Rio - A dor da família e de amigos no enterro de Paulo Henrique de Oliveira, de 13 anos, morto no Alemão por bala perdida, retrata o sofrimento de quem é vítima da violência no Rio. Entre a noite de terça-feira e a de ontem, o Estado do Rio teve mais um dia de selvageria, uma rotina que tem deixado a sociedade refém do medo e sem esperança.
Mais um policial militar foi baleado; uma médica de 28 anos levou tiros ao entrar, por engano, em área dominada por traficantes e um atleta morreu baleado. Um caixa eletrônico foi arrombado com retroescavadeira e houve protestos com interdição de ruas e vandalismo.
Como O DIA mostrou, os índices de criminalidade verificados no primeiro bimestre de 2017 retrocedeu aos níveis de 10 anos atrás, quando o projeto das UPPs ainda não havia sido criado. No início da noite, moradores do Complexo do Alemão voltaram a interditar as vias no entorno da comunidade para protestar contra a morte de Paulo Henrique, quando ia brincar na casa de um colega.
Mais cedo, funcionários da Fundação Instituto Osvaldo Cruz (Fiocruz), fizeram ato contra a violência em Manguinhos, onde funciona a instituição. O grupo, formado por cerca de 90 pessoas, se reuniu para protestar contra os frequentes conflitos armados que afetam a vida de moradores, trabalhadores e estudantes. Manifestantes ficaram em frente ao Castelo da Fiocruz, onde tocaram tambores e relembraram os casos de violência de maior repercussão na cidade nos últimos anos.
A presidente da Fiocruz, Nisia Trindade, explicou que a diretoria tem articulado ações de segurança coordenadas, como ônibus para deslocamento e orientações sobre locais mais seguros. As atividades de ensino e pesquisa são prejudicadas pelos conflitos.
A Escola Politécnica Joaquim Venâncio, vinculada à Fiocruz, teve as atividades suspensas semana passada devido a tiroteios na região. No dia 17, uma bala de fuzil estilhaçou o vidro de uma sala, passou por cima de uma mesa e foi parar na parede do lado oposto à vidraça.
Mais um policial também foi vítima da violência. O tenente da Polícia Militar Giovani Guimarães, lotado no 7º BPM (São Gonçalo), foi baleado durante uma tentativa de assalto na noite de terça-feira, no bairro Zé Garoto, em São Gonçalo. Antes de ser alvejado, o oficial ainda atirou em um dos assaltantes, que acabou morrendo. O policial permanece internado em estado grave no Hospital Estadual Alberto Torres, em São Gonçalo.
Desabafo da população
Sônia Cruz, aposenadad, 69 anos
“Meu primo policial foi assassinado na Avenida Brasil há um ano, em Guadalupe, numa briga de trânsito. Tenho medo de sair de casa. Falta segurança. Se eu fosse o governador começava a tratar da segurança pagando o salário dos policiais. Isso seria justo”.
Roberta Coutinho, bióloga, 36 anos
“Precisamos de uma política pública. Entre moradores de rua há bandidos. Ficamos com medo porque não sabemos se são criminosos que vão nos assaltar. Em alguns lugares não fico. Não saio depois das 19h, principalmente se estiver com meu filho”.
Leonardo Xavier, ator, 36 anos
“Procuramos deixar o medo dentro de casa ou não vivemos. Preferimos nos divertir em locais fechados a fazer programas ao ar livre porque nos sentimos mais seguros. Eu começaria a tratar da violência pela Educação, com o fim da corrupção”.