Rio - A comissão que acompanha as investigações sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco (Psol) e do motorista Anderson Gomes se reuniu, nesta terça-feira, com o delegado Fábio Cardoso, chefe da Divisão de Homicídios da Polícia Civil. O encontro, que durou 1h30, tinha como objetivo atualizar o grupo sobre como andam as apurações dos crimes.
Formada pelos deputados Jean Wyllys (Psol-RJ), Erika Kokay (PT-DF), Luiza Erundina (Psol-SP), Wadih Damous (PT-RJ) e Alessandro Molon (Rede), a comissão foi criada no mês passado durante uma sessão solene em homenagem à Marielle na Câmara dos Deputados. Na saída do encontro, Wyllys disse que está otimista com as investigações e pediu paciência à população, por causa da complexidade do crime.
"A reunião foi bem produtiva. O delegado disse que a polícia nunca falou que a arma era uma pistola, mas já sabia que era uma submetralhadora. Fábio afirmou também que várias linhas de investigação foram descartadas. É preciso ter paciência porque o crime exige uma investigação mais rigorosa. O delegado disse que o cerco está se fechando", destacou o deputado, acrescentando que o Parlasul (parlamento do Mercosul) vai vir ao Brasil para pedir um encontro com os investigadores.
No dia 12 de abril, O DIA já havia revelado com exclusividade que peritos da Polícia Federal descartaram que a arma utilizada no crime fosse uma pistola Glock. Isso porque nos estojos não foram encontradas marcas em forma de triângulo, característica do disparo dessa arma. Naquela ocasião, peritos disseram que seria uma submetralhadora, o que foi confirmado pela Polícia Civil nesta semana. Todos os projéteis utilizados no assassinato fazem parte de um lote comprado pela Polícia Federal em 2006 que sofreram desvios desde então.
Wyllys comentou ainda sobre a falta de realização do exame de raio-x nos corpos de Marielle e Anderson no Instituto Médico Legal (IML). O deputado definiu como um "erro gravíssimo". "É uma falha grotesca uma instituição não fornecer essas informações. É muito grave. E como esse lote de munição se espalhou pelo Brasil? Assusta muito saber que era um lote da Polícia Federal", completou.
Mais cedo, Molon também criticou duramente a condução do caso. "Viemos pedir explicações desse crime inaceitável que daqui a pouco vai completar dois meses. É inaceitável esse caso ainda não ter sido esclarecido. Além do mais, queremos saber sobre esses vários erros da investigação. Temos uma enorme preocupação pois esse crime se trata de uma execução. O exame de raio-x que não foi feito mostra o gravíssima situação em que vive a segurança do Rio, mesmo com a intervenção federal. Queremos a tranquilidade de que as investigações estão em andamento e que os culpados serão punidos, pois é inaceitável que esse crime permaneça impune, é um crime bárbaro que chocou a todos. Foi execução, mas não podemos descartar nada nem ninguém. Queremos ter certeza de quem são os responsáveis", falou.
Antes da reunião, Wyllys havia apontado os erros da investigação. Ele não poupou o trabalho investigativo feito até agora. "Queremos ouvir hoje da Polícia Civil o porquê dessa sucessão de erros. Por que só agora eles divulgam que a arma foi uma submetralhadora? Por que deixaram várias cápsulas dentro do carro, já que houve uma primeira perícia? Por que as câmeras foram desligadas? Choca saber pela imprensa como estão as investigações, já que fizemos três reuniões com a DH sobre o caso Marielle e em todos os momentos eles disseram que as investigações estavam avançadíssimas. Garantiram sigilo para nós e, por isso, não podiam passar mais detalhes das investigações. Nos surpreende a imprensa ter mais detalhes do que a polícia passa para gente", pontuou.
Após 55 dias do assassinato de Marielle e Anderson, a polícia ainda não divulgou qualquer nome de suspeitos ligados ao crime. Nesta segunda, Temer afirmou em entrevista que as investigações estão "adiantadíssimas".
"Há, naturalmente, suspeitos, mas não há ainda a definição. Acho que em brevíssimo tempo nós teremos uma solução. Em assassinatos anteriores, com prazo foi de 60 a 90 dias, acabou se solucionando", afirmou, em entrevista à rádio CBN. Wyllys também rebateu essa informação do presidente.
"As investigações, ao contrário do que o presidente disse, não estão avançadíssimas. A exemplo disso, deixaram o carro aqui (na DH) por quase 40 dias e vários fragmentos poderiam ajudar nas investigações se perderam com o tempo", disse, ressaltando que a falta de punição aumenta a sensação de impunidade.
"Isso é muito grave, pois a cada dia que passa estamos mais inseguros, não sabemos quem matou e quem mandou matar. E sobretudo estamos inseguros porque nós atuamos na mesma área que ela atuava", comentou.
Semana passada, cinco projetos de lei da vereadora foram aprovadas na Casa, que também teve sua tribuna batizada com o nome da vereadora após aprovação de concessão.
Jornalistas expulsos da DH
Enquanto os profissionais da imprensa esperavam o fim do encontro, policiais da Delegacia de Homicídios foram orientados, segundo uma agente, a retirar os jornalistas do hall de entrada da especializada. Os agentes contaram que a ordem era para que os repórteres e cinegrafistas esperassem do lado de fora da delegacia.
Indagados pelos profissionais sobre o motivo da medida e quem teria dado a ordem, a policial disse que "a decisão havia partido de cima". Na ocasião, chovia no local e os jornalistas foram orientados a esperarem dentro de seus carros. A Polícia Civil ainda não se pronunciou sobre o caso.