Rio - Descaso com o dinheiro público. Essa é a impressão que fica para quem trafega pela Estrada Pinheiral-Arrozal (RJ-141) ou que precisa ir à sede da Secretaria de Meio Ambiente de Pinheiral, no Sul do estado, localizado naquela rodovia, próximo à Volta Redonda. As imagens impressionam: nos arredores do prédio há uma frota inteira, com pelo menos 20 veículos, de diversos modelos – entre eles um ônibus escolar e quatro ambulâncias –, completamente depredados, apodrecendo entre o matagal e servindo de criadouro de mosquitos, como Aedes aegypti (transmissor de quatro tipos de dengue, zika vírus, chikungynya e febre amarela), e de moradia para mendigos, segundo testemunhas. Pior: mesmo completamente sucateados, os automóveis que se deterioram a cada dia, ainda são considerados partes ativas da administração municipal.
No mesmo local, no quintal da unidade, uma montanha de equipamentos obsoletos da prefeitura, equivalente à altura do teto do primeiro andar do imóvel, também chama a atenção e revolta contribuintes. São carcaças de computados, aparelhos de ar condicionados, geladeiras, mesas e estantes de escritórios, mesa de massagem terapêutica e cadeiras de rodas. Todo os bens, adquiridos com dinheiro de impostos, poderiam ter sido leiloados ou vendidos para ferros-velhos, a partir do momento que passaram a não ser mais utilizados pelo governo municipal, de acordo com especialistas.
“Deixar patrimônios municipais chegarem a esse ponto de abandono e desleixo, à céu aberto, é o cúmulo da falta de compromisso com a coisa pública por parte dos governantes”, lamentou o economista Jardielson Péricles da Conceição, que analisou as imagens, ressaltando que a venda da frota danificada poderia ter dado retorno para a compra de alguns carros novos. Estima-se, que só com leilões de carcaças o lucro poderia ter sido superior a meio milhão de reais.
Os veículos abandonados, alguns totalmente depenados e até sem motor, conforme adesivos ainda colados nas latarias, pertenciam à diversas secretarias, principalmente Saúde e Educação. Mas há também automóveis que serviam ao Departamento de Iluminação Pública e até à funerária municipal. A carroceria de um tanque de combustível, já toda enferrujada, chama a atenção, assim como as ambulâncias, duas delas doados pelos governos estadual e federal.
“Todos os dias passo pelo local e fico indignado. Aquela quantidade enorme de móveis, carros e equipamentos eletrônicos, largados ao relento, soam como um troféu à incompetência e descasos dos políticos”, desabafou X., de 43 anos, que fez vídeo e fotos, encaminhados ao DIA nesta terça-feira. As imagens também deverão ser encaminhadas por ele ao Ministério Público, junto com pedido de investigação de responsabilidades.
O OUTRO LADO
Questionada sobre o assunto pelo DIA, a administração da Prefeitura de Pinheiral, que tem Ednardo Barbosa (PMDB) como chefe do Executivo, alegou, através de sua assessoria de imprensa, que “os veículos (que aparecem nas imagens) são do governo anterior (ex-prefeito Arimathéa (PSB)”. O DIA não conseguiu falar com Arimathéa sobre o assunto até o fechamento desta matéria.
“Muitos desses veículos foram encontrados e retirados do pátio do Hospital Municipal da cidade, pela atual gestão, conforme solicitação da Vigilância Sanitária municipal”, diz um trecho da nota, que prossegue: “Informamos ainda que uma comissão de baixa já está sendo montada, para que esses veículos sejam declarados bens inservíveis, e, só assim, poderem ser leiloados”.
Em relação às denúncias de que os carros e equipamentos estejam servindo de criadouros de insetos e outros bichos, como ratos, a assessoria argumentou: “Com relação à possibilidade de larvas de mosquito Aedes aegypti, há uma equipe de Vigilância em Saúde, da Secretaria Municipal de Saúde, que periodicamente faz a avaliação (de riscos de infestações) no local”. O governo municipal não estipulou prazo para a retirada do material da sede da Secretaria de Meio Ambiente do Pinheiral.