Cidade Universitária se tornou cenário de diversos crimes, como assaltos e sequestros-relâmpagoDaniel Castelo Branco / Agência O Dia
Por NADEDJA CALADO
Publicado 22/05/2018 03:00 | Atualizado 22/05/2018 06:45

Rio - A crescente incidência de crimes violentos e a falta de uma estratégia para coibir a ação das quadrilhas que agem à vontade nos 5,2 milhões de metros quadrados do Campus da Ilha do Fundão, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), transformaram a Cidade Universitária em cidade do medo.

Ontem à tarde, mais uma vítima. Uma aluna da Nutrição foi atacada por dois bandidos, quando chegava ao bloco N do Centro de Ciências da Saúde (CCS), mesmo local onde o casal de professores foi sequestrado na sexta-feira. Além dos pertences roubados (mochila, computador e celular), ela foi levada num carro até o caixa eletrônico, para sacar dinheiro. A jovem foi liberada próximo ao Hospital Universitário, depois de 20 minutos em poder dos bandidos, que ameaçaram violentá-la.

"Temos medo quando chegamos e saímos da universidade". A frase da estudante do 1º período de Fonoaudiologia Nathália Appollinario, 19 anos, poderia ter saído da boca de qualquer uma das 80 mil pessoas que, diariamente, passam pelo Fundão. Afinal, ter medo faz parte da rotina de alunos, professores e funcionários da instituição. Em nota, a UFRJ reconheceu a gravidade da situação. "A administração central da Universidade lamenta que tenha de registrar, mais uma vez, um crime desse tipo na Cidade Universitária. O crime, brutal, é inadmissível em um campus universitário e causa indignação a toda a comunidade, em virtude da gravidade e da violência às quais os docentes foram expostos."

Entre janeiro e maio deste ano, seis casos de sequestros-relâmpagos aconteceram no Fundão. A reitoria procurou, há cerca de 45 dias, o subsecretário de assuntos estratégicos da Secretaria de Segurança, Roberto Alzir, e pediu atenção ao aumento do número de sequestros-relâmpago no campus. Na ocasião, ele se comprometeu em reforçar o policiamento nas vias. Mas nada foi feito. Na UFRJ, a segurança das áreas externas é de responsabilidade da Polícia Militar.

Raros são os alunos, professores ou funcionários que não tenham sido vítimas ou tomado conhecimento sobre um assalto, sequestro ou estupro no Fundão. "Há poucos meses, um médico foi sequestrado no estacionamento do Hospital Universitário. Outro foi rendido e levado na entrada do prédio do Centro de Tecnologia (CT). Está muito complicado", reclama a estudante do 6º período de Farmácia Caroline Teixeira, 22.

O prefeito da Cidade Universitária, Paulo Mário Ripper, disse que a área, que tem o mesmo tamanho dos bairros de Ipanema e Leblon juntos, conta com o apoio de apenas um carro do 17º BPM (Ilha do Governador) e outras quatro viaturas da Divisão de Segurança (Diseg), em situação precária. Para Gerly Miceli, coordenadora geral do Sindicato dos Trabalhadores em Educação da UFRJ (Sintufrj), "os bandidos descobriram a vulnerabilidade do campus".

Para reforçar o patrulhamento, a UFRJ tenta, desde o ano passado, aderir ao Programa Estadual de Integração na Segurança (Proeis). A Petrobras pagaria o contrato. Mas, ainda às voltas com casos de corrupção investigados pela Operação Lava-Jato, a estatal não firmou o convênio. Amanhã, a Prefeitura da UFRJ se reúne com a Divisão Anti-sequestro.

'Nos despedimos várias vezes'
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O casal de professores da UFRJ, sequestrado no campus da Ilha do Fundão, na sexta-feira, reclamou do descaso da universidade com a incidência de crimes violentos na Cidade Universitária. Eles classificaram como 'patética' a nota emitida pela instituição sobre o caso. "A administração da universidade não é vítima, é algoz. O crime não foi premeditado pelos assaltantes, nos escolheram ao acaso. Mas, foi premeditado pela UFRJ, que sabe onde e quando os crimes acontecem e não faz nada".
Os professores contaram que foram horas de tensão, quando os criminosos pediram os dados bancários e disseram que, se não estivessem corretos, eles sofreriam as consequências. "Tivemos medo de morrer até o último momento. Nos despedimos várias vezes um do outro", narrou a vítima. Eles foram mantidos reféns por nove horas, enquanto os bandidos faziam compras com seus cartões. "O último momento foi o pior. Eles disseram que iam nos libertar, só faltava um motoboy chegar com a gasolina para o carro. Aí ligaram o rádio em uma estação evangélica, com o discurso de um pastor falando sobre morte, arrependimento. Parecia que aquele discurso era para a gente, que aquela gasolina era para a gente", disse a professora. O casal foi solto em Belford Roxo.
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Após o episódio, os professores que estão há décadas na UFRJ ele desde 1988, ela desde 1996 lamentaram a falta de segurança no campus. "Os bandidos disseram que no mesmo dia havia mais duas 'equipes' para fazer o mesmo crime no campus. Duas semanas antes, soubemos de mais uns três casos semelhantes. Acontece várias vezes, semanalmente, se não todos os dias", contou o professor.

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