Matheusa foi morta por bandidos do Morro do DezoitoDivulgação
Por O Dia
Publicado 07/05/2018 12:01 | Atualizado 07/05/2018 12:07

Rio - A Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA) confirmou, na manhã desta segunda-feira, a morte do estudante de Artes Visuais Matheus Passareli, de 21 anos. Matheus estava desaparecido desde o dia 29 de abril, quando foi a uma festa no Morro do 18, em Água Santa, Zona Norte do Rio. 

A informação já havia sido adiantada pelo irmão Gabriel Passareli, neste domingo. Por meio de sua rede social, ele contou que a vítima, que é transgênero, foi executado e teve o corpo queimado após entrar na favela. Matheus, que era chamado por familiares e amigos como Matheusa, estudava na Universidade do Estado do Rio (Uerj).

Em nota, a Polícia Civil destacou que as investigações ainda estão em andamento para tentar identificar os suspeitos do crime.

Veja abaixo o relato de Gabriel no Facebook:

"Sinto muito. Há uma semana atrás recebemos a noticia que minha irmã tinha desaparecido ao tentar sair de uma festa no Bairro Encantado, Piedade, Rio de Janeiro. Quando estávamos em São Paulo, Matheusa havia comentado sobre esse trabalho que ela tinha para fazer na festa, que seria uma tatuagem na aniversariante. O processo-performance de tatuagem não aconteceu e como noticiamos no domingo passado, a Matheusa saiu do evento e não voltou mais. Quanto ao que aconteceu no evento em si, a Delegacia de Descoberta de Paradeiros está recebendo os depoimentos dos que estavam presentes (contamos que todos vão para relatar a experiência da festa e dar continuidade ao processo de investigação do caso).

As buscas se intensificaram após o anuncio do desaparecimento da minha irmã e com isso, muitas pessoas saíram à procura por dias, espalhando cartazes, rodando de carro e caminhando, dialogando com as pessoas nas ruas, enfrentando os medos para estar em territórios desconhecidos, tudo isso para encontrar uma das pessoas mais queridas que eu já conheci, minha irmã, Matheus Passareli Simões Vieira. A partir de certo momento, descobrimos que não poderíamos circular mais pelo bairro do acontecido desaparecimento e com isso, precisávamos zelar pela segurança daqueles que estavam nas ruas implicados em encontrarem a Matheusa. Tivemos que parar as buscas e concentrar as energias nas investigações da instituição. Segundo informações, minha irmã foi executada ao entrar em uma das comunidades do bairro.

Sobre seu corpo, também segundo informações colhidas pela DDPA, foi queimado e poucas são as possibilidades de encontrarmos alguma materialidade, além das milhares que a Matheusa deixou em vida e que muito servirão para que possamos resignificar a realidade brutal que estamos vivendo.

Todo o processo de acompanhamento do caso, junto da DDPA, foi acompanhado por mim, minha Mãe e amigos que tornaram todo esse processo de sofrimento numa experiência de muita força, coragem e objetivo. A angústia se transformou no trabalho compartilhado de encontrar a pessoa que mais amei e acompanhei durante a vida. Infelizmente as últimas informações que chegaram até nós e até a instituição pública que está desenvolvendo o processo de investigação, demonstram diferentes faces da crueldade a qual estamos submetidos. Eu e minha Mãe precisávamos estar em Rio Bonito, estar em companhia com nossas famílias e lidar com o sofrimento juntos. Trouxemos todos os objetos do quarto da Matheusa para a sua origem, a nossa terra natal, interior do Rio de Janeiro. Muitos registros das suas pesquisas de desenvolvimento da poética do CORPO ESTRANHO, roupas compradas e compartilhadas e principalmente, seus objetos mágicos, suas plantas e livros.

Por isso, antes de compartilhar com todes que estão constantemente buscando pela Matheusa e mandando boas energias de amor e cuidado e ajuda financeira, precisávamos estar em família. Que no nosso caso, se configura como o nosso principal núcleo de suporte, nossa família, nossa casa, onde aprendemos muito sobre cuidado e respeito às diferenças.

CORPO ESTRANHO que se coloca em cotidiano compartilhado com muitas pessoas e que enxerga e sente a vida através das energias e forças da natureza. E, “se tiver que existir uma dicotomia entre o amor e ódio, eu escolho o amor”, nesse momento continuo escolhendo o amor pois sei que como essa frase, minha irmã escreve isso nos corpos de todos que já foram e ainda serão atravessas pela existência da MATHEUSA.

Sinto tanto que escolho ser leve mesmo diante de tanta crueldade à qual minha irmã e nós, que estamos constantemente amando e meditando na presença e paz da Matheusa, fomos expostos. A experiência também é aquilo que nos passa e por isso, prefiro acreditar que essa experiência de dor aguda também vai passar. Pois precisamos acreditar e acompanhar as investigações da polícia, para que continue ocorrendo um processo minucioso, eficaz e prático de investigação sobre o caso de homicídio da minha irmã. Principalmente, precisamos cuidar e manter a imagem e memória da Matheusa e para isso, contar com as instituições onde a Matheus Passareli Simões Vieira está matriculada como estudante bolsista. UERJ Universidade do Estado do Rio de Janeiro e Parque Lage | Escola de Artes Visuais. Visto que nos mudamos da nossa cidade, Rio Bonito, para estudarmos e como primeiras da família, cursar formações públicas de ensino e aprendizagem de artes e ofícios. Contamos com todo apoio para a continuidade das investigações e desenvolvimento das pesquisas e estudos da minha irmã. Avante!

#vivatheusinha"

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