Rio - 'Enquanto o Rio de Janeiro definha, esses sujeitos se empapuçam com dinheiro da corrupção". A afirmação foi dada pelo procurador do Ministério Público Federal, Carlos Alberto Gomes de Aguiar, em coletiva sobre a operação Cadeia Velha, que desmantelou um esquema de pagamentos de propinas de empreiteiras e do setor de transporte coletivo a deputados estaduais. Os sujeitos aos quais o procurador se referiu são o presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), Jorge Picciani, o seu antecessor, deputado Paulo Melo, e líder do governo na Alerj, Edson Albertassi, que foram conduzidos coercitivamente para depoimento na Polícia Federal. O esquema incluiria a aprovação de leis para beneficiar empresários do setor de transportes e o uso de firmas para lavar dinheiro. A decisão sobre a prisão deles será definida amanhã, assim como o pedido de bloqueio de bens de todos os envolvidos e das empresas, feito pelo Ministério Público. Só de Jorge Picciani, o valor a ser bloqueado seria de R$ 154 milhões.
Picciani e Melo teriam recebido R$ 112 milhões em cinco anos para facilitar medidas legislativas favoráveis às empresas. Investigadores afirmaram na denúncia que parte do dinheiro foi pago a mando de Sérgio Cabral.
A decisão do desembargador Abel Gomes, do Tribunal Federal da 2ª Região, ordenou a prisão preventiva de Jorge Luiz Ribeiro (que intermediaria os pagamentos); Carlos Cesar da Costa Pereira (empresário), Andreia Cardoso do Nascimento (chefe de gabinete de Paulo Melo); além de Lélis Marcos Teixeira, Jacob Barata Filho e José Carlos Reis Lavouras, empresários de ônibus. Foram expedidas prisões temporárias de cinco dias para Anna Claudia Jaccoud, Marcia Schalcher de Almeida, Fabio Cardoso Nascimento e Felipe Carneiro Monteiro Picciani (filho de Picciani).
Foram cumpridos busca e apreensão em 37 endereços. Agentes apreenderam computadores e celulares. Na casa de Albertassi foi apreendida a carta original em que três conselheiros de cargo técnico renunciavam a cargo do Tribunal de Contas do Estado.
A Operação Cadeia Velha, referência ao prédio da Alerj que foi prisão no período imperial, foi antecipada após a indicação de Albertassi pelo governador Luiz Fernando Pezão a vaga de conselheiro, considerada manobra política. A indicação fez com que o procurador do Estado, Leonardo Espíndola, que defende o governador em processos, pedisse desligamento. Procurado, ele disse que "vai tirar licença".
O superintendente da PF do Rio, Jairo Souza Silva, avaliou que o estado "vem sendo saqueado por este grupo há mais de uma década, tendo como consequência a falência moral e econômica do estado: salários atrasados, hospitais sem condições, polícia sucateada, com metade da frota parada e violência".
Salário de servidor atrasado
Enquanto as provas apontam para milhões desviados por políticos e empresários, os servidores do estado sofrem com salários atrasados e corte de gratificações.
A professora titular da Uerj Pêonia Guedes, 71 anos, disse que depende de amigos para pagar até plano de saúde."É resultado da corrupção e incompetência do Estado. Agora o governo não fala nem o calendário de pagamento. Recebi o salário de agosto agora. É tudo muito difícil", afirmou.
Mariana Silva, esposa de policial militar, disse que o marido sofre com a falta de armas, viaturas e pagamento. "Policiais estão morrendo devido à falta de estrutura do Estado e a gente vê essa farra com nosso dinheiro".
Políticos e empresários se defendem
A defesa de Jacob Barata Filho afirmou, em nota, que "A decisão não trouxe novas acusações contra o empresário e se baseou nas mesmas conjecturas que haviam pautado o primeiro decreto de prisão". "Por isso, a defesa pedirá o restabelecimento das medidas que foram ordenadas pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, que já decidiu que a prisão preventiva de Jacob Barata Filho é descabida e pode ser substituída por medidas cautelares".
Picciani afirmou, em nota, que o que aconteceu com seu filho é "covardia feita para atingir somente a mim". O peemedebista também disse que "A Alerj não atua a serviço de grupos de interesse, não interfere em aumento de tarifas e não votou para isenção de IPVA para ônibus, porque isso foi feito por decreto pelo ex-governador, quando eu nem sequer tinha mandato". Ele negou as acusações, assim como Paulo Melo. A defesa de Albertassi não retornou. A Fetranspor disse que está a disposição da Justiça para esclarecimentos.