Os números são tão evidentes no cotidiano dos tijucanos que os moradores das ruas Maxwell e Almirante João Cândido Brasil espalharam cartazes de alerta nos postes: ‘Socorro! Precisamos de ajuda. Meninos de bicicleta atacam e roubam’. “Quando vejo alguém de bicicleta aqui, já fico gelada. Os meninos que assaltam já são conhecidos”, conta a publicitária Sandra dos Santos, de 41 anos, que frequentemente muda sua rota para evitar os criminosos.
Dono de uma oficina no mesmo trecho da Rua Maxwell, Jocivaldo Bernardo, 47, tem que fechar o estabelecimento mais cedo para fugir da violência. “Não passo das 17h30 aqui. Já tive que colocar dois para correr com uma barra de ferro”, disse.
Na Rua Engenheiro Gama Lobo, a situação é parecida: de sua casa, a estudante Luísa Gomes, 22, ouviu os tiros que mataram Victor Robusti, de 28 anos, após um assalto na madrugada do sábado. “Todos na minha casa estão preocupados, tensos...”, contou. Segundo ela, a morte foi apenas o pico de uma crescente onda de violência na rua. “Acontecem muitos assaltos aqui. Não tem iluminação, comércio, movimento nem policiamento”, lamentou.
A produtora Rebeca França, 32, resolveu voltar para a casa dos pais para fugir da violência tijucana. Ela e o marido, Romenique, se mudaram para o Jardim Botânico em março depois que ele foi assaltado duas vezes na mesma semana: “Estamos reféns. Não corremos mais no Maracanã por medo.”
A Guarda Municipal informou que 301 agentes patrulham diariamente a Tijuca. Já a Polícia Militar comunicou que realiza operações sistemáticas na região com viaturas, motos e a pé.
Morador pede Tijuca Presente
O coronel da PM Paulo César Lopes opina que as viaturas com ar-condicionado e a falta de repressão ao uso de celular em serviço geraram uma ‘zona de conforto’ entre os agentes. “Os criminosos atuam no espaço de ausência do policiamento ostensivo”, disse.
Vítima ainda não conseguiu dar telefone do pai antes de morrer
Baleado, já ofegante, Carlos Henrique Gonçalves Filho, de 25 anos, conseguiu dar o número de telefone do seu pai, de quem herdou o nome, aos funcionários do setor de emergência do Hospital Israelita. Ele chegou ao local após andar 500 metros, depois de ser atingido no peito pelo disparo de um tiro feito por um assaltante, na Rua Ibiturana, na Tijuca, na noite de domingo.
Seu pai, de 59 anos, demorou 20 minutos para chegar à unidade de saúde. Não teve tempo de se despedir do seu único filho homem. A morte do motorista de Uber foi constatada às 21h35, por hemorragia interna. “Foi uma covardia o que fizeram. Ele não reagiu. Saiu do carro, com as mãos para o alto”, disse, com voz embargada, Carlos Henrique Gonçalves.
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O depoimento de uma das testemunhas, ao qual O DIA teve acesso, confirma que não houve reação do motorista. “Eram três homens brancos, o armado usava boné. Quando o motorista saiu do carro, levantou as mãos. Ele era alto e o assaltante se assustou, atirou. O motorista ficou em pé. Os bandidos fugiram sem levar o carro”, diz relato no registro de ocorrência da delegacia da Praça da Bandeira, onde o caso teve seu primeiro registro. Com a morte confirmada, o inquérito passou para a Delegacia de Homicídios.
Henrique Gonçalves,primo da vítima, contou que Carlos tinha 2,05 metros de altura, “ mas era um garoto”. Como meta, queria pagar o financiamento do carro, um Ônix Prata. “Ele era motorista de ônibus, mas o salário não era muito bom. Com a morte da mãe, há 1 ano, ele quis ter o próprio tempo para cuidar da irmã mais nova. A família toda está arrasada”, afirmou. O enterro de Carlos será hoje, às 15h, no Cemitério de Irajá.
Reportagens de Bruna Fantti e da estagiária Alessandra Monnerat