2018-04-22 - CIDADE - Coletiva de imprensa com Pablo Dias Bessa Martins, artista circense que foi preso em um festa supostamente da milícia. Foto: Fernanda Dias / Agência O Dia.Fernanda Dias
Por Gabriel Sobreira
Publicado 22/04/2018 13:29 | Atualizado 22/04/2018 17:54

Rio - O artista circense Pablo Dias Bessa Martins comemora sua liberdade. Ele foi um dos 159 presos em operação policial contra a milícia deflagrada em show de pagode realizado em Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio, no dia 7 de abril. "Torço para que os meus amigos que ficaram presos saiam também. Eles ficaram felizes com a minha saída. Sabiam da minha profissão. Cheguei a treinar com eles no pátio, fazíamos acrobacias", contou o artista, em coletiva de imprensa concedida neste domingo na sede da Defensoria Pública, em Campo Grande. 

A Defensoria Pública, que cuida do caso de Pablo e de outros presos, pretende levar o assunto ao Supremo Tribunal Federal (STF) e à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA). Pablo é o único solto até agora. Com viagem marcada para a Europa terça-feira, onde vai se apresentar durante o verão, ele só quer curtir a família e trabalhar. "Me sinto mais aliviado. O lugar de artista é no palco. No meu caso, no picadeiro. Vou arrancar o sorriso das pessoas. O meu foi tirado há duas semanas, mas agora estou aqui", disse, com o semblante ainda triste.

O artista cobra justiça para os outros presos. "Queria trazer todo mundo, os outros 158. É meio que injustiça eu sair e deixar meus amigos lá dentro", pondera.

Maria do Carmo Barbosa, familiar de um dos presos, chora em coletiva de imprensa com o malabarista Pablo Dias Bessa Martins.Fernanda Dias/ Agência O Dia

Pablo conta que ele e os demais presos não tiveram contato com os outros detidos no Complexo Penitenciário de Gericinó. "Mas todo mundo sabia do nosso caso. Até perguntavam: 'E aí, vai sair?'", lembra ele, que dormia em uma cela lotada. "Não dava bem pra contar quantos eram. Eu dormia em uma cama de alvenaria sem colchão", afirma.

Apesar de ter ficado 14 dias na prisão, o malabarista desconversou quando questionado se pretende processar o Estado. "A justiça que quero é trazer meus amigos e dar um abraço em todos eles", frisa.

O segundo sub-defensor-geral Rodrigo Pacheco disse que a Defensoria Pública trabalha para despolitizar o caso. "A prisão desses rapazes não pode ser tratada como política de segurança pública. Não pode ser utilizada para avaliar positiva ou negativamente a intervenção federal. Tem que trabalhar com a técnica, o direito e a farta prova de que eles não são milicianos", argumentou.

O defensor público João Gustavo Fernandes diz que a Defensoria está permanentemente em contato com os familiares dos presos e que cogita levar o caso para o Supremo Tribunal Federal. " Já fizemos pedido ao juiz da Segunda Vara Criminal de Santa Cruz. Vamos continuar fazendo pedidos. A defensoria de lá vai continuar despachando. Ao mesmo tempo temos habeas corpus para serem julgados no Tribunal de Justiça, e estamos cogitando levar esse caso para o Supremo Tribunal Federal".

Fernandes ressaltou a importância de libertar rapidamente os homens que foram presos injustamente. "É importante continuar a mobilização das famílias, Defensoria Pública e da imprensa para se cobrar uma resposta. A cada minuto que esses jovens passam na cadeia a injustiça é reafirmada, a cada minuto que passam lá eles perdem um minuto da vida deles", disse.

Noite de terror

A mãe de outro preso na operação, Thiago Silva Vale, dona Elza Perez Silva do Vale, disse que o filho está desempregado, mas já trabalhou como garçom e gerente de restaurante. Relatou que Thiago a levou ao hospital na noite da festa, pois estava com a pressão alta, e que, na volta, pediu R$ 20 para ir ao show com um amigo. Durante a madrugada, ouviu o tiroteio e ficou sem notícias do filho até o dia seguinte, no que ela disse ter sido uma “noite de terror”.

“Deu 9h e ele não chegava, liguei no celular e ele não atendia. Mexi no Facebook e vi um cara de capuz falando “que tiro foi esse” na Rua Fernanda. Vi os comentários, corri pra rua, os amigos dele estavam todos lá. Perdi o chão naquela hora, não consegui falar com a minha filha. Corri pra rua e soube que o Thiago estava lá e foi preso” disse Elza.

Acrescenta que até o momento não pôde ver o filho e fez um apelo para que soltem os inocentes. “A dor é tanta, a gente morre a cada dia, não sabe se ele está comendo, se está tendo uma água. Parece que você está vivendo um filme de terror. Tenho 57 anos de idade e nunca vi uma coisa dessas. Na Barra não tem evento? Por que em Santa Cruz não pode? É porque somos pobres? São trabalhadores que foram curtir o seu ídolo e houve nessa tragédia”.

Lorena Felix dos Santos trabalha para uma empresa de segurança e fez a revista nas mulheres no dia do show. Ela disse que, na entrada, era verificado o porte de armas de fogo e de entorpecentes e ninguém entrou armado no dia.

“É uma empresa terceirizada, sempre somos contratadas para trabalhar em eventos. Se era de milícia, por que contratar outra empresa, se eles são a segurança?”, pergunta. O namorado de Lorena, Evandro Batista Monteiro, está entre os presos. O irmão dela, menor de idade, também foi detido, mas liberado junto com outros menores.

Vídeo de agradecimento

A Defensoria Pública do Rio de Janeiro divulgou um vídeo na manhã deste domingo no qual Pablo agradece aos amigos e ao órgão por lutar por sua liberdade. Ele cobra justiça pelos amigos, que ainda estão presos, a quem ele chama de irmãos. Confira:

 

Com informações da Agência Brasil

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