Por RAFAEL NASCIMENTO
Publicado 08/03/2018 09:17 | Atualizado 08/03/2018 14:55

Rio - Na manhã seguinte ao ataque que deixou dois mortos e uma pessoa ferida na Praça São Salvador, em Laranjeiras, na Zona Sul do Rio, o medo e a apreensão eram visíveis entre moradores e comerciantes. Muitos relataram os momentos de pânico durante o tiroteio num dos pontos dos pontos mais movimentados da Zona Sul e que reúne centenas de pessoas. A praça fica a poucos metros do Palácio Guanabara, sede do governo do estado, e em frente a um quartel do Corpo de Bombeiros. 

"Há um mês e meio teve uma troca de tiros (na praça), e meu filho até saiu correndo e se escondeu. Moro há 35 anos aqui, e de um tempo pra cá a situação piorou. Aqui sempre foi um reduto de jovens, e a gente não via isso (violência). Se aqui na Zona Sul está assim, imagina nos cantos das zonas Norte e Oeste. Esse processo de violência vem crescendo e ninguém faz nada. Já frequentei muito aqui e não saio mais de casa por uma série de fatores. A violência é um problema muito antigo e que não tem solução. Acho que a sociedade não está acompanhando a evolução educacional e social. Existe um medo instalado", disse um jornalista morador do bairro.

Marcas dos disparos do tiroteio que deixou dois mortos na Praça São Salvador, em LaranjeirasSeverino Silva

"Estou bastante triste pelo que aconteceu. Há quatros anos morando aqui na rua nunca vi isso. Quando começou o tiroteio achei que fosse fogos. Quando ficou constante e foi chegando perto da minha casa, notei que era tiro. Eram disparos intermitentes. Cheguei na janela e vi um rapaz correndo com uma arma na mão. Sentimos tristeza. Muita gente frequenta a praça. Aqui é um lugar família e as quartas, por ser jogo, fica lotado. Eu venho aqui sempre e ontem por sorte eu não vim. Eu poderia estar aqui no momento, pois a praça é o quintal dos moradores. Aqui é a extensão das nossas casas", disse a arquiteta Michele Delfim Nunes, de 34 anos.

O pânico da noite desta quarta-feira contrasta com o ambiente familiar da praça, frequentado por moradores de todas as idades. Quem vive na região se preocupa com a violência do caso e teme que a tranquilidade habitual do local acabe.

Arquiteta Michele Delfim revela medo após episódio violento na Praça São SalvadorSeverino Silva

"Fico muito triste com essa situação porque este é um lugar por qual tenho admiração, é um bairro familiar, que circula muita gente idosa, muita criança, família. Você vai na praça durante o dia sempre tem criança brincando, sempre tem idoso ali sentados, tem muita movimentação cultural. Poderia ter atingido qualquer um de nós, um amigo meu, uma pessoa inocente. E a gente mora a pouco passos do Palácio Guanabara, do lado do Corpo de Bombeiros, como acontece esse tipo de coisa? A gente fica se questionando e esse sentimento é compartilhado por todo mundo que mora aqui na rua, na região: como vamos chegar em casa, como vamos sair de casa, como vai ser a partir de agora? Estou muito insegura, triste e preocupada", disse uma moradora que não quis se identificar. 

Uma outra testemunha, que não quer ser identificada, participava da despedida de uma amiga que deixará o Brasil quando começou o tiroteio.  Ele diz que a onda de roubos aumentou em bares da Zona Sul, mas acredita que o caso não foi aleatório.

"Começou um tiroteio intenso e todo mundo correu para dentro do bar, foi uma correria. Depois que saí vi que tinha um corpo caído. Foi muito tiro. Um dos rapazes foi atingido na testa. A impressão que tive é que isso não foi uma violência aleatória", falou.

O tiroteio teria começado por volta das 23h, homens chegaram em um carro e atiraram em seus alvos. Um dos mortos foi atingido na testa na porta de um prédio na Rua Senador Correia. O outro morreu na esquina desta rua com a Praça São Salvador. Ele ainda foi atropelado ao tentar fugir dos atiradores. Na porta do prédio onde uma das vítimas caiu há várias marcas de disparos. 

O taxista Alexandre R. Ramos, de 53 anos, estava no ponto de táxi esperando corrida na hora do tiroteio e acabou atingido por um disparo. Ele foi encaminhado pelo Corpo de Bombeiros para o Hospital Municipal Miguel Couto, na Gávea, também na Zona Sul. Ele passou por cirurgia e seu estado de saúde está estável, mas inspira cuidados. 

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