UPP Nova Brasília, no Complexo do AlemãoSEVERINO SILVA / ARQUIVO O DIA
Por Bruna Fantti
Publicado 28/04/2018 03:00 | Atualizado 28/04/2018 10:18

Rio - Ao comentar o anúncio da extinção de 12 Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), o ministro extraordinário da Segurança Pública, Raul Jungmann, disse o que o estado nega desde 2013, quando o programa começou a declinar. "Todos sabem que as UPPs não alcançaram o que deveriam ter alcançado. Houve uma expansão maior do que as pernas". Em agosto do ano passado, O DIA divulgou com exclusividade o relatório feito pela Polícia Militar que serve de base para analisar quais unidades devem acabar. O critério utilizado pela corporação foi a capacidade de patrulhamento nas comunidades.

Nas 39 UPPs, o estudo concluiu que a polícia não consegue atuar em quase um terço do total do território que deveria ser ocupado pelas UPPs implantadas.

Na UPP mais comprometida, a Nova Brasília, no Complexo do Alemão, a mobilidade dos policiais só é possível em apenas 24% da área da unidade. Caso os agentes saiam desse perímetro, haverá troca de tiros, a qualquer hora do dia.

A Nova Brasília está na lista das que serão extintas. Já em agosto de 2017, a PM afirmou que as UPPs dos complexos do Alemão e da Penha irão se transformar em um único batalhão. A decisão foi mantida. Em memória às UPPs ele será intitulado Batalhão de Polícia Pacificadora (BPP). Ele ficará localizado na antiga sede da Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP), próximo ao Complexo do Alemão.

Vinte e uma unidades lideram a lista das mais críticas: Parque Proletário; São Carlos, Sereno; Manguinhos; Chatuba; Turano; Fazendinha; Coroa-Fallet; Rocinha; Prazeres; Pavão-Pavãozinho; Batan; Jacarezinho; Alemão; São João; Cidade de Deus; Lins; Vila Kennedy; Tabajaras e Mangueirinha. No entanto, nem todas serão extintas.

A PM concluiu que, apesar da dificuldade de patrulhamento, a presença fixa de policiais em algumas é fundamental para evitar a expansão de criminosos. "Se acabar com o Turano, por exemplo, você abre as portas para que bandidos invadam os morros da Tijuca, que vão continuar com todas as suas UPPs. Portanto, Turano não vai acabar", afirmou um oficial que acompanha o processo de análise da extinção junto com o Gabinete de Intervenção Federal.

De acordo com o porta-voz da corporação, major Ivan Blaz, a UPP Rocinha não vai mais existir. Apesar disso, o policiamento na comunidade ainda não foi definido. "Rocinha não sabemos se irá virar batalhão, se continua como UPP ou se vai para o 23ºBPM (Leblon)". A Mangueirinha, única da Baixada Fluminense, será integrada ao batalhão de Duque de Caxias.

Em nota, a Secretaria de Segurança afirmou que "o efetivo (das unidades extintas) será destinado para o aumento do policiamento com atuação na mancha criminal para coibir a criminalidade".

Os maiores problemas

- UPP Nova Brasília

Ocupa o primeiro lugar no ranking do estudo da PM como a unidade que menos teve êxito de policiamento.

Ela Foi a primeira a instalar barricadas nas bases espalhadas pelo Complexo do Alemão, em 2015. Na mesma época, um bunker foi construído pela PM ao lado de uma pracinha. A construção não têm janelas, somente buracos por onde os agentes olhavam o exterior e utilizavam para apoiar os fuzis.

Em 2014, o então comandante da UPP, capitão Uanderson Manoel da Silva, 34, foi morto em um ataque de traficantes.

No ano passado, a construção de uma torre no Largo do Samba foi classificada por especialistas como o fim definitivo da unidade. Isso porque, os tiroteios tornaram-se diários e policiais invadiram casas de moradores para utilizar como proteção.

Ontem, o Ministério Público ajuizou ação civil pública contra o Estado do Rio por violar o direito individual e coletivo de moradores do Complexo do Alemão que tiveram as casas invadidas.

- UPP Rocinha

É considerada pela PM como a 10ª UPP mais problemática. Com 700 policiais militares é a maior unidade instalada e possui efetivo maior do que alguns batalhões do estado do Rio.

Em 2012, foi palco do primeiro escândalo envolvendo policiais e moradores, quando o ajudante de pedreiro Amarildo de Souza foi morto. Dos 25 policiais da UPP denunciados, 15 foram condenados em primeira instância, incluindo o então comandante da UPP, major Edson Santos.

Em setembro do ano passado, a comunidade foi palco de guerra entre traficantes rivais. Vídeos mostraram policiais encurralados nas bases espalhadas pela unidade e deixando a favela, em meio aos tiroteios.

- UPP São Carlos

Identificada pela PM como a terceira no ranking das mais difíceis de patrulhamento, a unidade do São Carlos foi inaugurada em 2011.

No mesmo ano, a UPP se viu envolta em corrupção: o então comandante da unidade, capitão Adjaldo Luiz Piedade Júnior, foi condenado a seis anos de prisão, em regime fechado, por associação ao tráfico. Investigações da Polícia Federal revelaram que o oficial recebia R$ 15 mil por semana do traficante Sandro Luís de Paula, o Peixe, para facilitar o comércio ilegal de drogas.

Mesmo com a unidade, a região é palco de tiroteios frequentes, principalmente entre traficantes de fações rivais.

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