Rio - Cerca de 300 caminhões transportando alimentos perecíveis da Região Serrana do estado para o município do Rio foram escoltados por forças de segurança, na madrugada desta terça-feira. Após uma intensa negociação de pelo menos três horas da polícia e o Exército com os grevistas, os veículos foram liberados para seguirem viagem. Até 11h, 66 deles foram para a Central de Abastecimento do Estado do Rio (Ceasa-RJ), em Irajá, na Zona Norte do Rio. Entretanto, o número é pequeno e só atende a varejistas que compram na chamada "pedra".
Alguns produtos ainda estão com preços um pouco elevados, mas a tendência é que esse preço caia gradualmente conforme a chegada de mais carretas. A cada veículo que chega ao local, os trabalhadores fazem festa e comemoram. Entretanto, cerca de 90% das lojas da Ceasa ainda estão fechadas.
De acordo com o Waldir de Lemos, presidente da Ceasa, caso a greve acabe hoje, a central de abastecimento só deverá voltar à normalidade na sexta-feira. "Os produtos que estão chegando, estão indo para as lojas pequenas. As grandes carretas ainda não começaram a chegar. Isso, significa que as lojas grandes ainda não receberam produtos", lembra.
Nailton Silva Ramos, de 46 anos, é carregador na Ceasa há 15 anos e conta que nunca viu o mercado assim. "Eu ganho de acordo com o que entra no carro. Geralmente, eu ganho R$150,00 por dia. Hoje, com a manifestação, se eu embolsar R$50,00 é muito. Alguns carregadores não estão vindo porque não tem dinheiro. Vim para Ceasa todos os dias, mas não consegui muito coisa. Há 15 anos como carregador, nunca vi esse mercado assim. Está sendo complicado sustentar a família", conta.
Muitos produtos estão sendo vendidos na "pedra", espaço destinado a venda no varejo. A caixa de tomate, que na segunda-feira chegava a R$ 170 a caixa, hoje é vendida a R$ 120 e, dependendo da negociação, pode cair para R$ 100. Abobrinha, rúcula, couve-flor, alface, cebolinha e coentro são alguns das verduras e legumes já encontrados na Ceasa. O preço da batata caiu, mas ainda está acima do normal. Hoje ela está sendo vendida a R$ 230,00. Na última semana cada saco chegou a custar R$ 400,00. Geralmente, o produto é vendido a R$ 80,00.
Dono de um hortifruti em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, José Ronaldo, de 44 anos, disse que já não tem mais nada para vender. Segundo, ele, por conta da falta de mercadoria, teve que repassar o preço final para seus clientes. “Lá já não tinha mais nada, praticamente. A última vez que vim à Ceasa foi na terça-feira passada”, contou. Segundo o empresário, nesta terça ele pagou R$ 50,00 em uma caixa de alface. “Geralmente, pagamos R$ 20,00 por caixa. Cada vinda minha aqui gasto R$ 2 mil e levo uma caminhonete cheia de mercadoria. Hoje, com o mesmo valor não estou levando nem a metade. Espero que até sexta-feira isso tudo estava normalizado”, completou José Ronaldo.
O Centro de Abastecimento do Estado da Guanabara (Cadeg), em Benfica, na Zona Norte do Rio, também estava parcialmente reabastecido de verduras e legumes na manhã desta terça, e há a expectativa de que frutas e leite voltem a ser entregues ainda hoje. A previsão é que a situação esteja totalmente normalizada em dois dias.
Há 37 anos na Ceasa, Victorino Amaral, de 64 anos, disse que a trabalha com 40 caixas por dia de ervas finas. Hoje ele só conseguiu o produto porque um amigo trouxe escondido em um caminhão de Petrópolis. "Fiquei sem trabalhar todos os dias da greve. Só sexta e hoje que consegui alguma coisa", disse o vendedor.
"Eu não sei nem contar o tamanho do prejuízo. Eu vou ter que trabalhar vários dias para repor os dias que não trabalhei. Nesses anos todos nunca vi uma crise dessa. As contas chegam e não sei como vou pagar", falou.
Carlos Roberto Rodrigues, de 52 anos, está há mais 25 na central de abastecimento e vende por dia 90 caixas de maracujá, mas hoje só tem sete caixas para vender. Ele disse que comprou a caixa em Paty do Alferes a R$ 30, mas vende a R$ 35. "Eu tenho que juntar só um pouquinho, porque preciso pagar minhas contas. Com o pagamento do frete, não me sobra quase nada", lamentou.
A paralisação dos caminhoneiros também afetou em cheio os carregadores da Ceasa. Cada um chegava a levar para casa R$ 150, mas com a greve o valor não passa de R$ 70.
A maior produtora de ovos da América Latina, a Mantiqueira, não enviava produtos para Ceasa há cinco dias. De acordo com a empresa, hoje três caminhões já abasteceram o local com o total de 1,5 mil caixas. Uma fila com cerca de 70 pessoas se formou para comprar a mercadoria, que é comemorada a cada novo veículo que chega com o alimento.