Bondinho de Santa Teresa Daniel Castelo Branco
Por CÁSSIO BRUNO
Publicado 07/05/2018 03:00 | Atualizado 07/05/2018 08:38

Rio - As obras do bonde de Santa Teresa estão paradas e sem previsão de reinício. Sem dinheiro, a circulação dos trenzinhos, cartão-postal do Rio, permanece interrompida em um trajeto de seis quilômetros, que vai até a Estação Silvestre, próximo ao Corcovado. A informação foi confirmada pelo presidente da Companhia Estadual de Engenharia, Transportes e Logística do Rio (Central), Rogério Azambuja, em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembleia Legislativa, que investiga irregularidades no setor de transportes.

Segundo Azambuja, seriam necessários R$ 100 milhões para a implantação dos novos trilhos e a realização de outros serviços, como pavimentação das ruas e instalação da rede aérea de energia. Até o momento, só saíram do papel quatro quilômetros de percurso. Das 14 composições previstas para transportar moradores e turistas, apenas cinco estão em operação, e só entre o Largo da Carioca e a Praça Odylo Costa Neto, no Largo dos Guimarães.

"Já foi solicitada verba para o término das obras e para a compra dos bondes novos, mas ainda não tivemos uma sinalização positiva", disse o presidente da Central à CPI na última quarta-feira.

Nos últimos 15 meses, foram transportadas 300 mil pessoas. Tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac) desde 1988, o bonde de Santa Teresa é administrado pela Central, empresa pública ligada ao governo do estado. Em 27 de agosto de 2011, um acidente deixou seis mortos e 57 feridos. Dois anos depois, o Ministério Público responsabilizou o então secretário estadual de Transportes, Júlio Lopes, hoje deputado federal pelo PP.

Atualmente, os cinco bondes circulam de segunda à sexta, das 9h às 17h, com intervalos de 15 a 20 minutos. No sábado, o horário é de 10h às 17h30; e, domingo, das 11h às 16h30. A passagem de ida e volta custa R$ 20. Segundo a Secretaria de Transportes, há 3 mil moradores cadastrados com direito a gratuidade no serviço. No trecho onde as obras não ocorreram, há trilhos quebrados. Buracos e ondulações no asfalto das vias inviabilizam a operação. Moradores, comerciantes e turistas reclamam do descaso.

"O bonde não vai mais até lá em cima. O jeito é esperar para pegar um ônibus", disse a empregada doméstica Jorgina Felipe de Menezes, de 55 anos, moradora do Morro Dois Irmãos, enquanto esperava a chegada de um coletivo no Largo dos Guimarães.

No Largo das Neves, onde os trenzinhos não passam mais, os moradores ironizaram a espera pela obra. Nas ruas e muros, eles escreveram: "2070 - O bonde voltará". A professora Rafaela Rafael, de 33 anos, mãe de um filho de 4 anos, lamentou.

"Tem uma geração de crianças daqui que não conhece os bondes. Acabaram com a história. Nós não ouvimos mais o barulho da subida e descida deles. Na época do acidente, ônibus de uma empresa faziam o mesmo trajeto dos bondes com um preço de R$ 0,80. Mas isso não existe mais."

CPI briga para ouvir Júlio Lopes
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Segundo o Ministério Público, ex-secretário Júlio Lopes sabia da situação precária dos bondes na época do acidente, causado por falta de manutenção. À época, o ex-secretário disse que o motorneiro deveria ter levado o bonde para oficina. Em 2015, Lopes teve os bens bloqueados.
"A ação de improbidade, assim como o bloqueio de bens, vieram seis anos depois de duas negativas do juiz da causa, em razão de um apelo do MP. Na ocasião, um desembargador determinou que não haveria prejuízo de um reexame da matéria. Como não há fato ou fundamento novo, essa ação, assim como o bloqueio, serão igualmente encerrados", respondeu Julio Lopes.
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A CPI quer ouvir agora o deputado Júlio Lopes, mas o parlamentar sugeriu que a oitiva ocorra em seu gabinete, em Brasília. "Acho isso um absurdo porque ele é do Rio e, quando quer, se encontra com políticos aliados na cidade. A CPI não fará reunião reservada. Será pública", afirmou o deputado estadual Eliomar Coelho (Psol), presidente da CPI. "Não quero e não vou participar de um circo para promoção política do Psol", rebateu Lopes. Na quarta, a CPI se reunirá para decidir em que local Júlio será ouvido.
A Secretaria Estadual de Transportes admitiu não ter dinheiro para concluir as obras, e diz ter pedido recursos ao governo federal. O órgão afirma que não há prazo para o reinício.
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