Rio - A escritora e ativista do movimento negro Kiusam de Oliveira, comandará uma cruzada nacional para fiscalizar o cumprimento de leis e diretrizes do Ministério da Educação e Cultura (MEC), que determinam em todo currículo escolar, público e privado, aplicação de conteúdos transversais da história da África, dos afro-brasileiros e povos indígenas. Semana passada, ela teve seu livro 'Omo-Oba - Histórias de Princesas' rejeitado pelo Serviço Social da Indústria (Sesi) de Volta Redonda, no Sul Fluminense, a pedido de um grupo de pais. A obra, escolhida pela equipe pedagógica do Sesi no dia 8, para turmas infantis, até julho, chegou a ser suspensa na quinta-feira pela instituição, que voltou atrás da decisão ontem.
Outros pais, que já haviam adquirido o livro, atribuíram a rejeição nas redes sociais à supostas intolerância religiosa e racismo. A obra já foi premiada e traz ilustrações de figuras negras e narra contos de orixás e mitos africanos, através de tradição ketu (maior nação do candomblé), embora não tenha conotação religiosa.
Em nota, a Federação das Indústrias do Rio (Firjan) admitiu que o Sesi-VR "errou ao anunciar que iria escolher outro livro no lugar de Omo-Oba", e garantiu que o título será mantido. A instituição afirma ainda que a equipe pedagógica da unidade passará por reciclagem.
Indignada, Kiusam, que é doutora em Educação e mestra em Psicologia pela USP, além de bailarina, coreógrafa e professora de danças afros, ressaltou que sua obra visa aumentar a autoestima infantil e, justamente, combater preconceitos. Ela não poupou críticas ao que chamou de "golpe branco, que pauta o extermínio da população negra", especialmente mulheres. "O que nos cabe? Juntas combater o fascismo, a opressão, a ditadura de forma visceral", desabafou, adiantando que o episódio será estopim para a fiscalização nacional das leis 10.639/03 e 11.645/08.
A antropóloga e pesquisadora de religiões de matrizes africanas do Instituto de Estudos Comparados em Administração Institucional de Conflitos da UFF, Rosiane Rodrigues, lamentou o ocorrido. "Seria uma imbecilidade atroz perder a oportunidade de conhecer a obra de Kiusam. Não é só ignorância ou fanatismo religioso que levam pessoas a boicotar livros. Há uma necessidade de imposição de ideias totalizantes e totalitárias sobre a realidade. O fascismo se consolida na banalização do mal", advertiu.
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