Rio - Na manhã seguinte ao ataque que deixou dois mortos e uma pessoa ferida na Praça São Salvador, em Laranjeiras, na Zona Sul do Rio, o medo e a apreensão eram visíveis entre moradores e comerciantes. Muitos relataram os momentos de pânico durante o tiroteio num dos pontos dos pontos mais movimentados da Zona Sul e que reúne centenas de pessoas. A praça fica a poucos metros do Palácio Guanabara, sede do governo do estado, e em frente a um quartel do Corpo de Bombeiros.
"Há um mês e meio teve uma troca de tiros (na praça), e meu filho até saiu correndo e se escondeu. Moro há 35 anos aqui, e de um tempo pra cá a situação piorou. Aqui sempre foi um reduto de jovens, e a gente não via isso (violência). Se aqui na Zona Sul está assim, imagina nos cantos das zonas Norte e Oeste. Esse processo de violência vem crescendo e ninguém faz nada. Já frequentei muito aqui e não saio mais de casa por uma série de fatores. A violência é um problema muito antigo e que não tem solução. Acho que a sociedade não está acompanhando a evolução educacional e social. Existe um medo instalado", disse um jornalista morador do bairro.
"Estou bastante triste pelo que aconteceu. Há quatros anos morando aqui na rua nunca vi isso. Quando começou o tiroteio achei que fosse fogos. Quando ficou constante e foi chegando perto da minha casa, notei que era tiro. Eram disparos intermitentes. Cheguei na janela e vi um rapaz correndo com uma arma na mão. Sentimos tristeza. Muita gente frequenta a praça. Aqui é um lugar família e as quartas, por ser jogo, fica lotado. Eu venho aqui sempre e ontem por sorte eu não vim. Eu poderia estar aqui no momento, pois a praça é o quintal dos moradores. Aqui é a extensão das nossas casas", disse a arquiteta Michele Delfim Nunes, de 34 anos.
O pânico da noite desta quarta-feira contrasta com o ambiente familiar da praça, frequentado por moradores de todas as idades. Quem vive na região se preocupa com a violência do caso e teme que a tranquilidade habitual do local acabe.
"Fico muito triste com essa situação porque este é um lugar por qual tenho admiração, é um bairro familiar, que circula muita gente idosa, muita criança, família. Você vai na praça durante o dia sempre tem criança brincando, sempre tem idoso ali sentados, tem muita movimentação cultural. Poderia ter atingido qualquer um de nós, um amigo meu, uma pessoa inocente. E a gente mora a pouco passos do Palácio Guanabara, do lado do Corpo de Bombeiros, como acontece esse tipo de coisa? A gente fica se questionando e esse sentimento é compartilhado por todo mundo que mora aqui na rua, na região: como vamos chegar em casa, como vamos sair de casa, como vai ser a partir de agora? Estou muito insegura, triste e preocupada", disse uma moradora que não quis se identificar.
Uma outra testemunha, que não quer ser identificada, participava da despedida de uma amiga que deixará o Brasil quando começou o tiroteio. Ele diz que a onda de roubos aumentou em bares da Zona Sul, mas acredita que o caso não foi aleatório.
"Começou um tiroteio intenso e todo mundo correu para dentro do bar, foi uma correria. Depois que saí vi que tinha um corpo caído. Foi muito tiro. Um dos rapazes foi atingido na testa. A impressão que tive é que isso não foi uma violência aleatória", falou.
O tiroteio teria começado por volta das 23h, homens chegaram em um carro e atiraram em seus alvos. Um dos mortos foi atingido na testa na porta de um prédio na Rua Senador Correia. O outro morreu na esquina desta rua com a Praça São Salvador. Ele ainda foi atropelado ao tentar fugir dos atiradores. Na porta do prédio onde uma das vítimas caiu há várias marcas de disparos.
O taxista Alexandre R. Ramos, de 53 anos, estava no ponto de táxi esperando corrida na hora do tiroteio e acabou atingido por um disparo. Ele foi encaminhado pelo Corpo de Bombeiros para o Hospital Municipal Miguel Couto, na Gávea, também na Zona Sul. Ele passou por cirurgia e seu estado de saúde está estável, mas inspira cuidados.
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