Rio - O estado do Rio vem sofrendo há muito tempo com a escalada da violência — guerra de traficantes, confrontos com a polícia, roubo de cargas, balas perdidas —, e nas últimas semanas a situação começou a se mostrar fora de controle. Desde o início deste ano, pelo menos três crianças foram mortas a tiros e outras três feridas da mesma forma. O número de policiais mortos este ano também disparou: já são 18 (16 PMs e dois civis, um deles delegado. Entretanto, a dura decisão de uma intervenção só foi tomada após a série de arrastões na Zona Sul durante o Carnaval e depois do governador assumir que houve falha no planejamento.
No intervalo de três dias de fevereiro, duas crianças morreram e outras três ficaram feridas vítimas de disparos de armas de fogo. Jeremias jogava bola após voltar da escola no Complexo da Maré, no dia 6, quando foi baleado por um tiro disparado durante confronto entre policiais e traficantes. No mesmo dia, Emily Sofia, de 3 anos, morta a tiro em uma tentativa de assalto em Anchieta, na Zona Norte.
Dois dias depois, o menino João Pedro Soares da Costa, de 4 anos, foi morto por um tiro nas costas. Ele ia à igreja com o pai, a mãe e os dois irmãos, de 1 e 7 anos no bairro Rio D'Ouro, em São Gonçalo, quando um carro preto entrou na via com os vidros fechados e a luz interna apagada. Bandidos que estavam na rua dispararam contra o carro e feriram o menino.
No Morro da Covanca, na região da Praça Seca que vive uma guerra entre tráfico e milicianos, Evelyn da Silva Coelho, de 15 anos, foi atingida por um tiro na cabeça durante o confronto entre as quadrilhas rivais, no último dia 9. Ela não resistiu e morreu dois dias depois. Outro menino, de 11 anos, também foi baleado dentro de casa em tiroteio na comunidade Bateau Moche, na mesma região.
Nem mesmo lugares tidos como paradisíacos estacaram da escalada da violência. Em Angra dos Reis, Região da Costa Verde, o tráfico tomou conta e uma guerra provocou diversas mortes este ano.
Outra preocupação em Angra, e também em Paraty, são os ousados roubos de caixas eletrônicos com o uso de explosivos. Os casos, ocorridos com frequência na Região Metropolitana, têm causado pânico nas cidades do interior.
O aumento vertiginoso do roubo de cargas já fez as Forças Armadas atuarem em conjunto com as polícias do Rio. Após as ações conjuntas, os números diminuíram, mas os crimes continuam ocorrendo e fazem muitos motoristas desistirem de viajar para o estado.
Arrastões no Carnaval
Apesar da morte de inocentes vítimas da violência no estado, a série de arrastões ocorridos durante o Carnaval foi o estopim para a intervenção federal. Entre foliões e moradores, turistas estrangeiros também foram alvos e chegaram a ser agredidos pelos criminosos. Um supermercado no Leblon foi saqueado. Cenas de violência foram filmadas e compartilhadas em redes sociais, intensificando a sensação de insegurança.
A PM chegou a mudar a distribuição do efetivo após os crimes. Dias depois, na quarta-feira de cinzas, o governador do do Rio, Luiz Fernando Pezão, admitiu que houve falha no planejamento de segurança para o carnaval. "Não estávamos preparados. Houve uma falha nos dois primeiros dias e depois a gente reforçou aquele policiamento. Mas eu acho que houve um erro nosso", disse na ocasião.
Fora da Zona Sul, a violência também fez vítima. Bate-bolas fizeram série de roubos no Centro do Rio, agrediram agente do Centro Presente. Mais de cem foram detidos, apenas dez foram mantidos presos. Além dos PMs mortos, outros vários foram baleados em confronto com criminosos ou tentativas de roubos.
Em Itaboraí, Julia Cabral Guimarães, de 11 anos, e um homem foram baleados durante uma briga ocorrida em um bloco de carnaval. O adulto, de 45 anos, acabou morrendo após ser socorrido em um hospital da região.
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