Rio - O poder político da maior e mais bem estruturada milícia do Estado do Rio, a Liga da Justiça, está sendo investigado pela Polícia Civil. Só em Santa Cruz, Paciência e Campo Grande, bairros da Zona Oeste onde o grupo paramilitar domina e manda executar inimigos, há 11 zonas eleitorais com, pelo menos, 720 mil eleitores. Não à toa, os investigadores tentam identificar os candidatos que têm relações espúrias com a quadrilha em busca de votos para as eleições deste ano. No último sábado, uma megaoperação prendeu 168 pessoas ligadas a essa milícia.
Segundo investigadores ouvidos pelo DIA, a Liga da Justiça efetivamente se vale da influência que possui nessa região para beneficiar candidatos, que não necessariamente também são milicianos. Atualmente, o chefe do grupo é Wellington da Silva Braga, o Ecko, que conseguiu escapar da megaoperação da Polícia Civil após troca de tiros com agentes da corporação em uma festa em Santa Cruz.
Ecko sucedeu a Carlos Alexandre Braga, o Carlinhos Três Pontes, morto em abril de 2017, após uma operação da Delegacia de Homicídios. Conforme O DIA publicou em 4 de setembro de 2016, Três Pontes mandou matar ao menos três candidatos e cabos eleitorais na Baixada Fluminense, região para onde o grupo vem se expandindo. Atualmente, na disputa pelo comando da Liga da Justiça também estão os irmãos Natalino José Guimarães, ex-deputado, e Gerônimo Guimarães Filho, o Gerominho, ex-vereador, eleitos pelo poder político da milícia.
As 11 zonas eleitorais da Zona Oeste que abrangem as áreas de atuação da milícia Liga da Justiça são 25ª, 120ª, 122ª, 125ª, 240ª, 241ª, 242ª, 243ª, 244ª, 245ª e 246ª. Nelas, embora até agora não haja qualquer relação com o grupo paramilitar, a mais votada em todas, nas eleições de 2014, foi a deputada estadual eleita Lucinha (PSDB), com 56.034 votos de um total de 65.760. Em 2016, o filho dela, o vereador Júnior da Lucinha (MDB), foi campeão em seis zonas totalizando nelas 25.135 votos dos 45.124.
Marielle Franco
Ontem, o coronel Carlos Cinelli, porta-voz do Gabinete Intervenção Federal no Rio, admitiu que o assassinato da vereadora Marielle Franco (Psol) pode ter envolvimento da quadrilha. "Os dados da investigação ainda são tratados no nível da Secretaria de Segurança. O (comandante da intervenção federal no Rio) general Braga Netto até comentou que houve avanços nessa última semana. Só o curso da investigação é que vai dizer. Mas é possível que haja alguma correlação entre a ação que resultou na prisão dos milicianos, em Santa Cruz, e o caso da vereadora Marielle", afirmou Cinelli.
Marielle era uma das assessoras da CPI das Milícias, em 2008, que pediu o indiciamento de 225 políticos, policiais, agentes penitenciários, bombeiros e civis. Dias antes de morrer, a vereadora denunciou policiais militares do 41º Batalhão (Irajá). Nesse caso, a polícia já ouviu ao menos seis vereadores na condição de testemunhas.
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