Rio - Uma mulher acusa policiais militares de agressão na Favela da Rocinha, na manhã desta segunda-feira. A artesã Ana Letícia Silva de Souza, de 43 anos, disse que filmava uma ação truculenta de policiais militares quando foi abordada pelos PMs. Dois registros de ocorrência foram feitos na 11ª DP (Rocinha): um por desacato e resistência, registrado pelos PMs; e outro por abuso de autoridade, da artesã, que diz ter sofrido ferimentos nos punhos.
"Vou avaliar se houve esse excesso por parte polícia após um exame de corpo de delito", disse o delegado Carlos Rangel.
"Bateram no meu rosto, me agrediram de tudo quanto é forma. Falaram que todo mundo aqui (na Rocinha) é bandido", disse a mulher, criticando a abordagem feita pelos PMs aos moradores da comunidade. Na confusão, um adolescente de 16 anos, parente da vítima, acabou sendo detido ao defendê-la, mas fugiu algemado da viatura.
A mulher disse que os policiais ainda fizeram dois disparos durante a confusão. "Eles têm que saber como abordar as pessoas, coisas que eles não estão sabendo fazer. Eles chegam para pegar qualquer um e acham que é bandido."
Ao ser questionada quem seria o autor da agressão, a senhora disse que a filha havia feito fotos do militar, uma vez que não foi possível fazer a identificação pela farda. "Os nomes estavam escondidos. Eles tiraram os nomes. Só por nome que a gente pode identificá-los", falou.
Na delegacia, mais confusão. A artesã acusava os policiais de não quererem devolver o celular da filha dela. Em resposta, os policiais diziam que dariam voz de prisão a ela. "Estamos ouvindo as duas partes. A PM fala que foi abordar um homem e houve resistência. As pessoas que estavam em um bar começaram a atirar objetos, segundo os policiais. Os PMs estão prestando depoimento, eles não são da UPP, são de batalhões de apoio", contou Rangel.
O DIA encaminhou um e-mail para a assessoria de imprensa da Polícia Militar para saber porque alguns PMs não estão com a identificação no colete. Até a publicação desta reportagem a corporação não havia se pronunciado.
Clima tenso na manhã desta segunda
O medo e a desconfiança foram as palavras mais ouvidas nesta manhã na Favela da Rocinha. O clima de insegurança deixou moradores apreensivos e muitos evitavam falar sobre o que vem acontecendo na comunidade. "Moro na Rocinha há mais de 30 anos. Nesses últimos meses está sendo horrível. Tenho medo de tudo e todos”, disse uma doméstica, de 56 anos. “A pior hora do dia é quando saio do trabalho e volto para cá (Rocinha). O coração fica apertado, pois não sei se vai acontecer algo comigo”, afirma a mulher. Nem mesmo na Autoestrada Lagoa-Barra, já fora da comunidade, os moradores se arriscam a falar. “Moço, não posso falar. Não sei quem está nos vigiando”, falou uma dona de casa. Aparentemente, mesmo com confrontos, o comércio funcionou na parte baixa da comunidade.