Da esquerda para a direita: Luiz Antônio, Jailton, Renato e SalmoDivulgação / Polícia Civil
Por RAFAEL NASCIMENTO
Publicado 03/03/2018 16:32 | Atualizado 03/03/2018 19:12

Rio - O roubo ao banco Santander da Rua Maria de Freitas, em Madureira, na Zona Norte do Rio, foi arquitetado dentro da Penitenciária Gabriel Ferreira Castilho, Bangu 3, no Complexo de Gericinó. Segundo o delegado Phelipe Cyrne, da Delegacia de Homicídios (DH) da capital, os quatro bandidos envolvidos na ação estavam presos juntos, e assim planejaram toda a ação durante o período em que cumpriam pena por outros crimes.

Tudo começou quando Luiz Antônio Benjamim da Silva, que cumpria pena por roubo e tráfico — e que tinha experiências em assaltos a bancos —, chamou Jailton Machado de Oliveira, Salmo Sizinho Ramaldes da Rocha Marques, Renato de Siqueira Ferreira para cometerem o crime.

De acordo com a Polícia Civil, os quatro bandidos não dividiam a mesma cela, mas se encontravam diariamente durante o banho de sol. No começo deste ano, após os quatro receberem liberdade, eles decidiram que cometeriam o primeiro crime juntos. E assim foi feito. Moradores de São Gonçalo, Bangu e Barros Filho, os criminosos se encontraram em Madureira, por volta de 15h, e seguiram a pé até o banco. 

Nos próximos dias, a DH vai apurar como os quatro bandidos entraram no banco com quatro pistolas e três revólveres e fizeram 36 pessoas reféns. Uma testemunha contou ao DIA que os criminosos teriam se identificados como policiais e disseram que tinham um mandado para o gerente. Após serem autorizados pelos seguranças da agência, eles entraram no local sem passar pelo detector de metais e anunciou o assalto. No entanto, eles não contavam com a presença de um policial reformado na unidade bancária. Os quatro bandidos têm mais de 40 anotações criminais.

Tapumes foram colocados na entrada do banco alvo de assalto na sexta-feiraMaíra Coelho / Agência O Dia

"Ouvimos todas as testemunhas durante a madrugada. Não ficou esclarecido uma coisa: quem começou a troca de tiros. Isso será esclarecido assim que pegarmos as câmeras de segurança. Temos dez dias para concluir o inquérito", disse Cyrne. Os presos foram indiciados por latrocínio, sequestro e cárcere privado. 

A ação terminou com dois mortos e três presos. Uma das vítimas fatais é o subtenente Ubirajara Pereira dos Santos, que estava no banco como cliente. O bandido morto é  Luiz Antônio Benjamim da Silva, que teria liderado a ação, e tinha 11 anotações criminais. 

Segundo a Polícia Militar, o sequestro começou por volta de 15h30 e acabou às 19h10. Ubirajara e Luiz Antônio morreram em troca de tiros entre dentro da agência. Após horas de negociações, militares do Batalhão de Operações Especiais (Bope) libertaram 36 reféns.

"Foi desesperador. Tiro para todo lado. Fechamos a loja e jogamos no chão", lembrou um comerciante que tem uma loja em frente ao banco. Com quase dois anos no local, o homem que pediu para não ser identificado, contou que a agência bancária já havia sido alvo de criminosos outras três vezes. "No final do ano passado eles tentaram arrombar esse agência. Chegaram a explodir os caixas eletrônicos, mas não levaram nada", lembrou.

Com mais de 30 lojas, uma galeria que fica de frente para a unidade bancária foi o ponto usado por pelo menos quatro atiradores de elite. Do segundo e terceiro andar do prédio eles tiveram uma visão privilégiada do banco e durante as três horas de terror acompanharam a movimentação dos criminosos. Neste sábado, o DIA esteve no local e conseguiu ver um segurança dentro da agência bancária.

Após entrarem no banco e anunciarem o assalto, os seguranças do Santander não teriam atirado. Testemunhas que estavam no banco contaram à reportagem que os seguranças correram para fora da unidade.

"Eu estava vendendo os meus produtos aqui ao lado quando de repente começou o tiroteio. Foi desesperador. Até os guardinhas que ficam lá dentro saíram correndo com as armas na mão", contou um ambulante que trabalha no local há anos. "Aqui está terrível. Madureira está abandonada. Foi um salve-se quem puder".

Após uma intensa troca de tiros, os bandidos subiram para o segundo andar da unidade. Lá, onde funciona os atendimentos, eles fizeram os clientes reféns. Por ser dia de pagamento para pensionistas, muitos idosos estavam no local. Uma senhora de aproximadamente 70 anos entrou em pânico e precisou ser carregada por policiais. Enquanto isso, uma correria generalizada se formou. "Muitas pessoas, que estavam lá dentro na hora do tiro, correram sem rumo. Abrigamos várias pessoas aqui na loja. Eu pensei que fosse algo parecido com aquilo que eles fazem nos Estados Unidos. Achei que fosse algum atentado", contou uma outra logista. "Mais de vinte clientes que estavam lá ficaram aqui. Demos água e ficamos aqui até tudo acabar", completou a mulher.

Jovem é preso por engano

Após o fim do sequestro, a Polícia Militar entrou no banco, libertou as vítimas e prendeu os sequestradores. Durante esse procedimento, os militares prenderam um jovem de 18 anos, por engano. Moisés Faria da Silva dos Santos havia ido à agência bancária para abrir uma conta. Quando os bandidos entraram na unidade ele estava sendo atendido por uma atendente. Com a troca de tiros, o jovem disse que correu e deixou os documentos para trás. "Não tive como pegar nada. Os meus pertences ficaram lá. Como eu estava sem documento eles não quiseram nem procurar e já me encaminharam para a delegacia", disse.

Após prestar depoimento, o homem foi liberado. "Ele foi receber no banco e fazer o cadastro do cartão e de refém ele passou a sequestrador. Ele ficou esse tempo todo como suspeito, sendo que ele era refém", contou Aline Silva, ajudante de serviços gerais e tia do rapaz.

A PM foi procurada, mas até a publicação desta reportagem não havia se pronunciado. A Polícia Civil informou que o jovem foi conduzido à unidade por não portar documento. Após ser ouvido, foi liberado.

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