Rio - A ONG Rio de Paz fez uma manifestação em homenagem a estudante Maria Eduarda Alves da Conceição, na Praia de Copacabana, Zona Sul da cidade, na manhã desta sexta-feira. A menina de 13 anos foi morta ao ser atingida por uma bala perdida exatamente há um ano, no dia 30 de março de 2017, dentro da Escola Municipal Jornalista e Escritor Daniel Piza, em Acari, na Zona Norte.
Cerca de 50 familiares de crianças vítimas de bala perdida participaram do ato. A mãe de Maria Eduarda, Rosilene Alves Ferreira, chegou usando uma camiseta com a foto da vereadora Marielle Franco, que a ajudou quando Maria Eduarda foi morta.
"Marielle era uma mulher guerreira, inteligente, maravilhosa. Calaram a Marielle. Os policiais mataram a Maria Eduarda, minha filha, na escola. Estamos aqui todos muito revoltados, hoje faz um ano que meu bebê foi embora. Quero perguntar aos policiais: 'e se fosse a sua filha?'. Minha filha foi criada na favela, sim, mas só tinha 13 anos. Eu estava trabalhando, hoje não consigo mais trabalhar, meu psicológico não deixa. Chego no serviço e começo a chorar. Peço forças a Deus para continuar", disse.
O protesto teve como objetivo lutar contra a morte de crianças em tiroteios nas comunidades e também exigir do poder público do Estado do Rio de Janeiro o pagamento de indenização à família da jovem.
Os manifestantes penduraram varais com os pertences de Maria Eduarda e de outras crianças vítimas de bala perdida na praia. Eles também fizeram 47 cartazes com os nomes de todos os meninos e meninas de até 14 anos que morreram vítimas de bala perdida entre 2007 e 2018. Alunos do colégio onde Maria Eduarda estudava também participam do ato e fizeram um minuto de silêncio.
A mãe do menino Benjamin, de 1 ano, morto no Complexo do Alemão, também participou do protesto. "Meu filho levou um tiro na cabeça, respirou três vezes e morreu. Hoje faz 15 dias que estou sem meu filho", disse Paloma Maria Novaes, de 30 anos.
O pai de Benjamin, Fábio Antonio da Silva, 38, gesseiro, também lamentou a morte das crianças. "Essa violência retrata a nossa cidade, todo dia morre gente. A gente não vê o progresso, só violência. O que vou explicar para a minha filha de quatro anos que viu o irmãozinho morrer?".
Antônio Carlos Costa, fundador e presidente da ONG Rio de Paz, cobrou atitudes do governo. "Entre 2007 e 2018, 47 crianças morreram por bala perdida no Rio de Janeiro. Na sua maioria, moradores de favela. O derramamento de sangue desses meninos e meninas é o lado mais hediondo da criminalidade no Rio. O Governo do Estado tem obrigação de impedir que mais mortes ocorram", disse.
"É também dever do estado indenizar todas as famílias cujos filhos foram mortos durante operações policiais. Hoje, a mãe da Maria Eduarda é mantida por meio da ajuda da parentes e amigos", concluiu.
Vânia Morais da Silva, mãe do adolescente Jeremias Morais da Silva, de 13 anos, afirmou que não acredita em uma solução por parte do governo. "Não espero solução. Eles (o governo) não deram solução, não falaram nada após a morte do meu filho, estamos esperando apenas a Justiça de Deus. O que se vê é mais e mais pessoas de bem morrendo", lamentou.