Por thiago.antunes

Rio - O arrastão em que 11 lojas foram saqueadas na segunda-feira na Rua Senador Pompeu, ao lado da sede da Secretaria de Segurança, revelou um grave problema na segurança da área: o baixo efetivo do 5º Batalhão da Polícia Militar (Praça da Harmonia).

Responsável pelo patrulhamento da região da Central do Brasil até Santa Teresa, passando pelo Centro e parte da Zona Portuária, a unidade tem atualmente apenas 16 PMs por dia nas ruas, segundo dados obtidos pelo DIA.

Na ação de ontem%2C o 5º Batalhão%2C responsável pelo entorno da Central%2C recebeu apoio de PMs de outros batalhões%2C além de policiais civisDaniel Castelo Branco / Agência O Dia

Para se ter uma ideia da quantidade de pessoas que esses agentes têm de garantir a segurança, apenas no entorno da Central do Brasil, onde há também uma estação de metrô e dois terminais de ônibus, transitam diariamente 600 mil pessoas.

Na segunda-feira, segundo testemunhas, o arrastão foi realizado por mais de 50 bandidos. Uma viatura da PM foi recebida a tiros no local e saiu para pedir reforços, que só apareceram mais de duas horas depois.

Os ladrões levaram mais de três horas para arrombar os estabelecimentos e carregar dois caminhões com as mercadorias roubadas e fugiram sem serem perseguidos. A Corregedoria da PM investiga o caso.

Um grande efetivo da Guarda Municipal participou ontem do 'choque de ordem' aplicado pelas autoridades no entorno da Central do BrasilDaniel Castelo Branco / Agência O Dia

A assessoria de comunicação da Polícia Militar nega que sejam só 16 PMs no patrulhamento, mas afirma que, por questão de estratégia de segurança, a corporação não divulga o efetivo dos batalhões.

O 5°BPM, segundo a assessoria da PM, cobre a área central com motopatrulhas, viaturas e rondas a pé feitas por duplas de policiais. A instituição ressalta ainda que, além disso, o batalhão recebe apoio de policiais a cavalo, do Batalhão de Choque (BPChq) e de agentes dos programas Centro e Lapa Presente.

Na opinião de especialistas em segurança, diante da crise econômica e do baixo efetivo, o comando da PM precisa convocar de volta os policiais que estão cedidos em órgãos públicos ou retirar agentes das UPPs e colocar nos batalhões.

Durante a operação%2C ambulantes tiveram de fechar barracas irregularesDaniel Castelo Branco / Agência O Dia

Apenas na UPP da Providência, segundo dados da corporação, o efetivo é de 209 policiais, para cuidar de uma comunidade onde moram 4.889 pessoas. Segundo o porta-voz da PM, major Ivan Blaz, a corporação perde em média 1.200 policiais por ano, seja por desvio de conduta, ferimento ou aposentadoria.

Para especialistas, falta gerenciamento de pessoal

Segundo o ex-comandante da PM, coronel Ibis Silveira, o baixo efetivo do 5° BPM revela a falta de gerenciamento de efetivo por parte da Secretaria de Segurança. “Desde 2008 foram formados pelo menos 10 mil policiais e todos eles foram direcionados para as UPPs. Esse atual efetivo (do 5° BPM) mostra que não houve cuidado com os batalhões e que falta política de segurança. Me parece que a secretaria está preocupada apenas com as UPPs”, criticou.

Segundo Ibis, pelo menos 2.200 PMs estavam cedidos para instituições públicas, até o ano de 2015. Ele acredita que devido a falta de recursos por parte do estado a solução seria reforçar os batalhões com esse efetivo cedido.

Agentes da Vigilância Sanitária e da Light fiscalizaram estabelecimentosDaniel Castelo Branco / Agência O Dia

Já o ex-capitão do Bope e especialista em segurança, Paulo Storani, afirma que o governo estadual precisa repensar o projeto das UPPs. “O déficit de efetivo da PM é absurdo. Atualmente, por conta de um projeto político, temos mais policiais nas UPPs do que nos bairros da capital. A Secretaria de Segurança precisa definir o que é prioridade neste momento. Com a baixa de policiais nos batalhões, a tendência é que o delito de rua continue aumentando”, avaliou.

Ainda segundo Storani, além de convocar policiais cedidos, a Secretaria de Segurança poderia desmantelar algumas UPPs e reforçar batalhões com esses PMs.

Operação Choque de Ordem

Com apoio de PMs do Comando de Operações Especiais (Bope, Choque e BAC), além de policiais civis, a prefeitura iniciou às 5h30 de ontem um ‘choque de ordem’ no entorno da Central do Brasil.

O objetivo é coibir o comércio de mercadorias ilegais, furto de energia e demais irregularidades e acolher população em situação de rua. O cerco foi montado quatro dias após os 11 estabelecimentos serem roubados na Rua Senador Pompeu e deve durar até segunda.

Os Morros da Providência, do Pinto e da Conceição também devem permanecer ocupados até segunda pelas tropas de elite da PM. Segundo a Polícia Militar, houve resistência do tráfico em alguns pontos, mas ninguém ficou ferido.

Por conta da ocupação, três escolas, uma creche e um Espaço de Desenvolvimento Infantil (EDI) foram fechados no Morro da Providência, afetando 1.888 alunos. Um colégio estadual também não abriu as portas.

Por causa da ação, algumas vias do entorno das comunidades foram interditadas. Sete pessoas foram presas, sendo que três delas estavam em um táxi e fizeram o motorista do transporte refém. O trio foi interceptado e preso na Avenida Francisco Bicalho, no trecho próximo a Estação da Leopoldina.

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