Rio - Num misto de comoção e revolta, a estudante Vanessa dos Santos, de apenas 11 anos, foi sepultada no início da tarde desta quinta-feira, no cemitério de Inhaúma, na Zona Norte do Rio. A menina foi morta dentro de casa na última terça-feira, em tiroteio na favela Boca do Mato, no Complexo do Lins. No momento em que o corpo era colocado no túmulo, familiares e amigos pediram em coro por "justiça'. Cerca de 200 pessoas acompanharam o enterro.
Durante o velório, um grupo segurou cartazes pedindo paz, justiça e questionando a atuação da Polícia Militar, sobretudo nas Unidades de Polícia Pacificadora (UPP). A pequena Vanessa foi vítima de uma bala perdida.
A PM afirma que trocava tiros com traficantes da favela quando a menina foi atingida, mas vizinhos contestam a versão e acusam que o tiro que atingiu a garota partiu de um policial militar.
O pai de Vanessa, Leandro Monteiro de Matos lamentou a ação da polícia. "Sempre foi assim. Nem dentro da sua casa você tem liberdade", disse Matos, enquanto era amparado por amigos. "Eles (policiais) não batem na sua porta. O sentimento é de revolta. Alguém lá em cima que trabalha pra isso, que ganha pra isso, que tem inteligência pra isso, que mude isso. Não está dando certo. UPP não é mais pra existir há muito tempo. Está morrendo muita gente inocente."
Tatiana Lopes, tia de Vanessa, também criticou a ação da PM. A menina foi morta quando os policiais estavam dentro da casa onde ela morava.
"Se foi tiro deles (policiais), se foi de outra pessoa, pra mim não interessa. O que interessa é que, se eles não tivessem entrado na casa, minha sobrinha hoje estava viva. Não interessa se eles apertaram o gatilho; direta ou indiretamente, eles apertaram", sustentou.
A menina Vanessa era aluna do quinto ano da Escola Municipal José Eduardo de Macedo Soares, no Lins de Vasconcelos. Na terça-feira, ela deixou a escola às 14h30. Foi baleada em casa cerca de três horas mais tarde. As aulas na instituição de ensino, que abriga 400 alunos, estão suspensas.
Parentes e amigos fazem protesto contra morte de criança no Lins
Parentes e amigos da vítima fizeram um protesto em frente à capela onde o corpo da menina estava sendo velado. "Não foi bala perdida. No relato das testemunhas, todos dizem que não foi bala perdida. Atiraram da porta da casa e atingiram minha filha. Foi uma execução", defendeu Leandro, que foi liberar o corpo da filha no Instituto Médico Legal (IML) nesta quarta. Durante o protesto, a família levou cartazes com os dizeres: "Fora UPP", "Queremos Vanessa de volta", "Onde está a pacificação?", "Queremos paz".
Logo depois, o grupo rumou para a Linha Amarela, no sentido Barra. A pista, que já está liberada, ficou sem acesso por cerca de 1h. Segundo o Centro de Operações Rio (COR), os motoristas devem evitar a Linha Amarela. Há lentidão ainda na Linha Vermelha e Avenida Brasil.
Oficial não disparou contra casa onde menina Vanessa foi morta, diz UPP
O tenente Marcos Luiz, subcomandante da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) Camarista Méier, relatou em depoimento não ter feito nenhum disparo contra a casa onde a menina foi atingida. A informação é da Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP), que divulgou o teor do depoimento do oficial na noite desta quarta.
Segundo o oficial, que portava apenas um fuzil no momento da ação, ele e sua equipe foram alvos de disparos de criminosos que estavam na parta alta da comunidade, mas não revidaram. Ao tentarem localizar os bandidos, o tenente foi alertado por uma moradora sobre uma movimentação suspeita próximo à casa.
Ao tentar entrar na residência, Marcos Luiz foi atingido por três disparos de pistola no colete vindos de dentro da casa. Ao se virar para proteger duas mulheres que estavam do lado de fora, o policial foi atingido por outros dois tiros nas costas, também de pistola, sendo um no ombro e outro também no colete.
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O tenente ressaltou que não viu a menina nem o suspeito em nenhum momento do ataque. Ainda segundo ele, as mulheres se identificaram como parentes de Vanessa. Elas seriam Regineide de Souza, a madrinha que socorreu a criança e Maria do Socorro, a avó da menina.
O subcomandante foi socorrido por sua equipe para o Hospital Naval Marcílio Dias. Houve confronto durante o resgate. Em seguida, uma segunda equipe tomou conhecimento de que Vanessa também havia sido atingida.
*Com informações do Estadão Conteúdo