Rio - As obras do bonde de Santa Teresa estão paradas e sem previsão de reinício. Sem dinheiro, a circulação dos trenzinhos, cartão-postal do Rio, permanece interrompida em um trajeto de seis quilômetros, que vai até a Estação Silvestre, próximo ao Corcovado. A informação foi confirmada pelo presidente da Companhia Estadual de Engenharia, Transportes e Logística do Rio (Central), Rogério Azambuja, em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembleia Legislativa, que investiga irregularidades no setor de transportes.
Segundo Azambuja, seriam necessários R$ 100 milhões para a implantação dos novos trilhos e a realização de outros serviços, como pavimentação das ruas e instalação da rede aérea de energia. Até o momento, só saíram do papel quatro quilômetros de percurso. Das 14 composições previstas para transportar moradores e turistas, apenas cinco estão em operação, e só entre o Largo da Carioca e a Praça Odylo Costa Neto, no Largo dos Guimarães.
"Já foi solicitada verba para o término das obras e para a compra dos bondes novos, mas ainda não tivemos uma sinalização positiva", disse o presidente da Central à CPI na última quarta-feira.
Nos últimos 15 meses, foram transportadas 300 mil pessoas. Tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac) desde 1988, o bonde de Santa Teresa é administrado pela Central, empresa pública ligada ao governo do estado. Em 27 de agosto de 2011, um acidente deixou seis mortos e 57 feridos. Dois anos depois, o Ministério Público responsabilizou o então secretário estadual de Transportes, Júlio Lopes, hoje deputado federal pelo PP.
Atualmente, os cinco bondes circulam de segunda à sexta, das 9h às 17h, com intervalos de 15 a 20 minutos. No sábado, o horário é de 10h às 17h30; e, domingo, das 11h às 16h30. A passagem de ida e volta custa R$ 20. Segundo a Secretaria de Transportes, há 3 mil moradores cadastrados com direito a gratuidade no serviço. No trecho onde as obras não ocorreram, há trilhos quebrados. Buracos e ondulações no asfalto das vias inviabilizam a operação. Moradores, comerciantes e turistas reclamam do descaso.
"O bonde não vai mais até lá em cima. O jeito é esperar para pegar um ônibus", disse a empregada doméstica Jorgina Felipe de Menezes, de 55 anos, moradora do Morro Dois Irmãos, enquanto esperava a chegada de um coletivo no Largo dos Guimarães.
No Largo das Neves, onde os trenzinhos não passam mais, os moradores ironizaram a espera pela obra. Nas ruas e muros, eles escreveram: "2070 - O bonde voltará". A professora Rafaela Rafael, de 33 anos, mãe de um filho de 4 anos, lamentou.
"Tem uma geração de crianças daqui que não conhece os bondes. Acabaram com a história. Nós não ouvimos mais o barulho da subida e descida deles. Na época do acidente, ônibus de uma empresa faziam o mesmo trajeto dos bondes com um preço de R$ 0,80. Mas isso não existe mais."
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