Por gabriela.mattos

Rio - A Polícia Rodoviária Federal anunciou que as fiscalizações nas vias localizadas em áreas de fronteira do país, já resultaram na prisão de pelo menos 1.300 pessoas, apreensão de 22 toneladas de maconha, de 255 quilos de cocaína, 32 quilos de crack e 42 armas de fogo desde o último dia 10, quando começou operação que visa combater o roubo de cargas e entrada de armas e drogas no Rio. Segundo o superintendente da PRF, José Roberto de Lima, o trabalho preventivo, que objetiva ampliar o cerco contra quadrilhas que agem no estado, vem conseguindo evitar que as rodovias sirvam de e entrada para materiais ilícitos.

O cinturão montado abrange as fronteiras brasileiras nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul, além das rotas de acesso ao Rio por Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Espírito Santo.

Quem passou pela Praia de Copacabana%2C Arcos da Lapa e Aterro do Flamengo viu comboios%2C carros blindados e tropa fardada. Mesmo assim%2C carioca está apreensivo com o futuroSeverino Silva / Agência O Dia

De acordo com Lima, desde a última sexta-feira, quando as tropas federais começaram a atuar no Rio, dois roubos de cargas foram evitados na Rodovia Presidente Dutra, sendo o último deles no trecho de Belford Roxo, na manhã de ontem.

“Evitamos que um caminhão que transportava carga de 28 toneladas de carne avaliada em R$ 440 mil, fosse levado por bandidos. O reforço federal nas ruas permite atuação preventiva e com inteligência para acompanhar a mancha criminal”, ressaltou.

O superintendente lembrou que na tentativa de atrapalhar o trabalho das forças de segurança, bandidos diversificam as áreas de atuação.

O presidente Michel Temer, que na tarde de ontem sobrevoou a Região Metropolitana do Rio a fim de acompanhar o trabalho dos militares, garantiu que o número de roubos de cargas no estado já apresenta redução nos primeiros dias de operação. O balanço, no entanto, não foi divulgado. Temer se reuniu com a cúpula das Forças Armadas, o governador Luiz Fernando Pezão, o prefeito Marcelo Crivella e secretários estaduais e municipais e membros do alto escalão da segurança pública.

Os ministros Raul Jungmann (Defesa), Torquato Jardim (Justiça), Henrique Meirelles (Fazenda) e Moreira Franco (Secretária-Geral da Presidência) estiveram presentes no encontro que ocorreu no Comando Militar do Leste, no Centro. Na ocasião, Crivella colocou a Guarda Municipal à disposição para auxiliar no combate à violência.

Após a reunião, Temer afirmou que a operação denominada “O Rio quer Segurança e Paz” já vinha sendo discretamente planejada há pelo menos seis meses em Brasília. O presidente explicou que o decreto que autoriza o uso de 10 mil agentes federais de segurança, sendo 8.500 das Forças Armadas, por meio da Garantia da Lei e da Ordem (GLO), até 31 de dezembro de 2017, poderá ser prorrogado até o mesmo período de 2018, e que a medida não foi tomada em respeito à Lei de Diretrizes Orçamentárias.

Luiz Fernando Pezão%2C Michel Temer e Marcelo Crivella se reuniram ontem no Comando Militar do LesteMárcio Mercante / Agência O Dia

Apesar das tropas na rua, há incerteza com o futuro

Cartões postais do Rio e alguns pontos da Zona Norte ganharam tons verde-oliva ontem, no terceiro dia de presença ostensiva de militares na cidade. Quem passou pela Praia de Copacabana, Arcos da Lapa e Aterro do Flamengo viu comboios, carros blindados e tropa fardada se preparando para a “guerra” mencionada pelo ministro da Defesa, Raul Jungmann. Apesar da sensação de segurança, havia incerteza quanto ao futuro pós-Garantia da Lei e da Ordem. 

No Aeroporto Santos Dumont, os recém-chegados eram recepcionados por quatro tanques, dois carros e cerca de 20 homens do Corpo de Fuzileiros Navais. O médico Pedro Paulo Lemos, 68 anos, olhava a presença dos oficiais com estranheza. Há anos, ele deixou o Rio para morar em Petrópolis. “O Exército não é treinado para lidar com bandidos. O que deveria se fazer é preparar melhor a PM”, opinou.

Uma família chegou a tirar ‘selfie’ com os fuzileiros na orla. A farmacêutica Allen Bastiani, de 34, disse ter estranhado quando as tropas na praia. No entanto, confessa que os passeios com seu cachorro ficaram mais tranquilos. “Foi um fim de semana com sensação de mais segurança”, afirmou.

Os moradores de Fazenda Botafogo dividiam o ponto de ônibus com a Brigada de Paraquedistas, que fazia blitz no local no início da tarde. Os soldados ocupavam as passarelas 28 e 23 da Avenida Brasil. A região é conhecida pelos roubos de cargas e arrastões.

“Nem com o Exército dá jeito. Ontem à noite, foi só eles saírem que fizeram arrastão. A sensação de segurança só dura enquanto estão aqui. E depois que eles forem embora?”, questionou o segurança Luiz Bonfim, 47 anos.

Temer destaca a importância da integração do estado e da União

O presidente Michel Temer ressaltou a importância da integração entre as forças estaduais e federais no combate ao crime organizado. “Se as forças atuarem por uns dias, sem nenhuma coordenação, vai resolver durante um tempo, mas depois (quando as tropas vão embora) piora ainda mais”, avaliou.

O porta-voz do Comando Militar do Leste, coronel Roberto Itamar, afirmou que a primeira fase da operação, iniciada na sexta-feira, tem o objetivo de mapear as áreas de atuação dos militares e que isso vai contribuir para ações futuras. Segundo ele, ao final desta primeira etapa, a presença ostensiva de militares nas ruas será reduzida. “Quando forem atingidos os objetivos de reconhecimento e levantamento de dados, haverá diminuição do efetivo nas ruas. Nesses primeiros dias, nenhum confronto foi registrado”, lembrou. Ele voltou a dizer que não haverá ocupação de comunidades.

Itamar comentou que não é possível fazer levantamento do custo da operação, pois no emprego das Forças Armadas é necessário que se leve em conta as circunstâncias operacionais.

“Não é possível determinar, por exemplo, por quantas horas serão utilizados os helicópteros e os blindados. Todos esses dados estão sendo levantados nesta primeira fase para que as próximas ações sejam econômicas e eficazes”, ressaltou. Existe a preocupação com a morte de inocentes durante as futuras etapas da operação. O coronel explicou que a primeira etapa é fundamental para minimizar ocorrência de falhas.

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