobre roubos a ônibus, delito que aumentou muito. Além disso, mostramos que o efetivo responsável pelo policiamento diminuiu. A Seseg adotará medida em relação a isso?
Tive reunião com a Fetranspor e com o secretário de transportes. O governo não tem como pagar pelo RAS (serviço extra do policial). Há a possibilidade de ela pagar através do Proeis policiais extras para o patrulhamento em ônibus. Está sendo estudado.
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Uma das possibilidades da chacina em Campo Grande é o deslocamento de marginais do Morro da Pedreira até a Carobinha. O que pretende fazer sobre esses deslocamentos?
Criamos grupo com agências de inteligência para agilizar o fluxo de informações e antecipar ações, como o deslocamento de criminosos.