Presidente da Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro (Fecomércio-RJ), Orlando Diniz,chega à sede da Polícia FederalOnofre Veras/Parceiro/Agência O Dia
Por O Dia
Publicado 23/02/2018 07:37 | Atualizado 23/02/2018 15:51

Rio - O presidente da Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro (Fecomércio-RJ), Orlando Diniz, foi preso preventivamente, na manhã desta sexta-feira, por agentes da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público Federal do Rio de Janeiro (MPF-RJ) na Operação Jabuti, desdobramento da Calicute, a Lava Jato no Rio. Esquema de lavagem de dinheiro e corrupção na Fecomércio tinha o aval de Sérgio Cabral, que também será denunciado pelos crimes.

Plínio José de Freitas Travassos Martins, Marcelo José Salles de Almeira e Marcelo Fernando Novaes Moreira, diretores de confiança de Diniz no Sesc/Senac, são alvos de mandados de prisão temporária na ação. Os envolvidos são acusados dos crimes de lavagem de dinheiro, corrupção e pertencimento a organização criminosa. Além dos quatro mandados de prisão, 10 mandados de busca e apreensão foram cumpridos. Sessenta policiais participaram da ação, que também teve o apoio da Receita Federal. 

As investigações começaram no âmbito da Calicute, quando os investigadores descobriram vários depósitos de grandes valores para escritórios da Adriana Ancelmo, feitos pela Fecomércio. De acordo com as investigações, pessoas ligadas à gestão da Fecomércio teriam feito operações irregulares pagando com altos valores da própria entidade honorários a escritórios de advocacia, somando mais de R$ 180 milhões. Deste valor, R$ 20 milhões teriam sido pagos ao escritório pertencente à Adriana Ancelmo, esposa do ex-governador do Rio Sérgio Cabral, preso em Curitiba.

O esquema usado na Fecomércio, segundo os investigadores, era uma ramificação da organização criminosa de Sérgio Cabral e também lavou, entre os anos de 2007 e 2011, cerca de R$ 3 milhões na empresa de consultoria Thunder Assessoria, de Orlando Diniz. Os crimes tinham o conhecimento e autorização de Cabral e contava com a atuação de Carlos Miranda e Ary Filho, operadores do ex-governador.

O dinheiro era lavado através da assinatura de contratos em que a Thunder prestaria serviços de "elaboração de clipping de notícias" e de "comentário conjuntural com a análise dos fatos mais importantes nos setores empresariais selecionados" para empresas dos Grupos Dirija e Rubanil, serviços estes que nunca foram realizados.

Miranda e Aryzinho repassavam o dinheiro de Diniz e as notas frias aos empresários envolvidos no esquema que, através de suas companhias, as repassavam para as contas bancárias da Thunder. "A PF e MPF são experientes nessa área de desvios de recursos públicos. Essas estratégias não irão funcionar mais. Estamos de olho. Todos sabemos que jabuti não sobe em árvore e que alguém coloca esse jabuti lá em cima. A Lava Jato vai derrubar todos os jabutis", disse Frederico Skora, delegado da Polícia Federal.

Coletiva na Polícia Federal sobre a Operação Jabuti, desdobramento da Operação Calicute, que resultou na prisão do presidente da Fecomércio, Orlando DinizMaira Coelho/Agencia O Dia

Além do prédio onde Diniz mora no Leblon, na Zona Sul do Rio, também foi alvo da operação a sede do sistema Fecomércio, na Rua Marquês de Abrantes, no Flamengo, também na Zona Sul. A 7ª Vara Federal Criminal do Rio também determinou o bloqueio de bens de Diniz no valor R$ 30 milhões.

Os investigadores apurou os indícios de que Diniz usou o esquema de lavagem de dinheiro montado pela organização criminosa de Cabral. Segundo a investigação, a organização também mantinha sete funcionários fantasmas no “Sistema S”, que eram pessoas e parentes ligados a membros da quadrilha.

"Cabral será denunciado de novo. Tanto na lavagem de dinheiro, pois ele foi contactado pelo Diniz em 2007 e foi ele que autorizou Carlos Miranda e Arizinho para usar o mesmo esquema de lavagem, quanto por corrupção passiva, pois pediu vantagem para si com a contratação de pessoas próximas ao núcleo dele", disse o procurador da República  José Augusto Vagos.

A investigação apurou que estas pessoas receberam, por anos, salários da Fecomércio sem nunca tenham trabalhado na federação. Algumas dessas pessoas trabalhavam para o ex-governador e outras eram familiares próximos de outros membros da organização criminosa.

Além de presidente Fecomércio-RJ, Diniz também era presidente do Sesc e Senac do Rio, conforme prevê o estatuto das entidades. Ele foi afastado do comando do Sesc e Senac em dezembro pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) por suspeita de irregularidades no comando dessa entidade.

Desde o afastamento de Diniz da presidência do Sesc e Senac, houve uma intervenção da Confederação Nacional do Comércio (CNC) nas entidades, que agora possuem novos diretores. Procurada desde o início da manhã, a Fecomércio ainda não foi localizada pela reportagem.

Em nota, a defesa de Orlando Diniz disse que não comenta assuntos relativos aos seus clientes ou honorários advocatícios contratados, que são protegidos por sigilo legal. "O escritório tomará todas as providências cabíveis em relação à divulgação e manipulação desses dados pelo Ministério Público Federal", concluiu.

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